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Estado de Minas

Falta de domínio de outro idioma barra milhares de estudantes brasileiros no exterior

Com pouco domínio de línguas estrangeiras, universitários não conseguem bolsas no programa federal que pretendia enviar 101 mil brasileiros para o exterior


postado em 22/10/2012 06:40 / atualizado em 22/10/2012 08:00

Rafael Tiveron só conseguiu sair do país depois de se dedicar mais ao inglês(foto: Rafael Tiveron/Arquivo pessoal )
Rafael Tiveron só conseguiu sair do país depois de se dedicar mais ao inglês (foto: Rafael Tiveron/Arquivo pessoal )

Do you speak english? Parlez-vous français? Hablas español? Se a sua resposta é não para todas essas perguntas ou se, simplesmente, não entendeu nada do que está escrito, você está perdendo uma grande oportunidade de estudar fora do país. A falta de domínio de outro idioma se tornou uma pedra no caminho da principal aposta do governo federal para alunos brasileiros cursarem parte da graduação no exterior. O programa Ciência sem fronteiras completa um ano este mês com um desafio: preencher as bolsas oferecidas para universidades de diversas partes do mundo. Isso porque o Brasil tem a ousada meta de mandar 101 mil alunos e pesquisadores para instituições estrangeiras até 2015, mas, se continuar no ritmo atual, as projeções não são nada animadoras. Desde o início do programa, 12.193 universitários saíram mundo afora. O Ministério da Educação (MEC) não informou o número de benefícios que foram oferecidos, mas admite: tem bolsa sobrando. Na maior federal de Minas, a UFMG, a expectativa é de que apenas um terço dos inscritos para o edital vigente seja aprovado.

Para se ter uma ideia da dificuldade, o primeiro edital do programa abriu inscrições para 7 mil bolsas em universidades dos Estados Unidos. Apenas 1,5 mil foram ocupadas, de acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes). A coordenação afirma que a barreira da língua não é a única razão e diz que também é observado se o candidato está num curso das áreas prioritárias (veja quadro), se a instituição na qual estuda aderiu ao programa, se ele se encaixa no perfil de estudante requerido pela universidade do exterior, entre outros requisitos. Mas o coordenador da Assessoria de Cooperação Internacional e Pró-reitor de Ensino Adjunto da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Wendell Sérgio Ferreira Meira, contesta.

“A maioria das vagas não é preenchida por causa do teste de proficiência. Os alunos não conseguem atingir a nota mínima no Toefl”, diz. A UFTM já enviou quatro alunos para o exterior e tem outros 20 em processo de seleção da Capes. Além disso, deve assinar convênio, em breve, com instituições da Austrália, França, Portugal, Espanha, Estados Unidos, Canadá e Colômbia. “A ideia é ter convênios permanentes, independentemente do Ciência sem fronteiras, porque depois de 2014 não sabemos o que será feito dele”, relata.

O assessor de Relações Interinstitucionais da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), Masaharu Ikegaki, também é crítico. “Esse é um problema crônico, sobre o qual já sabíamos há muito tempo e que agora está mais acentuado. Mesmo no nível superior, a dificuldade com o inglês é extremamente acentuada”, revela. A baixa proficiência na língua inglesa foi medida pelo EF English Proficiency Index (EPI), o primeiro índice que compara a habilidade do idioma entre adultos em diversos países. Dados do ano passado colocaram o Brasil na 31ª posição num ranking de 44 países pesquisados. Uma nova pesquisa deve ser publicada ainda este mês.

Masaharu Ikegaki conta que o número de inscritos para edital vigente despencou em relação às edições passadas. Foram 240 candidatos nos anteriores. Para o atual, cuja viagem está marcada para janeiro de 2013 e para o qual há universidades que exigem a proficiência, a concorrência desabou e não passou de 30 inscrições para os países de língua inglesa. “No outro edital, que abriu vagas para Portugal e Espanha, como não foi exigido o teste de habilidade, dois terços dos inscritos foram para esses destinos. Isso descaracterizou um pouco o programa, porque a ideia era mandar estudantes para países com alto desenvolvimento científico e tecnológico. Por causa disso, o governo brasileiro está refletindo sobre algumas medidas”, afirma.

Problemão
Atualmente, a Unifal tem ativos outros dois convênios com as universidades de Lisboa, em Portugal, e de Granada, na Espanha. Pelo Ciência sem fronteiras, 67 estudantes (pouco mais de 1% do total de alunos da instituição do Sul de Minas) estão fora do país. “Temos alunos de famílias com boas condições financeiras, que puderam fazer um curso de inglês. São eles que têm a oportunidade de sair. Com certeza, poderíamos mandar muito mais, mas há a barreira da língua”, relata. “O idioma é um grande obstáculo de nossos estudantes. Relatos de alunos que estão fora dão conta de que eles são muito bons, se destacam muito em relação a pesquisa, na parte técnica, mas a língua é um problemão”, acrescenta o assessor.

Um dos reprovados na primeira edição do Ciência sem fronteiras foi o estudante do 8º período de biomedicina da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) Rafael Destro Rosa Tiveron, de 21 anos. Mesmo estudando inglês desde criança, ele não conseguiu a nota mínima no Toefl para carimbar o passaporte para uma universidade dos Estados Unidos, mas não desistiu. Estudou mais um pouco até ser aprovado. E acabou indo para a Memorial University, na cidade de Saint John’s, no Leste do Canadá, onde desenvolveu um projeto sobre câncer de mama. Ele embarcou em maio e voltou em agosto, para um estágio de quatro meses.

“Quando vai para fora você vê a importância do inglês. O sistema adotado nas escolas ainda não é tão eficiente nesse sentido e, por isso, os cursos particulares ajudam muito mais. Vai do interesse de cada um, mas nem todos têm condição financeira de arcar com esse custo”, diz. Rafael conta que muitos colegas desanimaram de se inscrever quando souberam da necessidade de outro idioma. “Quem se arrisca acaba não passando, pois é muito pouco tempo de preparação”, relata. Para ele, valeu a pena todos os esforços. “É um pessoal muito disciplinado e encontrei gente do mundo inteiro. É uma experiência fantástica.”

Cursos que têm oferta de bolsas

Áreas prioritárias
Engenharias e demais áreas tecnológicas
Ciências exatas e da terra
Biologia, ciências biomédicas e da saúde
Computação e tecnologias da informação
Tecnologia aeroespacial
Fármacos
Produção agrícola sustentável
Petróleo, gás e carvão mineral
Energias renováveis
Tecnologia mineral
Biotecnologia
Nanotecnologia e novos materiais
Tecnologias de prevenção e mitigação de desastres naturais
Biodiversidade e bioprospecção
Ciências do mar
Indústria criativa (voltada a produtos e processos para desenvolvimento tecnológico e inovação)
Novas tecnologias de engenharia construtiva
Formação de tecnólogos

ONDE ESTÃO OS ESTUDANTES


Portugal: 2.343
Estados Unidos: 2.323
França: 1.078
Canadá: 1.078
Alemanha: 725
Reino Unido: 691
Itália: 477
Austrália: 320
Holanda: 217
Coreia do Sul: 102
Bélgica: 75
Finlândia: 36
Chile: 29
Suécia: 21
Suíça: 10
Dinamarca: 8
Áustria: 7
Irlanda: 6
Japão: 6
Nova Zelândia: 6
Noruega: 5
Hong Kong: 4
África do Sul: 1
Cingapura: 1
TOTAL: 12.193

SAIBA MAIS: INICIATIVA CRIADA EM 2011

O Ciência sem fronteiras foi criado em outubro do ano passado para consolidar, expandir e internacionalizar a ciência e a tecnologia, a inovação e a competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A iniciativa é voltada para estudantes da graduação e da pós, com possibilidade de estudo e estágio em diversas instituições estrangeiras. Até 2015, serão oferecidas 75 mil bolsas pelo governo federal (das quais 27,1 mil para a graduação) e 26 mil com recursos da iniciativa privada. A seleção é feita pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


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