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Estado de Minas

Escola que funcionava sob uma lona se desdobra em 11 instituições e atende 1,2 mil pessoas

As famílias dos alunos matriculados nas creches e centros educacionais também são acompanhadas por profissionais das instituições das Obras Educativas Padre Giussani


postado em 26/06/2012 08:32 / atualizado em 26/06/2012 09:22

Crianças descansam na sala de repouso da creche Jardim Felicidade, que integra as Obras Educativas Padre Giussani , no Bairro Jardim Guanabara(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Crianças descansam na sala de repouso da creche Jardim Felicidade, que integra as Obras Educativas Padre Giussani , no Bairro Jardim Guanabara (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Muitas crianças da vizinhança não iam à creche, nem frequentavam escola. Rosetta Brambilla, ou simplesmente Rosa, percebeu isso e, com sotaque forte de italiana, pediu para Etelvina Caetano de Jesus ceder o quintal de sua casa, à beira do Córrego da Onça, na favela da Vila Boa União. Ali, naquele pedacinho de terra do Bairro Primeiro de Maio, na Região Norte de Belo Horizonte, Rosa ergueu lona amarela e abriu uma escolinha em 1978. Com o miúdo salário ganho como enfermeira em um abrigo para migrantes e moradores de rua, a italiana contratou duas professoras, que lecionavam para 15 alunos de manhã e mais 15 à tarde.

A semente lançada naquele quintal germinou árvore de muita sombra e frutos doces. A escolinha abandonou a lona amarela e cresceu até se tornar, na década de 1990, o centro de educação infantil batizado com o nome de Etelvina, na mesma Vila Boa União. Mas Rosa queria mais. Capitaneou a criação de outras três creches, quatro centros de educação para jovens, dois centros esportivos e, em 2001, uma casa de acolhimento para crianças em situação de risco. Hoje, apenas a escolinha de lona amarela acolhe cerca de 130 crianças com até 12 anos.

As 11 instituições compõem o que Rosa batizou como Obras Educativas Padre Giussani, em homenagem ao homem que, na Itália, ajudou a adolescente a conhecer sua vocação para a caridade. “Descobri que meu coração era feito para abraçar o mundo, tudo e todos”, diz ela, que chegou ao Brasil em 1967. Hoje, os projetos atendem aproximadamente 1.200 crianças e adolescentes, do berço aos 18 anos. “Nosso objetivo é ajudar os meninos a olharem a realidade com olhos bonitos, olhos de Deus, e tirar para fora a beleza que têm dentro de si”, explica a fundadora, hoje com 69 anos.

As refeições também são feitas no espaço(foto: Jair Amaral/EM/DAPRESS)
As refeições também são feitas no espaço (foto: Jair Amaral/EM/DAPRESS)
As instituições estão localizadas em quatro bairros da Região Norte: Primeiro de Maio, Jardim Felicidade, Providência e Novo Tupi. As creches, também chamadas centros de educação infantil, atendem crianças de 4 meses a 6 anos. Os funcionários, do faxineiro ao diretor, são considerados educadores e orientados a tratá-las com muito carinho. “A fase mais importante para a formação humana é a que vai até os três anos de idade”, ensina Rosa. Quando atinge a idade escolar, o educando passa a frequentar a creche no contraturno, onde tem aulas de artes, como teatro e música, prática de esportes e atividades lúdicas.

No início, Rosa não pensava em instalar centros educativos para adolescentes. “Mas os meninos (ao alcançar a idade limite) não queriam ir embora, nem as mães”, lembra. Os centros, também frequentados no contraturno, oferecem um reforço escolar diferente. Em vez de matemática, aulas de raciocínio lógico. No lugar de português, lições de interpretação de texto. “Há atividades lúdicas que ajudam no desenvolvimento do talento de cada um”, define Celene Oliveira, a Dalva, diretora do maior dos quatro centros, o Alvorada, no Conjunto Felicidade.

Nos centros infantojuvenis, são realizadas oficinas de teatro, música e arte em madeira, aulas de capoeira e no laboratório de informática. Também é oferecida assistência odontológica, com o apoio da Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas. Os centros atendem crianças de 7 a 15 anos.

MERCADO DE TRABALHO O Alvorada também abraça cerca de 130 adolescentes de 15 a 18 anos, por meio do programa Aprendiz Alvorada, que busca ajudar jovens que estão prestes a concluir o ensino médio ou já se formaram a entrar no mercado de trabalho. Há 10 anos o Alvorada mantém uma parceria com o Banco do Brasil (BB), que oferta aos aprendizes empregos em agências da empresa, e está em busca de novos parceiros.

Alguns egressos dos centros acabam se empregando em instituições das Obras Padre Giussani. Na infância, Wesley Soares gostava de soltar papagaio e sair com os amigos para pichar pelas ruas do Bairro Floramar, onde morava. Já o haviam chamado para se matricular em uma das creches do projeto, mas o menino recusava. “Já tinha estado numa creche, sabia qual era a rotina. Não tinha nada para fazer”, justifica. Quando decidiu aceitar o convite, já estava em idade de ir direto para o Alvorada. “Aprendi a tocar violão e as aulas de teatro ajudaram a me expressar melhor. Era tão bom”, recorda. Wesley foi aprendiz do BB e, desde 2010, é educador do Centro Alvorada. Hoje, aos 21 anos, vai fazer o próximo vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde quer cursar pedagogia.


Acolhimento vira referência
A casa de acolhimento para crianças em situação de risco do projeto, a Casa Novella, foi criada em 2001. Abriga crianças vítimas de violência doméstica – incluindo negligência e abandono – que estão sob medida de proteção determinada pela Vara da Infância e da Juventude ou por conselhos tutelares. A equipe da instituição se ocupa também do acompanhamento psicossocial das famílias de origem. O acolhimento se estende até que se supra a situação de risco e a criança possa ser reintegrada à sua família ou adotada por novos pais.

A Casa Novella tem capacidade para 10 crianças de até 6 anos, mas atualmente atende 13, nove das quais são filhas de mães viciadas em crack. “A maioria das crianças chega com a saúde bastante fragilizada”, observa a coordenadora da instituição, Liziane Vasconcelos. Em 2004, a Novella recebeu o Prêmio Abrinq e, no ano seguinte, o Prêmio Tecnologia Social Banco do Brasil. A metodologia da instituição foi sistematizada em um livro e vem sendo replicada em outras casas de acolhimento. Desde 2008, funcionários da entidade, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social de Minas, têm capacitado profissionais em vários municípios do estado.

Às vezes, Liziane faz campanhas para arrecadar brinquedos, fraldas, roupas e outros donativos para a Novella. Desde o início, as Obras Educativas Padre Giussani dependem de doadores para seguir adiante. Atualmente, além do Banco do Brasil e da PUC Minas, o projeto social conta com o apoio do Instituto Cultural Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG Cultural), do banco de alimentos do Ceasa Minas, da Fundação AVSI, da gráfica O Lutador, e da Associazione Amici di Rosetta, formada por amigos italianos de Rosetta, e outras associações italianas. A Prefeitura de BH também ajuda bancando 60% dos custos mensais dos educandos da creche (R$ 300 por criança, em média) e 20% dos custos dos alunos dos centros infanto-juvenis (R$ 220).

Além do patrocínio de empresas, as Obras Educacionais contam com a colaboração de pessoas físicas, que podem fazer doações avulsas ou aderir ao Programa de Apadrinhamento a Distância, por meio do qual o doador (uma pessoa ou grupo) se torna padrinho de um educando e pode acompanhar seu desenvolvimento por relatórios anuais e cartas. É possível ainda apadrinhar a instituição como um todo. O padrinho se compromete a dor o valor mínimo de R$ 30 mensais durante ao menos um ano. Atualmente, o projeto tem 100 padrinhos no Brasil e 1.700 no exterior, sobretudo na Itália. A sede das Obras se localiza na Avenida Professora Gabriela Varela, 578/580, Conjunto Felicidade, em BH. Para mais informações: (31) 3408-4006 ou e-mail: contato@obraseducativas.com.br.


Famílias também são atendidas

Não apenas os alunos matriculados nas creches e centros se beneficiam das Obras Educativas Padre Giussani. Suas famílias também são acompanhadas por profissionais das instituições. Antes de a criança ou adolescente ser matriculado, um assistente social vai à sua casa. A visita ajuda a selecionar os alunos, já que a procura é maior que o número de vagas.

“Na creche Jardim Felicidade, já chegamos a ter 600 crianças na lista de espera”, informa a fundadora. Se a mãe não tiver com quem deixar o filho enquanto trabalha, tem mais chance de conseguir uma vaga. O projeto também prioriza crianças de lares problemáticos. Depois que o educando se matricula, os assistentes sociais acompanham as famílias. “Se você quer educar o menino, tem que chegar até a raiz, a família. Temos que levar em conta a história dele e abraçar seus pais. Nosso trabalho não é só pedagógico, é também social”, explica.

Um dia, um dos filhos da auxiliar de serviços gerais Maria das Dores Costa, de 41 anos, chegou à creche com um hematoma na cabeça. A diretora chamou a mãe para conversar e Maria desabafou. Depois de se viciar em crack, o marido passou a bater na mulher e nos seis filhos do casal, diariamente. Estimulada pelos profissionais da creche, Maria se encorajou e denunciou o homem, que foi preso. “Tenho as pessoas daqui (da creche) como minha família. Qualquer dificuldade, eles estão prontos para ajudar.”


Doação de si aos outros: Rosetta Brambrilla, fundadora do projeto

Fundadora das Obras Educativas Padre Giussani, Rosetta é a caçula de três irmãos. Nasceu em 1943, em Bernareggio, comuna da província de Milão, Itália. Aos 14 anos, Rosa começou a trabalhar em uma fábrica de porcelana, para ajudar em casa. Em 1961, ligou-se à Juventude Estudantil, rebatizada como Movimento Comunhão e Libertação, fundado pelo padre Luigi Giussani. Foi pelo movimento que veio ao Brasil. “Meu desejo era dar minha vida aos pobres”, diz. Em 1967, chegou a São Paulo, onde se formou enfermeira e morou em Macapá (AP), antes de se estabelecer em BH, em 1977. No início, visitava casas de pessoas de baixa renda e, à noite, trabalhava como enfermeira. Ela não teve filhos, nem se casou. “Vivo uma vida consagrada, doei a vida a Cristo”, justifica.


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