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Estado de Minas

Número de alunos oriundos de escolas públicas na UFMG está abaixo da média nacional


postado em 04/08/2011 06:00 / atualizado em 04/08/2011 15:45

Nas salas de aula da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), alunos de escolas públicas e particulares dividem as carteiras de forma mais equilibrada. A participação dos estudantes vindos das redes municipais e estaduais cresceu 12 pontos percentuais nos últimos dois anos, passando de 33% em 2008 para 45,2% em 2010. Mas, nem por isso, a principal instituição de ensino superior do estado deixou de ser um reduto elitizado. A UFMG está abaixo da média nacional no índice de participação de estudantes egressos de escolas públicas e de pessoas de baixa renda. A conclusão é da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que divulgou nessa quarta-feira um diagnóstico das universidades brasileiras no Relatório do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação.

Segundo o estudo da Andifes, o Brasil tem 50,4% dos universitários vindos da rede gratuita de ensino. Apesar de estar cinco pontos abaixo da média nacional, – que considera instituições de ensino de áreas carentes do Norte e Nordeste, mas também escolas de regiões abastadas, como o Sul do país –, a UFMG tem indicativos mais positivos que as universidades do Sudeste (41% de participação de alunos de colégios públicos). No quesito financeiro, 67% dos estudantes brasileiros têm renda familiar de até cinco salários mínimos, enquanto na universidade mineira eles representam menos da metade do público (44,9%).

A pró-reitora de graduação da UFMG, Antônia Aranha, reconhece que a inclusão de alunos carentes e vindos de escola pública na instituição é um desafio. Mas ressalta os avanços dos últimos anos decorrente da implantação do sistema de bônus no vestibular, da abertura de vagas em cursos noturnos pelo Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e da adesão ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “As políticas ainda são insuficientes, mas houve aumentos significativos. Vamos refletir sobre os dados e buscar soluções para atingirmos pelo menos a média nacional, mas não podemos simplesmente incluir os alunos na universidade. São necessárias mais políticas de assistência estudantil, caso contrário os alunos não têm condições de permanecer nas salas de aula”, explica a pró-reitora.

A jovem Tamires Roxana da Silva, de 22 anos, faz parte do time de alunos beneficiados por programas de assistência estudantil na UFMG e ressalta a importância dessa ajuda. “Eu me formei em escola pública e tive de suar a camisa para conquistar uma vaga na universidade. Mas o vestibular não é a única dificuldade. Hoje, sofro para pagar passagem para chegar à aula e comprar o material didático. Se não fosse a alimentação oferecida com desconto no restaurante universitário, eu passaria ainda mais aperto”, diz a estudante do 2º período de engenharia metalúrgica.

Tamires é uma das 5 mil estudantes beneficiadas por programas de assistência estudantil na UFMG, que oferece ações de atenção básica, como alimentação e moradia, e bolsas para inclusão digital, compra de material escolar, intercâmbio e cursos complementares. Os dois principais projetos são os restaurantes universitários, com 9,2 mil refeições servidas por dia com preço subsidiado; e a moradia estudantil, que abriga 740 alunos.

Marco Fernandes (no ponto aguardando ônibus) está entre os 40% dos estudantes das classes C, D e E que estudam na UFMG(foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)
Marco Fernandes (no ponto aguardando ônibus) está entre os 40% dos estudantes das classes C, D e E que estudam na UFMG (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS)
Ex-aluno de escola pública, Marco Fernandes Faria, de 27 anos, se considera parte do novo público das universidades federais. Estudante do 8º período de fisioterapia, ele conta que não teria condições de pagar mensalidades de uma faculdade particular. “As políticas afirmativas e as bolsas de assistência estudantil são importantes para abrir espaço para todas as classes sociais no ensino superior. Para mim, estudar numa instituição como a UFMG é a chance de conquistar um bom emprego”, diz Marco.

Políticas

A pesquisa ainda revela que, apesar da implantação de sistemas de cotas, bônus e outras políticas afirmativas nas universidades, a proporção de estudantes de classes C, D e E ficou estagnada nos últimos 15 anos. Em 1996, na primeira pesquisa do gênero, 44,3% dos alunos pertenciam às três classes sociais menos favorecidas e, no último levantamento, o número é de 43,7%, variação que está dentro da margem de erro.

A pesquisa divulgada nessa quarta-feira contou com a participação de 19,6 mil estudantes de graduação de todas as 57 universidades federais do país. Os questionários foram aplicados em 2010 e englobam, além de questões socioeconômicas, aspectos do histórico acadêmico, informações culturais e do comportamento dos alunos.

 

Saiba mais / Programa de bônus

Implantado no vestibular de 2009 da universidade, o benefício contempla alunos que cursaram todo o ensino médio e os quatro últimos anos do nível fundamental em escola pública com um acréscimo de 10% na nota final. Quem cumprir esse requisito e ainda se autodeclarar negro, tem mais 5% de aumento, totalizando bônus de 15%. Com a criação do programa, a participação de alunos da rede pública na universidade saltou de 33% em 2008 para 45,26% em 2010. O impacto do bônus é sentido até mesmo nos mais concorridos e tradicionais cursos da UFMG. No caso da medicina, 11% dos alunos aprovados no vestibular em 2008 vinham de escola pública. No ano passado, o número chegou a 37,5%. Na graduação de direito, a participação dos egressos da rede pública aumentou de 19% para 26% no mesmo período.

 

Personagem da notícia / “Enfrentei concorrência desleal”

Apoiado em muletas, o estudante Muller Marques, de 22 anos, chega ao restaurante universitário do câmpus Pampulha para almoçar e repor as energias para mais um dia de estudos na Escola de Medicina Veterinária da UFMG. Mas o seu sorriso sincero não esconde as dificuldades de ser um retrato das minorias nas universidades brasileiras. Ele faz parte do seleto grupo de 8,72% de negros que chegam ao ensino superior federal, 2,5% de alunos com acesso à moradia estudantil e 15% de universitários assistidos por programas sociais. “Enfrentei uma concorrência desleal para chegar à universidade. Disputei vagas com alunos de escolas particulares com melhor formação que a minha e também lutei contra problemas de acessibilidade física, mas não me deixei vencer pelos desafios”, diz. Para ele, estudar numa faculdade federal é a realização de um sonho e a esperança de um futuro promissor. “Na universidade, busco mais que a formação profissional. Tenho importantes experiências culturais. Acredito que agora tenho a chance de construir a base para ser um pesquisador e seguir carreira acadêmica”, planeja Muller, que tentou o vestibular da UFMG por três anos consecutivos e hoje está no 4º período do curso.


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