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Estado de Minas

Destino do goleiro Bruno no Boa Esporte deve ser decidido hoje

Contrato ainda não foi assinado e pressão de patrocinadores pode gerar reviravolta. Pressionadas pela opinião pública, empresas ameaçam cortar patrocínio ao Boa se o goleiro for contratado


postado em 13/03/2017 06:00 / atualizado em 13/03/2017 07:41

Bruno com a camisa do Boa: apresentação está prevista para amanhã(foto: Divulgação)
Bruno com a camisa do Boa: apresentação está prevista para amanhã (foto: Divulgação)
Como diz o ditado, “das duas, apenas uma”. Hoje será um grande dia para o goleiro Bruno, que pode assinar contrato com o Boa Esporte, ou será mais uma segunda-feira de decepção, com a possibilidade de o time de Varginha, no Sul de Minas, ceder às pressões de patrocinadores e desistir de tê-lo no elenco. Ontem, a holding Góis & Silva, financiadora máster do clube e que havia concordado com a chegada do atleta, mudou de ideia e, dependendo de uma reunião hoje, pode romper o contrato com a agremiação.

O mesmo pode ocorrer com a Kanxa, a fornecedora de material esportivo. Diretores da empresa vão debater o assunto, nesta segunda-feira, com possibilidade de rompimento do patrocínio. No sábado, a Nutrends Nutrition, do ramo de alimentação e que estampa sua marca no ombro da camisa do time, informou em sua página no Facebook: “A partir de hoje, a empresa não é mais patrocinadora/apoiadora do Boa”.

A nova postura do patrocinador máster se deve à enxurrada de críticas recebidas pelo grupo, especializado em adquirir empresas falidas para reerguê-las, nas mídias sociais. Por isso, um dia depois de ressaltar que Bruno merece uma segunda chance no futebol, a diretoria da holding se reuniu para debater o assunto.

O encontro ocorreu em pleno domingo. Rafael Góis, o CEO do grupo, afirmou que, por unanimidade, os diretores decidiram discutir a pauta com a diretoria do Boa “devido a tamanha repercussão negativa e comoção nacional com o ato”. Uma reunião foi agendada para as 11h de hoje.

“Nossos meios de comunicação – páginas, perfis do Facebook e mídia social –, foram enxovalhados pela opinião pública. O pessoal pedindo para rever (nossa decisão). Alguns mais eloquentes. Outros mais ponderados. Um volume muito grande. Então, na realidade, nos fez repensar. Não estamos preocupados com a mídia – se vai trazer um marketing ou não – até porque somos uma empresa de investimento e não temos um foco voltado para produtos. Mas o que realmente nos levou a considerar é o tamanho da comoção”, afirmou.

A rejeição por parte de muitos moradores de Varginha ao acerto do Boa com o goleiro fez o executivo e o grupo mudarem de ideia neste caso específico. “Nós acreditamos realmente na segunda chance, mas também somos a favor da maioria. Como, na realidade, a gente percebeu o tamanho da comoção nacional, tomamos a decisão de rever a situação”, justificou.

Também hoje, diretores da Kanxa vão se reunir com o advogado da marca para avaliar a decisão do Boa de contar com o atleta. “Temos uma parceria de cinco anos com o Boa Esporte e o contrato está em vigor até o fim do ano. Mas infelizmente eles tomaram uma atitude que não é compatível com o que a empresa espera”, disse o gerente de Marketing, Sergio Grer.

A Kanxa foi fundada em 1986 e, atualmente, fornece uniformes para 18 clubes do Brasil. Ainda segundo Grer, se o Boa desistir da contratação de Bruno, a empresa pode rever sua posição, mas tudo vai depender das possibilidades apontadas em conversa com o advogado.

O gerente também destaca que a exposição negativa da marca foi muito grande e como Bruno ainda não teve seu julgamento confirmado – a defesa aguarda apreciação de recurso contra a condenação pela morte de Eliza Samudio no TJMG – não há como dizer que o goleiro já cumpriu sua pena. “Ainda acreditamos que houve uma falta de sensibilidade com a contratação na semana do Dia Internacional da Mulher”, completou.

Veja trajetória esportiva de Bruno, interrompida com a acusação, e posterior condenação, de que ele participou do assassinato de Eliza Samudio(foto: Arte EM)
Veja trajetória esportiva de Bruno, interrompida com a acusação, e posterior condenação, de que ele participou do assassinato de Eliza Samudio (foto: Arte EM)
Já o advogado de Bruno, Lúcio Adolfo, acredita que seu cliente assinará o contrato na manhã de hoje. Na sexta-feira, antes do repúdio de patrocinadores, a programação que havia sido acordada entre o atleta e o Boa previa a assinatura do acordo para segunda-feira, com a apresentação oficial na terça-feira. “Não conheço nada de futebol, mas acho que patrocínios virão e irão”, disse o advogado.

O presidente do Boa, Rone Moraes da Costa, disse que não comentaria a pressão dos patrocinadores: “Não tenho nada para falar”. À tarde, porém, o cartola divulgou uma nota no Facebook do clube, dizendo que “o tão procurado estado democrático de direito, a sociedade justa e fiel, a vida em sociedade, segundo critérios civilizados, indicam de longa data que o criminoso colocado em liberdade deve ter atenção do Estado, atenção suficiente para que possa restabelecer uma vida em sociedade”. Ontem, o site oficial do time foi invadido por hackers criticando a contratação de um feminicida.

PRISÃO Bruno foi condenado a 22 anos e 3 meses de prisão pela morte, sequestro e ocultação de cadáver de Eliza Samudio, com quem teve um filho, Bruninho. A pena também inclui o sequestro do garoto. Ele cumpriu 6 anos e 7 meses, sendo libertado, em 24 de fevereiro, por meio de uma liminar assinada pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Superior Tribunal Federal (STF), uma vez que sua apelação ainda não foi julgada.

Hackers atacam site do clube


A repercussão da contratação do goleiro Bruno por parte do Boa Esporte tem sido bastante negativa para o clube. Ontem, até hackers mostraram o repúdio à decisão, atacando o site oficial do time. Eles deixaram mensagens de repúdio e ameaça ao clube e aos patrocinadores. “Este ato é uma demonstração de repúdio ao Boa Esporte Clube e a todos seus patrocinadores por apoiarem diretamente o feminicídio”, dizia a mensagem. “Será que os patrocinadores do Boa Esporte Clube não se importam de ter sua marca associada ao feminicídio?”, questionaram os invasores. Feminicídio é o termo que define o assassinato de mulheres por razões de ódio.

(foto: Reprodução da internet)
(foto: Reprodução da internet)
Os hackers ainda listaram todos os patrocinadores do Boa Esporte e deixaram uma ameaça muito clara: “Se continuarem apoiando esse monstro, vocês serão as próximas vítimas. Machistas não passarão!”. Na sequência, expuseram um dado sobre a violência contra as mulheres: “No Brasil, a taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres. A quinta maior do mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS)”.

Por fim, a página mostrou duas capas da Revista Placar. Uma delas, realmente veiculada, expõe uma entrevista com o goleiro Bruno. “Me deixem jogar”, disse o goleiro na ocasião, em março de 2014. Ao lado, uma montagem do que seria uma entrevista de Eliza Samudio, com a fala “Eu queria ter visto meu filho crescer”. O autor do ataque não foi identificado, mas duas espécies de assinaturas virtuais estão na página: “d4nd4r4 & x1c4”. (Guilherme Frossard)

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