Viagens de reconhecimento e a experiência do turista -  (crédito: Uai Turismo)

Viagens de reconhecimento e a experiência do turista

crédito: Uai Turismo

“Diga-me e eu esquecerei, ensina-me e eu poderei lembrar, envolva-me e eu aprenderei”

Confúcio

A frase acima é atribuída ao pensador e filósofo chinês Confúcio, que viveu entre 552 a.C. e 489 a.C. no Período das Primaveras e Outono, e acredito que, para o turismo, segue cada vez mais atual.

Em tempos de incertezas e conflitos diversos, o turismo promove encontros que criam a oportunidade de quebrar barreiras, romper preconceitos e aproximar pessoas com origens, histórias e modos de vida diferentes. Por isso, muitos pesquisadores e instituições falam também do turismo como uma ferramenta para paz e no apoio do setor ao alcance dos resultados referentes aos 17 ODS (objetivos do desenvolvimento sustentável), especialmente o ODS 17 – Paz, Justiça e Instituições fortes.

O turismo pode colaborar com uma sociedade mais pacífica e empática pois tem como base da sua ação o encontro entre diferentes, através da vivência e experiência em torno de territórios e modos de vida distintos, em um momento em que já existe a predisposição em se abrir para receber, ou ser recebido, por alguém com uma história de vida completamente diferente da sua.

Porém, a maioria das pessoas ainda não tem a oportunidade de viajar com a mesma frequência que sonha com as viagens, e por isso, os destinos precisam fazer uso da promoção e marketing dos destinos, e o uso das suas mais diversas ferramentas, para que possam chamar a atenção de turistas e ajudar na tomada de decisões, passando a ser então, objeto de desejo.

Viagens de reconhecimento

Uma das estratégias mais interessantes, e que na minha avaliação traz um efeito muito positivo, são as viagens de familiarização/ reconhecimento, sejam elas para os agentes e operadores de viagem, as chamadas famtours, sejam elas para jornalistas e, mais recentemente, influenciadores, as chamadas presstrips. No caso da famtour, o principal retorno é a inclusão ou ampliação da oferta de roteiros que incluem o destino, e os serviços ofertados, “na prateleira” das operadoras e agências de viagem, ou seja, aumento do número de turistas, da demanda por serviços e oferta em geral. No caso das presstrips, o retorno vem em matérias publicadas, relatos de experiências, direcionados ao público, à audiência dos mesmos de forma a despertar o interesse ao mesmo tempo que gera segurança sobre o destino.

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A realização destas viagens faz com que os agentes de viagens e operadores, assim como jornalistas e influenciadores, possam conhecer presencialmente a oferta do destino turístico para o qual foram convidados. Na oportunidade, os convidados conhecem os principais atrativos do destino, sua infraestrutura e oferta de serviços e, em acordo com as tendências de consumo e comportamento, vivenciam também as experiências locais. E por isso, recorro à Confúcio no começo do texto.

Com o aumento da procura por atividades e experiências turísticas que de fato permitem uma vivência diferenciada do destino, saindo bastante do padrão pasteurizado e espectador, e caminhando para uma ação mais protagonista e de forma crescente, personalizada, as viagens de familiarização passaram também a ofertar tais experiências, e assim, permitir uma conexão local diferenciada.

A frase que destaquei no início do texto, e me permitam ser um pouco simplista, remete ao fato de que, com envolvimento e participação, é viável apreender novos ensinamentos, conceitos, temáticas. E sua referência com a atividade turística, remete ao fato de que, ao ter oportunidade de encontro, de protagonismo, de conexão, amplia também a oportunidade de apreender algo distinto naquele destino e ter ali experiências realmente únicas, que serão guardadas, memorizadas, de forma diferenciada de outras práticas.

Presstrip em Belo Horizonte

Durante o Carnaval de 2024 tive a oportunidade de acompanhar cinco jornalistas da Argentina e Chile, em visita à Belo Horizonte, a convite da Embratur e Sebrae. No roteiro, atrativos turísticos âncoras para a cidade, como o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, Mercado Central e Praça da Liberdade, acrescidos de experiências gastronômicas, visitas à novos atrativos da cidade, como o mirante da Rua Sapucaí, Mercado Novo e claro, a vivência do carnaval.

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O Carnaval de Belo Horizonte é conhecido principalmente por ser diurno e cheio de blocos de rua espalhados pela cidade, com as mais variadas propostas artísticas, de maracatu a rock, de sertanejo a funk, de marchinhas a MPB. Assim, os jornalistas puderam vivenciar blocos de rua, de grande e pequeno porte, entrar no meio da bateria, conversar com os dançarinos e vivenciar a energia das ruas.

Patrício Lagos, Mercedes Sulivan, Pablo Schwarzkopf, Marina Posse e Nicolás Sánchez (Foto: Marina Simião)

Na gastronomia, foram da comida mineira tradicional às releituras da alta gastronomia e puderem ver como a cultura do belo-horizontino acontece à mesa. Seja no balcão do Mercado Central comendo fígado com jiló, seja em um café da manhã típico com broa, pão de queijo e café coado, seja no boteco, seja no menu degustação que brinca com o paladar, e todos os sentidos, fazendo com que cada um dos passos seja uma surpresa e acolhimento ao mesmo tempo.

Durante a viagem, teve conversa com moradores, com produtores do carnaval, chefs de cozinha, músicos e outros tantos perfis de pessoas que fazem, não só o carnaval, mas a própria cidade de Belo Horizonte ser cada vez mais surpreendente. E assim, ao conversar com cada um dos jornalistas, pude perceber relatos diversos, mas sempre, com destaque para a troca e o aprendizado.

Experiência do turista, única e individual

Uma falou que não imaginava que, para fazer pão de queijo, era preciso o ritual de escaldar o polvilho no preparo da massa. Um segundo, comentou que ampliou sua admiração pela música brasileira ao compreender o papel do Clube da Esquina. Outro relato, destacou o sorriso constante de quem está no carnaval, seja trabalhando, seja divertindo, mas que é algo que não é possível ter a dimensão até você chegar no meio do bloco. Um quarto, brincou que pela primeira vez, ele se sentiu especial porque, por não consumir álcool, quando participa de algum menu degustação, sempre o serviam água com gás, e aqui, ele teve um menu em que cada prato foi acompanhado por um drink, sem álcool, criado e apresentado para ele.

Todos estes relatos e experiências, que cada um dos jornalistas convidados vivenciou, será de fato particular e única. Porém, como tiveram a possibilidade de fato de serem protagonistas em cada uma das atividades propostas, criaram uma conexão diferente com o destino. O que poderá transbordar para relatos junto aos seus leitores, que desdobrará em interesse pelo destino e despertar do desejo, que por consequência pode chegar à busca de roteiros e demais serviços turísticos.

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Isso porque, por mais que tenhamos ferramentas diversas para buscar informações, propor viagens, etc, o relato de pessoas nas quais, de alguma forma, confiamos, ainda faz uma diferença grande para a tomada de decisão, seja ele em uma conversa, um blog, um jornal, um perfil do Instagram, uma busca por plataformas de comercialização, aplicativos de viagem e tantos outros.