Dengue deve atingir 1,8 milhão de brasileiros em 2026 com metade das infecções em SP
Minas Gerais preocupa os pesquisadores porque é um estado com altos números de dengue nos últimos anos e mais uma vez apresenta crescimento, conforme projeções
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lSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Brasil poderá chegar a 1,8 milhão de casos prováveis de dengue em 2026. Destes, 54% são esperados no estado de São Paulo. O próximo ano deverá ser o segundo maior em número de infecções desde 2010.
A estimativa -que considera o período de 12 meses a partir de outubro de 2025- é resultado do InfoDengue, Mosqlimate Dengue Challenge, um desafio internacional dos projetos InfoDengue e Mosqlimate, em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a FGV (Fundação Getulio Vargas).
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O estudo reuniu esforços de 52 pesquisadores da África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, do Brasil, da Espanha, dos Estados Unidos, da Itália e do Reino Unido com os objetivos de apoiar o desenvolvimento e treinamento de modelos preditivos de dengue no Brasil e melhorar as previsões de surtos com a utilização de dados climáticos e epidemiológicos.
Ao todo, 15 equipes de pesquisa participaram da ação -chamada de Sprint-com 19 modelos diferentes de previsões de casos de dengue no Brasil. As previsões foram unificadas.
As projeções mostram que o patamar será menor do observado em 2024 -quando o Brasil alcançou mais de 6,5 milhões de casos prováveis e 6,3 mil mortes por dengue- e semelhante ao de 2025, que somou 1,6 milhão de infecções e 1.761 mortos até 6 de dezembro.
Acre e Tocantins (Norte), Rio Grande do Norte (Nordeste), São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo (Sudeste), e todas as unidades federativas do Sul e do Centro-Oeste têm a expectativa de alcançar coeficiente de incidência acima de 300 casos por 100 mil habitantes, o que é considerado epidemia, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Porém, em 2026, vale ressaltar que o Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Acre e Amapá deverão ter incidência mais baixa do que a registrada neste ano. Espera-se um coeficiente maior em Santa Catarina, Minas Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Os demais terão taxas semelhantes a atual, projeta a análise.
Minas Gerais preocupa os pesquisadores porque é um estado com altos números de dengue nos últimos anos e mais uma vez apresenta crescimento, de acordo com as projeções.
"Praticamente não tinha dengue no Sul e de alguns anos para cá a região passou a ser sempre o vice-campeão de casos. Os campeões eram Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. O Nordeste, nos últimos anos, tem registrado poucos casos em relação ao Sudeste. E o Sul tem uma grande população virgem, que nunca teve dengue", explica Kleber Luz, coordenador do Comitê de Arboviroses da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e consultor para arboviroses da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), braço da OMS nas Américas e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O especialista não participou do estudo.
Na opinião do coordenador do estudo e professor da EMAp/FGV (Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas), Flávio Codeço Coelho, os investimentos em prevenção precisam continuar.
"Estamos com uma expectativa positiva para o ano que vem, porque não tem um aumento grande em relação a este ano. Climaticamente, vamos entrar em um ano tranquilo. Historicamente, com o La Niña, no clima global, temos menos casos de dengue no Brasil. Apesar de os números continuarem elevados, teremos uma folga aí, mas realmente os desafios climáticos são sérios e há um crescimento da doença em função do aumento das temperaturas médias", afirma Flávio.
"Nas cidades que não têm a experiência com a dengue, a população tende a sofrer um pouco mais. O diagnóstico é mais difícil porque os médicos locais não tem experiência com a doença e s vezes o município não está preparado para dar aquela assistência. A nossa maior preocupação no momento é essa expansão que a gente chama de interiorização da dengue. A partir dos grandes centros ela se espalha para as cidades de médio e pequeno porte", explica Flávio.
Para Kleber Luz, o Brasil não deverá ultrapassar dois milhões de casos. O infectologista chama a atenção para a possibilidade de entrada do sorotipo 3, que não causa epidemias no país há mais de 17 anos. Seu retorno é arriscado por causa da baixa imunidade da população.
A dengue é uma arbovirose transmitida pelo Aedes aegypti. A doença possui quatro sorotipos. Quando um indivíduo é infectado por um deles adquire imunidade contra aquele vírus, mas ainda fica suscetível aos demais.
BUTANTAN-DV
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou nesta terça-feira (26/12) o registro da Butantan-DV, vacina de dose única contra a dengue fabricada pelo Instituto Butantan.
As primeiras 1,3 milhão de doses serão destinadas até o final de janeiro de 2026 para profissionais da atenção primária à saúde, que atuam nas UBS's (Unidades Básicas de Saúde) e nas visitas às comunidades.
A ideia do Ministério da Saúde é ampliar a oferta no SUS (Sistema Único de Saúde) para os adultos com 59 anos e depois expandir às demais faixas etárias até chegar aos adolescentes de 15 anos.
Mesmo com a vacina, os investimentos em prevenção devem continuar, porque o Aedes aegypti também é o transmissor da chikungunya e do zika vírus.
DENGUE
Quem apresentar febre alta (38°C a 40°C) de início repentino e pelo menos duas manifestações -dor de cabeça, prostração, dores musculares e/ou articulares e dor atrás nos olhos- deve procurar uma unidade de saúde.
Passada a fase crítica, a maioria se recupera. Em alguns casos, a doença pode progredir para formas graves e óbito.
Os sinais de alarme para a gravidade são dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, acúmulo de líquidos em cavidades corporais (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico),
hipotensão postural (queda da pressão arterial ao levantar-se da posição sentada ou deitada), sensação de desmaio, letargia e/ou irritabilidade, aumento do tamanho do fígado, sangramento de mucosa e aumento progressivo do hematócrito.
Não há tratamento específico para a dengue. Repouso e hidratação são essenciais.
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Flávio Coelho reforça a importância do uso de repelente, principalmente no verão e na ocorrência de casos. "O repelente vale também se você tem suspeita de dengue, porque se a gente transmite para um mosquito, ele passa para outra pessoa. Se estiver elegível para a vacina, recomendo que o faça", finaliza o professor da FGV.