ERRO MÉDICO

Adrenalina libera vias aéreas em casos graves de laringite, mas aplicação errada pode ser fatal

Segundo os pais, Benício de Freitas piorou após receber adrenalina por via venosa

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um provável erro médico provocou a morte de um menino de 6 anos em Manaus na última semana. A polícia investiga a morte de Benício de Freitas, que deu entrada na instituição com tosse e suspeita de laringite e, segundo os pais, piorou após receber adrenalina por via venosa, quando a indicação seria por nebulização.

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Reconhecida pela tosse seca, ou "tosse de cachorro", a laringite é uma inflamação comum, sobretudo em crianças. A maioria dos casos são leves, e a adrenalina só é usada em casos graves, por nebulização, quando há risco de obstrução das vias aéreas.

Especialistas afirmam que o uso venoso da adrenalina é reservado a situações de extrema urgência, como em uma parada cardíaca. Quando aplicada em pacientes estáveis, pode causar efeitos adversos graves e até morte, como ocorreu com Benício.

O QUE É LARINGITE

A laringite é uma inflamação da laringe, região onde ficam as cordas vocais. Segundo Albert Bousso, diretor do Hospital Darcy Vargas, administrado pelo Einstein, em crianças, a tosse costuma ter som metálico, comparado ao latido de um cão ("tosse de cachorro"). Os sintomas pioram à noite, quando o ar está mais seco.

Segundo o otorrinolaringologista Guilherme Scheibel, a doença pode evoluir para quadro grave com obstrução das vias aéreas -por onde o ar entra e sai dos pulmões-, sobretudo em crianças menores. "A via aérea delas é naturalmente mais estreita. Um inchaço leve em um adulto, nelas se torna significativo", diz o médico.

Scheibel afirma que a piora pode ser rápida em infecções virais mais agressivas, exposição a ar seco, choro intenso ou esforço respiratório. Crianças com prematuridade, alergias ou doenças respiratórias têm risco maior de descompensação.

TRATAMENTO

O tratamento depende da gravidade. Segundo Scheibel, casos leves são manejados com hidratação e ambiente umidificado. Usa-se corticoide por via oral ou nebulizada.

Quando há dificuldade respiratória importante, estridor em repouso [som respiratório agudo e áspero] ou cansaço, o atendimento deve ser hospitalar. Nessas situações, a criança recebe corticoide em dose ajustada e, quando necessário, adrenalina nebulizada.

A pediatra e intensivista Anna Dominguez Bohn explica que a adrenalina precisa ser inalatória nesses casos, porque, ao agir diretamente na via aérea, contrai os vasos e reduz o inchaço da laringe.

ADRENALINA

A adrenalina é um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais. É liberada em situações de estresse e prepara o corpo para a "resposta de luta ou fuga", elevando batimentos cardíacos, pressão arterial e capacidade respiratória.

Como medicamento, é usada em emergências, em parada cardíaca e, em alguns casos, para reduzir edema das vias aéreas superiores.

Pode ser administrada por via intramuscular, intravenosa ou por nebulização. Segundo Bohn, a escolha depende da indicação clínica. "A adrenalina por nebulização é usada em sintomas que afetam a via aérea superior, como na laringite ou no pós-estubação", diz.

A adrenalina endovenosa é restrita a situações críticas. "É altamente sensível, usada em doses muito diluídas. Um erro pode causar arritmias e colapso cardiovascular", afirma. A comparação, diz ela, é semelhante ao desfibrilador: "Um choque em alguém consciente pode causar parada cardíaca, mas, no contexto certo, salva vidas".

Scheibel reforça que o risco de usar a via inadequada é grande. "A adrenalina intravenosa aumenta bruscamente a frequência cardíaca e pressão arterial. Em crianças pequenas, isso pode desencadear arritmias graves, alterações neurológicas e até colapso cardiovascular."

Após o uso do medicamento, a observação deve ser contínua. "Monitoramos saturação, frequência respiratória e batimentos. O efeito da nebulização é rápido, mas temporário", diz.

 

Os especialistas afirmam que ter uma equipe treinada e capacitada é essencial. "Erros acontecem porque a dose pediátrica é individualizada, depende do peso e exige cálculo preciso. Pressa, falha de protocolo ou comunicação inadequada aumentam o risco", afirma Scheibel.

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