Bruno Pereira - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu parecer favorável à vacina que o Instituto Butantan, em São Paulo, está produzindo contra a dengue. É o primeiro imunizante brasileiro contra a doença e o primeiro do mundo a mostrar eficácia em dose única. O acordo foi assinado nessa quarta-feira (26/11) e prevê um compartilhamento constante de dados entre Anvisa e Butantan para acelerar autorizações futuras.

Batizado de Butantan-DV, o imunizante demonstrou, nas três fases de testes, proporcionar a mesma eficácia que a vacina em uso atualmente, a Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda. “De maneira geral a proteção para dengue sintomática foi de 80% na faixa etária de 2 a 6 anos; de 78% na faixa etária de 7 a 17 anos e de 90% na faixa etária de 18 a 59 anos”, destaca o médico Alfredo Elias Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Einstein Hospital Israelita.

“Além disso, até o momento, o acompanhamento feito cinco anos após as primeiras doses mostra que essa proteção também se manteve ao longo do tempo.” 

Ao longo de 2024, a campanha de vacinação com a Qdenga teve como foco adolescentes, que deveriam tomar duas doses, com intervalo de três meses entre cada uma delas. Mas menos da metade do público-alvo concluiu o esquema vacinal. “Toda vacina que possa ser utilizada em dose única facilita a adesão e reduz muito o custo para implantação em programas de imunização. Essa é uma enorme vantagem em relação à vacina disponível atualmente”, explica Alfredo.

Quem é o público-alvo?

O imunizante está autorizado para uso em pessoas de 12 a 59 anos. Segundo a Anvisa, o público-alvo ainda pode ser ampliado no futuro, a depender de novos dados apresentados pelo Butantan. Durante os ensaios clínicos, a vacina chegou a ser testada em crianças a partir de 2 anos e teve bons resultados. Mas a agência de vigilância sanitária pediu mais documentações sobre esses testes.

Em nota, o Butantan revela que, dependendo dos resultados de novos estudos que já foram autorizados, devem ser incluídas nas análises populações de 60 a 79 anos. Se for bem-sucedida, a vacina poderá a ser a primeira contra dengue indicada para essa faixa etária. Crianças e idosos são os públicos que proporcionalmente mais morrem de dengue no Brasil.

Como a vacina funciona?

A tecnologia utilizada pelo novo imunizante é a de vírus vivo atenuado, a mesma em dezenas de outras vacinas, como as de sarampo e febre amarela. Ela oferece proteção contra todos os quatro sorotipos conhecidos do vírus da dengue.

Isso é importante porque os riscos de desenvolver uma forma grave da doença é maior em quem já foi infectado anteriormente por algum subtipo. Os casos severos podem levar a consequências irreversíveis, especialmente com complicações neurológicas, e até matar.

Quais os níveis de proteção da Butantan-DV?

O ensaio clínico de fase 3, conduzido entre 2016 e 2024, testou o imunizante em 16 mil voluntários brasileiros. Os resultados apontam uma eficácia geral de 74,7% contra dengue sintomática em pessoas de 12 a 59 anos. Isso significa que, em todos esses casos, a vacina evitou a doença. Outros desfechos foram 91,6% de redução de casos de dengue grave e 100% de queda de hospitalizações por dengue.

O mosquito Andes aegypti, além da dengue, também é o transmissor da zika e da chikungunya. Divulgação SES-MG
Os médicos alertam para que as pessoas observem os sintomas: febre alta e repentina, dores no corpo e, em casos mais graves, manchas vermelhas na pele, vômito, diarreia e sangramentos. Polina Tankilevitch pexels
O esquema da vacina contra a dengue prevê duas doses com intervalo de três meses entre as aplicações. O público alvo prioritário é entre 10 e 14 anos. Em alguns lugares, como o Rio de Janeiro, houve ampliação para até 20 anos. Divulgação Takeda
Em dezembro de 2023, a vacina contra a dengue foi incorporada ao sistema público de saúde do Brasil. A Anvisa aprovou o registro em março do mesmo ano. Reprodução TV Globo
Plantas que tenham espaço fundo entre as folhas e fiquem em áreas abertas (sob chuva) também devem ser observadas. É o caso de bromélias, que, por seu formato, permitem o acúmulo de água em suas folhas. É necessário sempre retirar essas pequenas poças da planta. Riviere rouge - Wikimedia Commons
As pessoas devem evitar o acúmulo de água de qualquer natureza, seja em vasos, pratos, tampinhas, reservatórios, etc. Um lugar onde poucos olham, mas costuma acumular água, é atrás da geladeira, naquele recipiente que fica na parte de baixo. Reprodução Record TV
As autoridades de saúde e os cientistas, porém, alertaram que o fato de dispor de um recurso que impede o avanço da doença não deve causar um relaxamento na população. Ou seja, todos devem manter as medidas de prevenção, contribuindo para que a cidade seja um ambiente adequado contra ameaças de surto. Divulgação/Prefeitura de São José dos Campos
Diante disso, os números de dengue em Niterói - diferentemente do que tem ocorrido em muitos lugares pelo país - são baixíssimos. Wikimedia Commons
Segundo os pesquisadores, o cruzamento de um macho que esteja com Wolbachia e uma fêmea sem a bactéria provoca uma interrupção no ciclo de reprodução do aedes aegypti. Agência Brasil
Explica-se: pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz retiraram uma bactéria da mosquinha da fruta, a chamada Wolbachia, e a injetaram no mosquito fêmea. Essa bactéria não prejudica o meio ambiente, mas impede que os mosquitos transmitam as doenças. Karla Tauil/Wikimedia Commons
Em 2016, o bairro de Jurujuba, conhecido pela intensa atividade pesqueira, recebeu os primeiros mosquitos modificados em laboratório para uma ação contra a dengue em Niterói. Moradores acharam estranho quando souberam que autoridades de saúde estavam soltando um bocado de mosquitos pela rua. No entanto, era o "mosquito do bem". Rodrigo Alves/Wikimedia Commons
Niterói está conseguindo impedir a proliferação do aedes aegypti usando o próprio mosquito como arma. Ou seja, o transmissor da dengue age contra a disseminação da doença a partir de uma iniciativa que teve início 9 anos atrás. Reprodução Record TV
Enquanto a vacina avança no combate à dengue, outros métodos inovadores têm demonstrado resultados. Um exemplo é o que acontece na cidade de Niterói, cidade de 482 mil habitantes no Rio de Janeiro, localizada a apenas 15 km da capital carioca, famosa pela ponte que liga das duas cidades. Wikimedia commons
De acordo com o anúncio do Governo Federal, o público-alvo inicial para o imunizante nacional será a faixa etária de 2 a 59 anos. Há também a previsão de um investimento de R$ 68 milhões em estudos para ampliar a faixa etária. Divulgação Governo do RJ
Os testes com 16 mil voluntários também apontaram eficácia e segurança da vacina prolongada por até cinco anos. Imagem Freepik
A revista científica “Lancet Infectious Diseases” publicou resultados da fase 3 de testes da vacina do Butantan. Os resultados mostraram proteção de 89% contra a manifestação grave da doença. Reprodução de TV Bandeirantes
O imunizante é o primeiro do mundo contra dengue aplicado em dose única - no momento, o país oferta a vacina para crianças e adolescentes em duas doses, com intervalo de três meses entre elas. Freepik
Em dezembro de 2024, o Instituto Butantan solicitou o registro da vacina à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Divulgação/Butantan
A partir de 2026, o Brasil terá uma vacina 100% nacional e de aplicação única contra a dengue. Segundo anúncio feito pelo Governo Federal no fim de fevereiro, devem ser fabricadas, inicialmente, 60 milhões de doses do imunizante. Divulgação/Governo de São Paulo

De acordo com um estudo publicado em 2024 no The New England Journal of Medicine, a proteção foi semelhante entre pessoas com contato prévio com a dengue e aquelas sem sorologia positiva. As reações adversas foram raras e leves; apenas três indivíduos (menos de 0,1%) apresentaram eventos adversos mais graves, como dor de cabeça, fadiga e erupções na pele, e todos se recuperaram totalmente.

A vacina já estará no SUS?

Embora seja um avanço positivo, o acordo entre a Anvisa e o Butantan ainda não garante que o imunizante entre no Programa Nacional de Imunizações (PNI), que distribui vacinas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Em nota, o Butantan afirma que a vacina “deverá ser incluída” e que já está se preparando para ter capacidade de produzir o produto em larga escala. Atualmente, o fabricante possui 1 milhão de doses em estoque e afirma ter a capacidade de produzir 30 milhões em parceria com a empresa chinesa WuXi até meados de 2026. 

Quais são os próximos passos?

O termo de compromisso prevê envio de dados adicionais à Anvisa. O acompanhamento permitirá verificar a estabilidade da proteção ao longo dos anos. O Butantan também afirmou que deve coletar novos dados detalhados sobre os estudos que já foram feitos com crianças de 2 a 11 anos para ampliar o público apto a se vacinar. 

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