Enxaqueca não se resume a uma dor de cabeça; conheça sintomas e tratamentos
De causa genética e maior predominância em mulheres, enxaqueca impacta severamente qualidade de vida e bem-estar do paciente de diversas formas
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A enxaqueca figura entre as doenças mais incapacitantes do mundo. Segundo dados da International Headache Society, afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo e possui um forte impacto socioeconômico. E, ao contrário do senso comum, a dor de cabeça não é o único sintoma da condição.
“A enxaqueca impacta a vida das pessoas em diversos aspectos. Além da dor latejante, o paciente fica mais sensível à luz, aos sons e ao barulho, sofre com náuseas e tontura e tem uma piora no sono, na atenção e na memória”, explica o neurologista especialista em cefaleia, membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC), Tiago de Paula.
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Segundo o especialista, a enxaqueca é genética, com cerca de 180 loci (locais no código genético) que predispõem à doença. “Existe também uma questão hormonal. Hormônios como o estrogênio influenciam na sensibilidade e prevalência dos sintomas. Por isso, é mais comum em mulheres”, pontua.
Mas Tiago ressalta que os fatores epigenéticos, isto é, do ambiente em que a pessoa está inserida, também possuem um impacto importante na evolução da doença. “Por exemplo, uma pessoa que tem uma vida muito intensa, está sempre exposta a estímulos, sofre com grande estresse e não dorme direto tende a sofrer com crises mais frequentes e mais graves”, ressalta o médico.
A alimentação também pode favorecer uma piora da enxaqueca, principalmente aqueles alimentos que deixam o cérebro mais acelerado, pois trata-se de uma doença relacionada à hiperexcitabilidade cerebral. "Por isso, é recomendado evitar estimulantes, como café, chocolate e energéticos, e termogênicos, incluindo gengibre e pimenta vermelha, por exemplo”, detalha o médico.
Mas o tratamento da condição vai além do manejo dos gatilhos e cronificadores da enxaqueca, podendo incluir uma série de outras estratégias para melhorar a intensidade da dor e diminuir a frequência das crises. Porém, o neurologista ressalta que os remédios para crises de enxaqueca não tratam o problema.
“Pelo contrário. Os remédios para crises são cronificadores da enxaqueca. Esses medicamentos não tratam a doença de forma efetiva e, quanto mais remédios você toma, menos eles funcionam e mais dor você sente. É um quadro conhecido como cefaleia por uso excessivo de medicamentos. Além disso, esses remédios podem prejudicar a eficácia dos tratamentos de primeira linha”, alerta o médico.
O tratamento da enxaqueca deve focar em uma abordagem global e integrada para atuar em todos os aspectos da doença, assim promovendo uma melhora rápida e devolver qualidade de vida ao paciente. “Além de mudanças na alimentação e no estilo de vida acompanhadas por nutricionistas e psicólogos, utilizamos tratamentos de primeira linha com evidência científica para a condição, como a toxina botulínica, que é aplicada em pontos nervosos específicos para reduzir a sensibilidade do cérebro a dor, ajudando, assim, no controle da enxaqueca”, diz o especialista.
O médico explica que outra opção entre os tratamentos de primeira linha são os medicamentos monoclonais Anti-CGRP, primeiros medicamentos desenvolvidos, do início ao fim, para enxaqueca.
“Eles bloqueiam o efeito do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), que contribui para a inflamação e transmissão de dor e está presente em maiores níveis em pacientes com enxaqueca”, detalha o neurologista, que acrescenta que, em pacientes com enxaqueca crônica, a combinação da toxina botulínica com os anti-CGRPs tem se mostrado mais eficaz do que o uso isolado dessas terapias.
Além disso, sessões de fisioterapia também podem ser indicadas, inclusive com o uso de dispositivos de neuroestimulação que ajudam a aliviar as crises de enxaqueca. “Essa tecnologia promove uma estimulação elétrica transcutânea do nervo trigêmeo, diminuindo a transmissão de sinais de dor e reduzindo a excitabilidade cerebral, o que contribui para a redução da intensidade e da frequência das crises”, detalha Tiago.
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A enxaqueca crônica não tem cura, mas tem controle. “A avaliação individual é essencial para recomendação do plano de tratamento mais adequado para cada caso. O médico também poderá auxiliar na identificação de gatilhos e fatores cronificadores da doença, o que é fundamental para o controle das crises”, reforça.