A diminuição da incidência dos diversos tipos de câncer e a garantia do acesso das pessoas com a doença ao cuidado integral estão entre os objetivos da nova lei -  (crédito: TV Brasil/Reprodução)

'A ciência está trazendo respostas muito rápidas e a tecnologia soluções ágeis', diz oncologista

crédito: TV Brasil/Reprodução

No próximo domingo, comemora-se o Dia Mundial do Câncer. A data celebra os avanços científicos e a inserção da tecnologia na medicina - os quais trazem diagnósticos mais rápidos e precisos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que serão cerca de 20 milhões de novos casos da doença no mundo a cada ano, com uma taxa de óbitos que se aproxima de nove milhões. No Brasil, proporcionalmente, o cenário se aproxima do que acontece globalmente, e serão registrados algo em torno de 700 mil novos casos por ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Mas mesmo com estimativas assustadoras, o oncologista clínico Enaldo Melo de Lima,
coordenador Médico Nacional do Hospital Integrado do Câncer da Rede Mater Dei de Saúde e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, é otimista quanto ao futuro: “Tenho um sentimento de esperança de que em 15, 20 anos, as pessoas até poderão ter câncer, mas a doença não vai ser mais tão estigmatizada. A ciência está trazendo respostas muito rápidas e a tecnologia soluções ágeis. Não vejo uma redução imediata dos casos da doença, mas certamente, os tratamentos que hoje estão muito avançados em comparação há 10 anos, estarão bem melhorados. As pessoas vão morrer de outras coisas, de envelhecimento mesmo”, comenta.

Enaldo diz que o câncer, na atualidade, é comparado a um problema de saúde pública mundial e alguns dos mais de 800 subtipos da doença vêm acometendo pessoas abaixo de 40 anos de idade. Ele cita dois tipos de câncer que antigamente acometiam pessoas mais velhas, mas que hoje têm ocorrido em jovens, abaixo dos 40: o câncer de intestino e reto e o câncer de pulmão, mesmo em pessoas que nunca colocaram um cigarro na boca.

“Já há dados técnicos publicados de que houve uma antecipação dessas doenças. Até alguns anos atrás, a indicação de fazer colonoscopia era acima de 50 anos. Hoje é acima de 45 anos e, ainda assim, você tem uma incidência da doença em pessoas jovens”, destaca.

Causas

O oncologista pontua que o câncer do intestino e reto ocorre, possivelmente, pelo padrão alimentar adotado pelo mundo ocidental, com enlatados, embutidos e na forma como os alimentos são conservados, com base em produtos químicos.“Esse é um fato evidente que vem ocorrendo mundialmente e acredito que a forma de alimentação levou a esse aumento dos casos da doença em jovens nos EUA, Europa, no ocidente em geral. Outro aspecto é a queima dos combustíveis fósseis em grandes centros urbanos, que está gerando mais casos de câncer de pulmão em pessoas com menos de 40 anos. Nós que vivemos em grandes cidades temos uma chance de duas a quatro vezes mais de ter câncer de pulmão do que quem mora numa cidade do interior ou num local que não tem esse mesmo nível de poluição ambiental”.

Mas além do estilo de vida, a causa de doenças como o câncer passa também pelos cuidados pessoais. Estimativas da OMS indicam que 17% dos cânceres em todo o mundo estão relacionados a vírus, um deles e o mais relevante, o papilomavírus humano (HPV). “Os casos de cânceres de cabeça e pescoço estão muito ligados ao HPV. Temos também casos gerados por hepatite, por exemplo. Por isso, é tão relevante a vacinação do HPV em jovens. Se conseguirmos cobrir a população com essa vacinação, poderemos assistir a uma queda nesse tipo de câncer. Essa é uma doença prevenível se tivemos no país um sistema que funcione de fato”, acrescenta.

Leia também: Obesidade é fator de risco para 13 tipos de câncer

No entanto, apesar dos exemplos citados apontarem um aumento do câncer entre jovens, 70% dos tumores em geral acometem pessoas acima de 65 anos; 29% em pessoas entre 30 e 64 anos; e 1% abaixo dos 30 anos de idade. O oncologista esclarece que hoje, em pessoas acima de 70 e 80 anos, muitos tumores são apenas acompanhados, pois não apresentam risco de morte para os pacientes. “O câncer de próstata e o de mama, em alguns casos de pessoas mais velhas, passam pelo que chamamos de vigilância ativa, ou seja, o médico só acompanha, não trata com quimioterapia ou radioterapia, pois a pessoa não tem risco de morrer do câncer”, explica.

Robôs, imunoterapia e HPV


Enaldo de Lima ressalta que, além da tecnologia, que permitiu novos aparelhos de detecção do câncer, os medicamentos e tratamentos avançaram de forma surpreendente, além do acesso à prevenção e controle da doença, em todo o mundo. Entre os avanços mais recentes, ele destaca as cirurgias com robôs, que apresentam uma exatidão muito mais elevada em comparação à mão humana na precisão da retirada dos tumores, e também os medicamentos à base de imunoterapia.