O ambiente on-line surge como o primeiro passo na jornada em busca de auxílio durante o processo de luto -  (crédito: mdjaff/Freepik)

O ambiente on-line surge como o primeiro passo na jornada em busca de auxílio durante o processo de luto

crédito: mdjaff/Freepik

O rompimento decorrente de uma perda ou fim de vínculo pode conduzir a um profundo estado de luto. Esse processo, longe de ser simples ou linear, é intensificado pelo tabu que envolve a temática da morte. De acordo com dados da plataforma semrush, no Brasil, o termo “luto” é buscado, em média, 368 mil vezes por mês, somando mais de 4 milhões de vezes por ano.

O ambiente on-line surge como o primeiro passo na jornada em busca de auxílio durante o processo de luto, possibilitando encontrar textos sobre o assunto, vídeos que podem auxiliar a superar a dor da perda e até mesmo espaços de terapia remota.

De acordo com a psicóloga Silvana Caetano, que coordena programas de apoio ao luto do Grupo Zelo, é muito comum que depois do falecimento de um ente querido as pessoas sejam cobradas para ficarem bem e voltarem para sua rotina, sem que estejam de fato capazes de fazer isso tão rapidamente.

Espaço para a tristeza


É preciso reconhecer os sentimentos que são esperados e naturais e dar espaço para a tristeza também quando algo tão significativo ocorre. “Não curamos dores que ignoramos ou negligenciamos e, se fazemos isto, podemos prejudicar as conquistas de cada dia na jornada de reajustamento da vida que o luto nos impõe. A perda e o luto nos desorganizam e exigem um tempo de ajustamento que é diferente para cada pessoa”, explica a profissional.

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A psicóloga acredita que quanto maior o amor, maior a dor e as terapias em grupo são espaços de legitimar o sentimento do luto e as vivências em comum. “Não é fácil abrir a ferida e expor, mas é uma experiência muito positiva. O grupo é um espaço para conversar sobre vida e morte. A maior riqueza está na empatia dos integrantes, que estão vivendo ou já viveram aqueles sentimentos e oferecem uma escuta ativa e sincera durante as trocas”, explica Silvana. “Muitas vezes temos a impressão de que ninguém consegue compreender, mas é possível sim conseguir ajuda nesses grupos”, ressalta.

A psicóloga defende que a educação para a morte seja naturalizada e incorporada na formação pela família e mesmo nas escolas, porque a evitação do tema impede o aprendizado e a preparação para um manejo mais adequado e eficiente dessas adversidades, comprometendo o equilíbrio e a saúde mental das pessoas.

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Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT)

O contexto de mortes violentas pode exigir ainda mais cuidados no processo do luto. Dados recentemente divulgados pelo Ministério da Justiça revelaram que no Brasil mais de 42 mil pessoas foram vítimas de mortes violentas intencionais (MVI). De acordo com Silvana Caetano, depois de vivenciar uma morte traumática, cada pessoa responde de uma forma, mas uma das consequências para a saúde mental pode ser o desenvolvimento de Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT). 

Entre os sintomas listados pelo Programa de Atendimento a Violência e Estresse Pós-traumático – Prove, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), estão a insônia, isolamento social, crises de ansiedade, necessidade de se esquivar do assunto, constante estado de alerta, além de sintomas físicos como taquicardia, tontura, dor de cabeça e sudorese. “Essa condição crônica pode durar meses e leva a pessoa a reviver o trauma mesmo depois de algum tempo depois do ocorrido”, acrescenta Silvana.

“Pessoas nessa situação precisam buscar acompanhamento profissional para avaliação da melhor abordagem terapêutica para lidar com a situação e aliviar todos esses sintomas”, completa a psicóloga.