SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O HIV (vírus da imunodeficiência humana) é conhecido por se recombinar e conseguir escapar assim do sistema imunológico dos hospedeiros, fugindo também da ação de drogas e anticorpos.

 



Essa é uma das razões que torna tão difícil a obtenção de uma vacina anti-HIV, justamente porque um mesmo indivíduo infectado pode carregar dezenas de variantes distintas.

Mas a relação entre as formas recombinantes do HIV no corpo humano e a carga viral durante a infecção nunca foi compreendida totalmente. Até agora.

Um novo estudo identificou uma associação entre a maior carga viral em um indivíduo com a taxa de recombinação do vírus. Este seria um dos agentes de evolução viral.

 

A pesquisa, assinada por Elena Romero, do departamento de Ciências Genômicas da Universidade de Washington, e Alison Feder, do Centro de Câncer Fred Hutchinson (Seattle), foi publicada nesta quarta-feira (10) na revista Molecular Biology and Evolution.

 

As autoras partiram de uma hipótese a partir de estudos observados em animais em laboratório e órgãos em placas, onde a co-infecção de múltiplas variantes do vírus nas células favorece a recombinação destas diferentes formas do vírus. A recombinação é a mistura de material genético de duas ou mais cepas do HIV, resultando em maior variabilidade genética.

 

A outra forma de aumentar a diversidade é pelas mutações que ocorrem com a replicação do vírus nas células, que ocorre em taxas já bem conhecidas dos estudiosos.

 

De acordo com a pesquisa, em indivíduos com uma maior carga viral a variedade de populações do HIV nas diferentes células (chamados virions) contribui para o surgimento de novas variantes. Isto ajuda a determinar a evolução do vírus, com o surgimento de formas que conseguem escapar de maneira mais eficaz da ação dos coquetéis anti-retrovirais.

 

O estudo encontrou uma taxa de recombinação em indivíduos com carga viral elevada até seis vezes superior à observada em amostras normais do vírus.

 

Em seguida, elas compararam a carga viral de dez pessoas convivendo com HIV há 6 a 12 anos e que tinham a taxa de vírus no organismo medida periodicamente. O participante 1, indicado como aquele com a carga viral mais elevada, apresentou a maior variedade genética das cepas de HIV no organismo; o mesmo foi observado com os participantes 3, 4 e 7, que também tinham cargas virais elevadas.

 

É importante notar que em pessoas que convivem com HIV apresentam uma diversidade também da carga viral no próprio organismo ao longo do tempo, o que vai depender, por exemplo, se o vírus é controlado por antivirais, do tempo desde a infecção, dentre outros.

 

A técnica apresentada no estudo pode ajudar no desenvolvimento de novos testes mais eficazes para a detecção da carga viral e de variantes do HIV presentes no organismo.

 

Confirmando observações de outros estudos in vitro (em laboratório), a pesquisa é a primeira evidência de como a variação intra hospedeiro (no mesmo indivíduo) é um fator determinante de recombinação viral em humanos.

 

As pesquisadoras reforçam, porém, que a associação encontrada é de correlação, mas não é possível determinar uma associação causal, uma vez que os fatores que levam à variabilidade genética não podem ser explicados só pelo número de cópias do HIV.

 

O estudo incluiu também um número reduzido de participantes (10), que embora não estejam em tratamento, têm o vírus controlado no organismo, o que pode também apontar caminhos para pesquisas sobre remissão do HIV.

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