Os primatas que nasceram das experiências sobreviveram por pouco tempo, mas os cientistas buscam aperfeiçoar a técnica   -  (crédito: AFP)

Os primatas que nasceram das experiências sobreviveram por pouco tempo, mas os cientistas buscam aperfeiçoar a técnica

crédito: AFP

Pela primeira vez, estudiosos da Academia Chinesa de Ciências conseguiram clonar o macaco Rhesus, muito utilizado em pesquisas por causa da sua semelhança com humanos. Para o trabalho, detalhado terça-feira (16/1) na revista Nature Communications, os cientistas melhoraram a técnica que deu origem à ovelha Dolly, conseguindo, assim, criar o macaco nomeado Retro, que tinha pouco mais de dois anos quando a publicação do estudo estava sendo preparada.

Os primatas são considerados difíceis de clonar, e os pesquisadores superaram anos de fracasso ao substituir as células clonadas que se tornariam a placenta pelas de um embrião normal. Os cientistas concentraram-se no objetivo para obter mais clones dos animais e estudar uma série de doenças, bem como testar medicamentos.

Apesar de o animal ter sobrevivido, estudiosos apontam para uma baixa taxa de sucesso, além de levantar questões éticas em torno do procedimento. Desde a criação histórica da ovelha Dolly, que usou a técnica de transferência nuclear de células somáticas (SCNT) em 1996, mais de 20 animais diferentes foram feitos usando o processo, incluindo cães, gatos, porcos e gado.

Técnica de transferência

Duas décadas depois, os cientistas conseguiram clonar os primeiros primatas usando SCNT. Dois macacos, do gênero feminino, comedores de caranguejo idênticos, Hua Hua e Zhong Zhong, foram criados usando SCNT, em 2018, por estudiosos do Instituto de Neurociências da Academia Chinesa de Ciências, em Xangai. Mas esse estudo, liderado por Qiang Sun, do instituto, teve apenas 2% de nascidos vivos.

Qiang Sun também foi autor sênior da nova pesquisa. Ele relatou à AFP que a equipe pesquisou extensivamente sobre os motivos pelos quais as tentativas anteriores para clonar o macaco rhesus (Macaca mulatta) falharam.

Em outro ensaio, um macaco, entre 35 embriões implantados, nasceu vivo, mas morreu em menos de um dia. Qiang disse que um dos "principais problemas" era que as placentas dos clones apresentavam anormalidades em comparação com as da fertilização in vitro.

Assim, os pesquisadores substituíram as células que mais tarde se tornariam a placenta, chamadas de trofoblasto, pelas de um embrião saudável e não clonado. A técnica "melhorou muito a taxa de sucesso da clonagem por SCNT" e levou ao nascimento da Retro, disse Qiang.

Para o procedimento SCNT, os cientistas tiram o núcleo de um óvulo saudável e depois o substituem por outro núcleo de outro tipo de célula do corpo. O embrião cresce na mesma criatura que doou o núcleo substituto. Um macaco rhesus chamado Tetra foi clonado em 1999 usando uma técnica diferente chamada divisão de embriões, que só pode produzir quatro clones de uma só vez. Qiang enfatizou que clonar uma pessoa seria "inaceitável" em qualquer circunstância.

Salmo Raskin, geneticista e diretor do laboratório Genetika, em Curitiba, no Paraná, lembrou que quando a Dolly foi clonada, os cientistas sabiam que os embriões produzidos sem fertilização estariam associados a problemas "principalmente da placenta, pois a geração não é da maneira pela qual o desenvolvimento embrionário ocorre normalmente".

Segundo Raskin, o que afeta a eficácia do procedimento são as mudanças na epigenética. "Alterações na genética que não são devidas ao DNA, um outro problema é o imprinting genético, que exige que o embrião tenha metade do material genético herdado do pai, a outra da mãe e que passe pela fertilização."