O esforço de Lula para tentar apresentar Haddad como um ministro não gastador
O controle de gastos é a área com a pior avaliação no governo e o presidente se empenha em mudar essa imagem para alavancar uma possível candidatura do titular da Fazenda
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Fernando Haddad afirma que não quer se candidatar em 2026, mas não diz que é uma decisão definitiva. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja que o ministro da Fazenda participe das eleições, também não dá a situação como definitiva e joga a conversa para o próximo ano. O PT espera que Haddad atenda mais uma vez à vontade de Lula e se lance na disputa nas urnas.
O fato é que o presidente está em campanha por Haddad e se empenha em desfazer a imagem de governo sem responsabilidade fiscal e, ao mesmo tempo, mostrar um governante negociador, que foi capaz de aprovar toda a pauta econômica de interesse do governo em um Congresso adverso. Nos planos do partido, o ministro pode concorrer à sucessão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou ao Senado.
A disputa pelo governo seria dificílima, pois o PT nunca elegeu um representante para comandar o estado e, se Tarcísio desistir de disputar o Planalto, aparece como franco favorito em todas as pesquisas. Para uma das vagas no Senado, Haddad lidera as consultas de opinião, mas até agora também não demostrou entusiasmo em relação a essa possibilidade.
No café da manhã com jornalistas nesta quinta-feira, 18, o presidente falou de estabilidade fiscal, econômica, jurídica, social e previsibilidade. “É tudo à luz do dia e tudo conversado com o Congresso Nacional. Acho que o Congresso nunca teve tanta reunião com ministro brasileiro, sobretudo com o ministro da Fazenda como tem agora, para aprovar as coisas”, disse Lula na conversa com a imprensa.
“E pasmem aqueles que acreditavam que as coisas não iam dar certo, porque a extrema-direita tinha eleito muitos deputados e, nós, com poucos deputados, conseguimos aprovar 99% de tudo que o governo mandou de interesse econômico para o Congresso Nacional, a começar pela reforma tributária que ninguém acreditava”, disse o presidente.
O presidente leva em consideração que o controle de gastos é a área mais mal avaliada do governo e tenta mudar essa imagem. Pesquisa divulgada na terça-feira, 16, pelo Ipsos-Ipec mostrou que, para 50% dos eleitores, a condução dos cortes de gastos públicos é ruim ou péssima. Apenas 19% a consideram ótima ou boa. Setores do empresariado brasileiro também apontam o aumento das despesas federais como o ponto fraco do terceiro mandato do petista.
O semblante
Lula dedicou boa parte de sua explanação inicial a elogiar o ministro. Quando foi questionado sobre a candidatura, encarou o ministro esperando uma sinalização positiva. “Eu quero ver o semblante dele”, brincou, antes de dar sua resposta.
O sinal de Haddad veio na forma de uma expressão visivelmente constrangida, de quem já avisou o presidente que não quer entrar na disputa em São Paulo. Lula mostrou ter paciência para esperar até o próximo ano para essa definição. “Tem coisa que precisa ser construída”, disse o presidente.
“Todos vocês sabem da minha relação com Haddad, todos vocês sabem do apreço que eu tenho pelo Haddad e vocês sabem que o Haddad tem maioridade e biografia para decidir o que ele quer fazer. Se você perguntar para mim, eu gostaria ele fosse. Mas eu não sei, eu tenho que perguntar para ele”, contemporizou. “Mas eu acho que é impossível você imaginar que uma pessoa da envergadura do Haddad, deixar o Ministério da Fazenda e voltar para casa. Acho que nem eu e nem a Ana Estela (mulher do ministro) iríamos gostar”, disse o presidente, tentando descontrair o ambiente.
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A decisão de deixar o governo no início do ano que vem já foi tomada pelo ministro, mas ele quer se dedicar a coordenar o programa de governo de Lula. O problema é que o presidente e o PT insistem em ter nomes fortes na disputa em São Paulo. Haddad é um desses nomes. Além dele, outro nome citado é o do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) que quer continuar como vice, mas que vem sofrendo pressões do grupo político para ser candidato.