Retirada de Glauber do plenário: as perguntas ainda não respondidas por Motta
Presidente da Câmara não explicou os fatos relacionados ao cerceamento do trabalho de jornalistas na noite de terça-feira, 9. Associação Brasileira de Imprensa vai acionar a PGR e o Conselho de Ética
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Os episódios relacionados à retirada do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) ainda produzem desdobramentos no Congresso e, também, podem chegar à Justiça. Os atos violentos contra o parlamentar e o cerceamento do trabalho da imprensa no início da noite de terça-feira, 9, continuam sem explicações das autoridades.
Nesta quinta-feira, 11, a Câmara divulgou nota para se posicionar sobre os fatos. “O presidente da Câmara, Hugo Motta, lamenta os transtornos causados aos profissionais de comunicação e reafirma que não houve intenção de limitar o exercício da atividade jornalística. As informações apresentadas pelos jornalistas serão incorporadas à apuração em andamento a fim de identificar eventuais excessos nas providências adotadas ao longo do processo de retomada dos trabalhos”, afirma o comunicado.
A nota informou que, diante da ocupação da cadeira na mesa diretora pelo parlamentar, o presidente da Câmara determinou a imediata suspensão da sessão, anúncio formalizado pelo primeiro-secretário da Câmara, deputado Carlos Veras (PT-PE). “Assim, a TV Câmara passou a transmitir a reunião da Comissão de Saúde, procedimento técnico de praxe”, informou.
Motta, no entanto, ainda deixou uma série de perguntas sem respostas sobre os fatos da terça-feira. Ele não revelou quem deu a ordem para que a Polícia Legislativa retirasse do plenário e das galerias todos os jornalistas credenciados que cobriam a sessão. Também não informou quem mandou a Polícia Legislativa partir para a agressão de jornalistas no Salão Verde, onde os profissionais aguardavam a passagem de Glauber, depois de retirado à força do plenário. Falta, ainda, esclarecer quem mandou cortar o sinal da TV Câmara para que as cenas de truculência não fossem transmitidas nem registradas.
Convidou, mas não apareceu
No fim da manhã da quarta-feira, 10, os jornalistas que cobrem a Câmara foram chamados para uma reunião com Motta, marcada para as 15h30. A convocação, feita pela assessoria, falava em um encontro com uma comissão de cinco profissionais para “tratar dos acontecimentos de ontem”. Os repórteres se organizaram e conseguiram ampliar a lista para 12.
Na sala de reuniões da presidência, foram recebidos apenas pela assessoria de Motta, que tinha um recado: o presidente receberia só cinco — e não ali, mas na Residência Oficial, às 16h30. O grupo resistiu ao novo formato e insistiu em manter o número ampliado. Minutos depois, veio a informação de que Motta estava em outro compromisso e não poderia mais participar. Nesta quinta, 11, Motta prometeu novamente receber os representantes da imprensa.
Reação
Nesta quinta-feira, 11, ao participar de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado para tratar sobre liberdade de imprensa e violência contra jornalistas no Brasil, o presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Octávio Costa, informou que a entidade vai acionar a PGR (Procuradoria-Geral da República) e o Conselho de Ética da Câmara contra Hugo Motta.
Segundo Costa, Motta “não sabe a importância do jornalismo” para a democracia. “O trabalho de relato dos fatos, de relato da verdade, de compromisso com a verdade que o jornalista tem, compromisso com a ética, incomoda muita gente. E pelo visto incomoda muito o presidente da Câmara”, disse Costa.
Na terça, a Abraji “Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo” também repudiou o tratamento dispensado aos profissionais de imprensa. “A Abraji considera inaceitáveis a censura imposta à imprensa pela Câmara dos Deputados e a violência contra jornalistas e parlamentares. Uma sociedade democrática não pode apresentar espetáculos grotescos de autoritarismo como o presenciado no início da noite desta terça-feira, 9 de dezembro, na Casa do Povo”, diz a nota.
“É importante que o presidente da Câmara entenda que ‘proteger a democracia’ inclui garantir acesso a informações de interesse público e o exercício do jornalismo. Disse o presidente que a ordem de censura e agressão não partiu dele, o que causa ainda mais espanto porque seria impensável que, sem suas ordens, o sinal da TV Câmara fosse cortado e os jornalistas expulsos de uma sessão plenária na Casa do Povo. Também é inaceitável que pessoas sejam agredidas dentro da Câmara por agentes da própria Casa”, diz a nota da Abraji.
Na terça, a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal repudiaram as ações contra os profissionais da imprensa e o desligamento do sinal da TV Câmara. O comunicado classificou o episódio como “censura” e comparou o cerceamento ao trabalho dos jornalistas ao período da ditadura.
“A Fenaj e o SJPDF consideram extremamente grave o cerceamento ao trabalho da imprensa e à liberdade e ao direito de informação da população brasileira. Mais grave ainda são os episódios de agressões físicas a profissionais da imprensa, que levam informação sobre o funcionamento da casa legislativa à sociedade brasileira”, diz a nota.