Haddad entra em cena para defender a política de segurança de Lula
Ministro da Fazenda dedicou as últimas semanas a apresentar as estratégias do governo para o combate à macrocriminalidade, com discurso que chega ao setor econômico e faz contraponto aos ataques feitos pela oposição em uma área sensível para o PT
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Desde o início do governo, o ministro Fernando Haddad incorporou à rotina rápidas entrevistas coletivas na entrada e na saída do Ministério da Fazenda. As conversas com repórteres na portaria, uma tradição seguida por muitos dos seus antecessores na pasta, servem para o ministro comentar as variações do dólar, dos juros e da inflação, o sobe e desce das bolsas, dar cenários do mercado e expor metas e posições do governo Lula na economia.
Nas últimas três semanas a temática das entrevistas foi sensivelmente alterada. O ministro apresentou números de apreensões de cocaína, armas, tráfico humano, redes de investigação entre países, violência e insegurança no Brasil. No conjunto, Haddad entrou na pauta da macrocriminalidade transnacional, termo jurídico crimes em larga escala, sofisticados e organizados, que atingem setores estratégicos da sociedade, como administração pública, sistema financeiro e ordem socioeconômica. Enquadram-se nessa definição práticas como corrupção sistêmica, lavagem de dinheiro, tráfico internacional de drogas, crimes contra o sistema financeiro e grandes esquemas de fraude.
A mudança está diretamente relacionada aos conflitos entre os poderes e ao enfrentamento político-ideológico eleitoral antecipado entre esquerda e direita para as eleições de 2026. Haddad trata desses temas desde quando foi prefeito de São Paulo e nas campanhas para presidente, em 2018, e para governador, em 2022. Agora, o assunto deve ficar mais recorrente em suas agendas. As entrevistas, discursos e reuniões para tratar do combate ao crime organizado e de políticas implementadas por Lula para a segurança são parte de uma estratégia de reação aos ataques contra o governo na área – de competência natural do Ministério da Justiça e Segurança Pública, do ministro Ricardo Lewandowski.
Desde a ação das polícias do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho com 121 mortos no final de outubro, o presidente cobra dos ministros mais próximos uma resposta às críticas de aliados de Jair Bolsonaro à área de segurança dos governos petistas. Haddad se tornou então uma espécie de “porta-voz” para a área da segurança, ao lado de Lewandowski.
O ministro da Fazenda abriu e encerrou a última semana tratando de segurança e do combate ao crime organizado. Na reunião temática do Planalto na segunda-feira, 1, ele foi escalado junto com o ministro da Justiça e os três ministros mais próximos do gabinete, Rui Costa (Casa Civil), Gleisi Hoffman (Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Secom), para definições para a área.
Na sexta-feira, 5, Haddad discursou em evento do Conselhão ao lado de Lula e enfatizou apreensões das forças de segurança nas fronteiras, nas duas últimas semanas, além de listar presos e números de apreensões da polícia. “Aprendemos três toneladas e meio de drogas, sendo 600 quilos de cocaína, mais de mil armas foram salvas do crime organizado”, afirmou o ministro.
Um dia antes, ele recebeu o representante diplomático interino dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, para discutir uma cooperação formal com o Brasil para o combate ao crime organizado transnacional – tema tratado por Lula e Donald Trump, no último encontro. Nome do PT para governador de São Paulo ou senador em 2026, o ministro defendeu a PEC da Segurança, criticou as alterações da oposição no projeto de lei Antifacção e fez um alerta aos congressistas sobre os riscos da lei de ser “utilizada pelos advogados do andar de cima do crime organizado para obter vantagens no Judiciário”. As duas propostas são medidas do Planalto.
“Vocês devem tá até estranhando o fato de um ministro da Fazenda estar falando de segurança pública, porque talvez seja a primeira vez”, observou, em uma das entrevistas de rotina aos jornalistas. “Justamente pelo fato de que nós estamos colocando todo o aparato da Fazenda Nacional à disposição das forças de segurança”, explicou. Parte do plano de tratar o assunto – de alto interesse do eleitorado – passa por 2026, ano de eleição e de disputa em São Paulo. Outra parte tem objetivo imediato: responder ao Congresso e à oposição. O ministro é o principal nome do partido na disputa com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a direita – seja na disputa pelo governo do estado ou para o Senado.
O tema da segurança é sensível para o PT. O desafio do partido foi exposto em encontro no Rio, semana passada, com bate-boca em reunião do partido no Rio para discutir a segurança pública. Clima que mostra o tamanho do desafio da legenda para 2026.