De frente para o Planalto, Bolsonaro tenta reviver cercadinho para se defender
Ex-presidente visitou o filho Flávio no Senado e deu entrevista na portaria do Anexo II para negar culpa nas acusações. Ele também responsabilizou Lula pela taxação de Donald Trump
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Jair Bolsonaro esteve no Senado nesta quinta-feira, 17, para um giro político restrito ao seu círculo mais fiel. O ex-presidente subiu ao gabinete do filho senador, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por volta das 10h, acompanhado de seguranças. Usava calça jeans escura, camisa polo verde bandeira e uma jaqueta lisa. Cerca de meia hora depois, ele desceu para uma entrevista coletiva na portaria do Anexo 2.
Um púlpito foi montado sob a marquise do prédio. De frente para o Palácio do Planalto, Bolsonaro tentou reviver o clima de cercadinho, apelido das entrevistas que dava na portaria do Palácio da Alvorada para atacar a imprensa, Judiciário e adversários políticos. Repórteres, fotógrafos e cinegrafistas se agruparam para ouvi-lo. Ao lado de Flávio e dos deputados Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Hélio Lopes (PL-RJ), ele voltou a repetir discursos já conhecidos.
O ex-presidente reclamou da “injustiça” de estar inelegível, atacou o STF (Supremo Tribunal Federal), defendeu o presidente Donald Trump e culpou o governo Lula pelo aumento de impostos. Disse que foi vítima de perseguição, negou a tentativa de golpe após as eleições e afirmou que sua condenação não tem “provas materiais”. “Acabei de mostrar que não houve tentativa de golpe. Quem diz isso é o advogado do Lula”, afirmou.
Ao longo da fala, Bolsonaro repetiu argumentos usados em redes sociais e transmissões ao vivo. Tentou reforçar a imagem de vítima, criticou o avanço das investigações contra ele e atacou decisões do ministro Alexandre de Moraes, a quem acusou de “interferir no Congresso” após o Supremo derrubar a desoneração do IOF. Também voltou a exaltar a relação com Trump e disse que a atual política externa brasileira tende a isolar o país.
Em um momento da entrevista, Bolsonaro foi interrompido por um popular que passava pelo local e o questionou em voz alta sobre sua responsabilidade pelos atos de 8 de janeiro. O ex-presidente não respondeu e seguiu falando, mantendo a postura de ignorar críticas enquanto reforçava seu discurso para o público conservador.
A presença de Bolsonaro no Congresso já não atrai tanta gente como no tempo em que era presidente. À medida que o julgamento se aproxima, a tensão aumenta e os apoios dos políticos ficam mais escassos. Apenas o filho senador e os dois deputados do PL se postaram a seu lado na conversa com a imprensa. Não havia claque e nenhum parlamentar do Progressistas ou do Republicanos, por exemplo, partidos que o defendem, apareceu com o ex-presidente nesta vista.