O reforço das empresas americanas ao coro contra medidas do governo Trump
Pressão de custo pode agravar cenário de inflação nos Estados Unidos, que já preocupa analistas. Em 12 meses, índice ao consumidor sobe de 2,4% para 2,7%
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Os desdobramentos econômicos da crise política iniciada pelo tarifaço imposto presidente Donald Trump a produtos do Brasil vão, aos poucos, se transformando num reforço à estratégia do governo brasileiro para tentar reverter a medida. Enquanto industriais discutiam alternativas com ministros e técnicos de seis ministérios, em Brasília, uma nota conjunta de entidades representativas de empresas americanas que vendem, compram e investem no Brasil reforçou o coro contra a decisão do governo dos Estados Unidos.
Com o peso de 6.500 pequenos empresários norte-americanos que dependem de produtos importados do Brasil, e também de 3.900 empresas que investem no país, a Câmara dos EUA e a AmCham Brasil (Câmara Americana de Comércio no Brasil) fazem apelo por “negociações de alto nível para evitar implementação de tarifas prejudiciais”. A carta, divulgada na manhã desta terça-feira, 15, destaca ainda que “impor tais medidas em resposta a tensões políticas mais amplas corre o risco de causar danos reais a um dos relacionamentos econômicos mais importantes dos Estados Unidos e estabelece um precedente preocupante”.
Ao tarifar as vendas brasileiras para os EUA, Trump afeta “produtos essenciais para as cadeias de suprimentos e consumidores dos EUA, elevando os custos para as famílias e reduzindo a competitividade de setores-chave da indústria americana”, afirmam as duas entidades.
Os dados da inflação nos EUA começam a refletir a política protecionista do presidente Trump anunciada desde fevereiro. A inflação ao consumidor acumulada no período de 12 meses terminado em junho subiu para 2,7%. “Olhando para a frente, com crescimento da economia ainda forte, mercado de trabalho apertado, dólar fraco e as tarifas, o cenário preocupa”, diz um analista de um grande banco norte-americano. A inflação é um problema para Trump, em especial, para a população de menor renda que ele quer agradar.
O impacto da taxação sobre o Brasil contribui para agravar esse quadro. Além disso, se soma ao fato de que os americanos vendem mais produtos e serviços para o Brasil do que compram, reforçando a tese de que a tarifação não tem base técnica e de que trata-se do uso de questões políticas e internas do Brasil para tentar tirar vantagens nas negociações.
Além da regulamentação do mercado para as chamadas big techs, que afeta empresas americanas como Google, FaceBook (Meta), Amazon e Apple que operam no Brasil, Trump tem interesse em abrir o mercado brasileiro para a indústria de etanol americana, que compôs a base de sustentação da sua campanha eleitoral para chegar a presidente dos EUA.