Após quatro horas da reunião extraordinária da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para tratar da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 24/2023 realizada na noite desta quinta-feira (23/10), a deputada Leninha (PT) pediu que a reunião fosse encerrada por falta de quórum, já que apenas os deputados estaduais de oposição estavam no Plenário.
O presidente Tadeu Martins Leite (MDB) pediu para o deputado Gustavo Santana (PL) fazer a chamada dos parlamentares. O deputado iniciou a chamada de forma bem lenta, dando tempo para que os deputados da base do governador Romeu Zema (Novo) tivessem tempo para retornar ao local.
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Ao final, marcaram presença 54 deputados, que passaram a ouvir gritos de ordem pelos manifestantes que ocupam as galerias da Casa. Com isso a sessão prosseguiu.
O Bloco Democracia e Luta vem buscando obstruir a votação da PEC que prevê retirar da Constituição de Minas Gerais a consulta popular para autorizar que empresas estatais sejam vendidas. O governador Zema defende a privatização da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).
A oposição está, ao longo da semana, adotando manobras para adiar o máximo a votação e aumentar a pressão sobre outros parlamentares. A reunião ainda deve se prolongar até às 23h30. Outras sessões foram convocadas para a madrugada desta sexta-feira (23/10), uma à 00h01 e outra às 06h, para garantir a votação.
A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) reconheceu que a tendência é que a mudança constitucional seja aprovada, mas que ela não será "responsável pela piora na qualidade do serviço prestado".
Entenda a PEC 24/2023
Atualmente, a Constituição de Minas Gerais determina que qualquer tentativa de privatizar empresas estatais precisa ser submetida à população por meio de um referendo. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, no entanto, acaba com essa exigência e deixa somente aos deputados estaduais o poder de decidir sobre a venda dessas companhias.
Originalmente, o texto incluía também a Cemig e a Gasmig, mas um substitutivo aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em setembro restringiu o alcance à Copasa e à Copanor (Companhia de Saneamento Integrado do Norte e Nordeste de Minas Gerais), responsável pelo abastecimento no Norte e Nordeste de Minas.
O fim do referendo popular, criado durante o governo de Itamar Franco como uma salvaguarda em meio ao processo de privatizações da década de 1990, abre caminho para o plano do governador Romeu Zema (Novo) de vender a Copasa. O objetivo é levantar recursos para que o estado possa aderir ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), do governo federal.
A estratégia da gestão mineira é usar o valor obtido com a venda da Copasa, além da federalização de ativos como a Comig —que já teve a transferência de controle autorizada pela Assembleia— para amortizar 20% da dívida estadual, atualmente estimada em R$ 172 bilhões. Com isso, Minas passaria a ter o saldo restante parcelado por até 30 anos, com juros menores, o que daria fôlego às contas públicas.
A PEC, de autoria do próprio governador, chegou ao plenário após cumprir, em apenas três dias, as seis sessões regimentais de discussão. Todas foram abertas e encerradas em questão de minutos, apenas para viabilizar a contagem necessária de encontros. O regimento da Assembleia permite que, após esse rito, o texto possa ser votado na sétima reunião, mesmo diante de obstruções.
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Por exigir maioria qualificada para ser aprovada, a proposta levou o governo a intensificar a articulação com sua base aliada e acelerar a tramitação antes do feriado legislativo previsto para a próxima segunda-feira (27/10). Desde o início da semana, a oposição tem recorrido a manobras regimentais para atrasar a votação e tentar pressionar parlamentares indecisos.
