Bolsonaro convocou seguidores para irem à Avenida Paulista, neste domingo (25/2), e classificou a manifestação como um

Bolsonaro convocou seguidores para irem à Avenida Paulista, neste domingo (25/2), e classificou a manifestação como um "ato pacífico"

crédito: Joe Raedle/Getty Images via AFP

Às vésperas do ato em defesa de Jair Bolsonaro, na Avenida Paulista, lideranças apoiadoras do ex-presidente se mostraram preocupadas com a perda de controle sobre os manifestantes e a exibição de mensagens e discursos com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), o que pode complicar mais a situação do ex-chefe do Executivo, suspeito no inquérito que investiga a tentativa de um golpe de Estado.

Ministro da Casa Civil do governo anterior, o senador Ciro Nogueira pediu nas redes que os "lacradores" fiquem em casa. Foi uma referência a bolsonaristas extremistas que fazem ataques verbais e transmitem em suas redes sociais, para agradar sua claque e atrair novos simpatizantes.

O próprio Bolsonaro foi às redes, nesta sexta-feira (23/2), convocar seguidores a comparecerem ao que classificou de "ato pacífico, em defesa do Estado Democrático de Direito, pela nossa liberdade, nossa família, pelo nosso futuro". E chamou de "nosso encontro na Paulista".

Ciro Nogueira associou o evento a uma reunião familiar. "Lá, estaremos ao lado do nosso líder Bolsonaro para ouvi-lo e apoiá-lo", afirmou. "Agora, é bom avisar: parentes inconvenientes não são bem-vindos, e ele já avisou que não aceitará palavras de ataque a ninguém. Então, fica aqui o aviso aos famosos 'lacradores': se quiser atacar ou ofender alguém ou alguma instituição, nem apareça no domingo. Domingo é dia de família", acrescentou o parlamentar, presidente nacional do PP.

Os deputados bolsonaristas que vão à Avenida Paulista foram alertados para pagarem suas despesas, como alimentação, transporte e hospedagem, com recursos próprios, e não usarem verba da cota parlamentar da Câmara, que é dinheiro público. Foram orientados, ainda, a não levarem cartazes nem camisetas com menções contra as instituições, principalmente ao STF.

A Polícia Federal vai monitorar o ato, e ministros do Supremo também estarão atentos.

O ato ocorre ainda no calor das intimações a Bolsonaro e vários militares e civis de seu governo que são investigados nesse inquérito. Na quarta-feira, todos eles foram obrigados a comparecer à Polícia Federal para prestar explicações sobre a tentativa de dar golpe e impedir a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.

Suspensão de salário

O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, suspendeu, nesta sexta-feira (23/2), os salários do general Braga Netto e do coronel Marcelo Câmara, que recebiam remunerações do partido. O ex-ministro, apontado como um dos principais articuladores da ação golpista, recebia uma média de R$ 25 mil mensais, além do pagamento de um flat.

Valdemar cortou o pagamento aos dois por precaução, já que estão impedidos, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, de se comunicarem, além do receio de que a proximidade entre eles resulte em prisão. Assim, não poderiam seguir prestando serviços à legenda.

Leia: Bolsonaristas falam em 'guerra civil' e se preparam para ato sem agressão

Em nota, o PL informou: "Com relação à suspensão dos contratos de trabalho dos senhores Marcelo Costa Câmara e Walter Souza Braga Netto, o Partido Liberal informa que, conforme reiterada jurisprudência, havendo impedimento temporário na prestação de serviços em decorrência de prisão preventiva ou cautelar diversa que gere, igualmente, impedimento na execução das atividades laborais, o respectivo contrato deve ser suspenso enquanto perdurar tal situação".

A defesa de Câmara quer novo depoimento do cliente à PF. Ele está preso e não pôde ser acompanhado, na quarta-feira, por seu advogado, Eduardo Kantz, que esteve na oitiva de outro acusado no caso, Tércio Arnaud, ex-integrante do "gabinete do ódio" instalado no Planalto no governo Bolsonaro.

Na manifestação, Bolsonaro discursará por 30 minutos. Os outros oito oradores falarão por três minutos cada um. São três deputados do PL — Gustavo Gayer (GO), Nikolas Ferreira (MG) e Coronel Zucco (RS) —, e três senadores do partido — Flávio Bolsonaro (RJ), Magno Malta (ES) e Rogério Marinho (RN). Também vão falar o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), e o pastor Silas Malafaia.

Mobilização de caravanas

Dezenas de caravanas formadas para levar apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro de diferentes estados do país para a manifestação na Avenida Paulista, neste domingo (25/2), estão lotadas e com demanda extra.

Há mobilizações em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Mato Grosso e no Distrito Federal. São 34 caravanas somadas.

A demanda cresceu a ponto de organizadores precisarem de mais de um ônibus para levar os manifestantes. Há casos de pessoas que estão ajudando a custear a passagem de quem não pode ir.

Existe interesse eleitoral na organização das caravanas. Pelo menos seis mobilizadores foram candidatos a algum cargo político em 2020 ou em 2022. Neste ano, haverá eleições para prefeituras e câmaras municipais pelo país.

Em pouco tempo, a rede bolsonarista conseguiu se articular e garantir apoio necessário para fortalecer o ato, especialmente nas redes sociais. É o que aponta relatório feito pelo Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia, em parceria com o InternetLab.

"A rede de apoiadores bolsonaristas do Telegram demonstrou estar a favor e apta a participar da manifestação", diz o documento, "relembrando os atos ocorridos em 8 de janeiro de 2023, eles afirmam que o evento se trata de uma chance importante para mostrar aos 'inimigos' a força que Bolsonaro ainda possui entre o povo".

O grupo analisou o conteúdo de 3.698 mensagens em 134 grupos e 167 canais bolsonaristas e notou a mesma tendência que aconteceu nos primeiros dias após o apelo do ex-presidente.

Mensagens levantam teorias da conspiração e até levantam o receio de que Bolsonaro possa ser preso na manifestação.