Tensão na CMBH na reta final do processo contra Azevedo
Novas denúncias contra parlamentares esquentam ambiente na Câmara, enquanto comissão prepara relatório sobre cassação
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O ambiente na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) esquentou mais ainda ontem, com novas denúncias relacionadas ao presidente da Casa, o vereador Gabriel Azevedo (sem partido), e à sua antecessora no comando do Legislativo, deputada federal Nely Aquino (Podemos).
O conteúdo das acusações, no entanto, ficou em segundo plano, em meio a tensão do pré-relatório da Comissão Processante, responsável por investigar o pedido de cassação aberto contra Azevedo por quebra de decoro e abuso de poder, a partir de uma denúncia da própria Aquino.
A semana do presidente ainda teve depoimentos em oitivas e uma queixa-crime por difamação e calúnia registrada contra ele pelo secretário da Casa Civil de Minas Gerais, Marcelo Aro (PP).
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A disputa entre Aro e Azevedo, acirrada neste ano, vem desde os tempos da faculdade de Direito, intercalada por períodos de trégua e alianças entre ambos, como a que levou Azevedo à Presidência do Legislativo Municipal, em dezembro do ano passado, ao fazer um acordo para receber votos da chamada “Família Aro” - que reúne vereadores fieis ao secretário.
Já a denúncia em questão, que ontem se disseminou pelo WhatsApp de políticos, jornalistas e militantes por meio de vídeos e fotos, partiu de um membro do gabinete de Azevedo – agora exonerado – que acusava o diretor-geral da Câmara, Rafael Dayrell – e por consequência o presidente – de participar de um suposto esquema de rachadinha, prática criminosa que consiste na devolução de parte do salário de assessores em cargos comissionados.
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“Não dá para ser inocente nos tempos que nós vivemos. As pessoas me conhecem, me conhecem muito bem porque as minhas qualidades e os meus defeitos são extremamente conhecidos por esta cidade. E todo mundo sabe, e sabe com muita convicção, que eu não sou corrupto. Tentar pegar isto em mim é uma ação frustrada”, declarou Azevedo.
O tema tomou toda a agenda do plenário no turno da tarde e terminou com denúncias contra o próprio denunciante, que teria pedido dinheiro emprestado para integrantes de diferentes setores do Parlamento e simulado um incêndio na própria casa para arrecadar fundos por meio de doações virtuais e físicas.
“Eu próprio, quando soube do incêndio, convidei ele ao meu apartamento, cedi para ele cama, utensílios, ajuda, porque fiquei sensibilizado com a questão. E não narrei nada disso para vocês (vereadores) por ser uma questão de foro íntimo – todo mundo aqui já ajudou alguém”, revelou Azevedo, durante sua longa fala em Plenário.
Depois do presidente, outros parlamentares se manifestaram sobre o episódio, incluindo o vereador Sérgio Fernando Pinho Tavares (PL), que ajudou o denunciante a conseguir um emprego na Câmara Municipal. Ele disse que se sente chateado e responsável pela situação.
“Eu preciso, antes de mais nada, pedir desculpas a vossa excelência [Gabriel Azevedo] e ao Rafael Dayrell porque o rapaz que está envolvido nesta situação veio para a casa por um pedido meu. A mãe dele é uma pessoa da minha relação pessoal e, tão logo assumi o mandato, ela me procurou e me pediu que eu o ajudasse com uma oportunidade. Eu, então, procurei o presidente da Casa e pedi que ele me ajudasse, porque eu queria ajudá-lo de alguma forma. O vereador Gabriel foi extremamente solícito e me disse que não teria condição de acolhê-lo na Presidência, mas que o faria no próprio gabinete, e o fez”, declarou.
No fim do dia, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) emitiu uma certidão, a pedido de Rafael Dayrell, afirmando que o denunciante não ratificou representação de qualquer natureza perante o órgão, “razão pela qual não foi instaurado qualquer procedimento interno”. O Estado de Minas também procurou o servidor exonerado, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
A deputada federal Nely Aquino também foi alvo de mensagens que circularam no WhatsApp ontem. Nos documentos, é mencionado um processo aberto contra ela em 2019, por suposta improbidade administrativa, quando era vereadora de Belo Horizonte. Procurada, a parlamentar disse que a ação foi suspensa para tratativas de um acordo entre o Ministério Público e as partes. “A verdade é que nunca fiz uso indevido de recursos públicos, tampouco obtive qualquer vantagem indevida enquanto parlamentar, vez que sempre pautei minhas ações pela legalidade, pela ética, pela transparência e pela moralidade”, declarou.
Fim do prazo
A comissão processante – composta pelas vereadoras Janaína Cardoso (União Brasil), como presidente; Professora Marli (PP), como relatora; e Iza Lourença (Psol) – deverá apresentar um relatório final até 4 de dezembro, quando completam-se 90 dias da abertura do processo. Com o fim das oitivas, o vereador terá um prazo de cinco dias – iniciado na última quarta-feira – para apresentar suas alegações finais, por escrito.
Na sequência, a relatora Marli deve elaborar um parecer sobre o pedido de cassação, que será votado pela Comissão Processante. Na sequência, a denúncia é submetida ao plenário da Câmara, onde serão necessários 28 votos dos 41 vereadores para cassar o mandato de Azevedo.