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A força da palavra quilombola de Dona Rosinha
Escritora e liderança de Itabira lança 'Memórias do meu quilombo', que preserva a ancestralidade e a oralidade da comunidade negra mineira
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23/10/2025 17:34
- atualizado em 23/10/2025 17:40
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Conhecida como Dona Rosinha, a escritora e líder comunitária mineira Rosemary de Souza Ferreira lança o primeiro livro aos 66 anos. “Memórias do meu quilombo” (Pallas Editora) tem orelha assinada pelo gestor cultural Fabiano Piúba, do Ministério da Cultura (MinC). “Este livro é reverberado pelas memórias e pelos sentimentos das palavras, pois so mos dessas pessoas que acreditam que as palavras podem fazer coisas com a gente, e que também podemos fazer coisas com as palavras”, afirma Piúba.
São 16 narrativas curtas e memórias em primeira pessoa, escritas a partir do que a autora viveu no Quilombo Morro Santo Antônio, em Itabira. Produzido a partir de cadernos manuscritos, o livro foi transcrito pelo filho da líder comunitária, Vinicios, e preserva o estilo original da autora. Em cada relato, Dona Rosinha rememora a infância, a luta coletiva, os desafios do cotidiano e a importância de manter viva a ancestralidade quilombola. “Apresentar o conjunto de relatos que compõe este pequeno livro me trouxe uma profunda satisfação. Porque, se pequeno é em sua materialidade, grande, imenso, é o seu significado.
Trata-se de um livro que encena o movimento de uma pessoa das classes populares que se apropria da escrita para salvaguardar as suas memórias”, afirma Conceição Evaristo, no prefácio da edição de 96 páginas, com lançamento na programação do Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira), na próxima quinta-feira (30/10), às 18h, com a presença da autora, de Conceição e Piúba, com mediação de Marcelino Freire.
“Boa prosa, a de Dona Rosinha”
“Brota a boa prosa a nos conduzir pelos caminhos da memória de Dona Rosinha, em um constante ir e vir. Acompanhamos seus relatos com a impressão de que estamos lendo-escutando ou escutando-lendo os causos de quem entra-e-sai dos becos, atravessa as portas, cruza as ruas, desce e sobe ladeiras, afunda os pés na poeira, escorrega no barro, cai e levanta, tropeça na ‘pedra no meio do caminho’ avistada por Carlos, o poeta também itabirano. Boa a prosa de Dona Rosinha, direta, mas também incorporada pelo sotaque mineiro e por um linguajar que nos traz algumas vezes expressões de um português antigo, misturado a um dialeto regional, com algumas palavras que só se escutam em Minas. A escrita de Dona Rosinha transita entre a oralidade e um consciente exercício de quem está atenta às regras normativas da língua escrita.”
Trecho do prefácio de Conceição Evaristo para o livro “Memórias do meu quilombo” (Pallas Editora)