Capa do livro 'Pedra Viva' -  (crédito: Reprodução)

Capa do livro 'Pedra Viva'

crédito: Reprodução

PRIMEIRA LEITURA

“Pedra viva”


ISAÍAS GABRIEL FRANCO

 

“o código mineral”
O sangue iletrado dos meus avós
ainda arde no meu.
Trago terra nas profundezas.
Não corro em carro conversível,
minha biga ancestral é o carro de bois.


*


“nossa senhora de caldas”
Nossa senhora, mãe dos homens,
rainha dos montes azuis,
Matrona dos Campos de Caldas,
dá-nos teu filho Jesus.
Derrama do manto que vestes
as estrelas que ao céu nos conduz
e de vosso cetro de ouro, mãezinha,
emanai-nos a luz.


*


“riachinho”
Desço a serra
da pedra branca,
sete quedas,
duas ancas.
Duas léguas
a caminhar,
deito abaixo
rumo ao mar.
Na cascata
abro leito,
vou rolando
pelos eixos.
noite cheia,
lua alta,
minha bacia,
cor de prata.

 

 

*

 

“Bar”
O derradeiro
ônibus passou
no ponto.
Me avisam do Bar São João
onde descansa um pastel frio e
um tosco São Jorge
bêbado na imobilidade
barulhenta das horas.


*


“Morada das coisas”
Existem restos
de coisas nas palavras.
Musgos no telhado
de barro da linguagem.
Madeirame de letras,
laranjas e maçãs em podridão.
Idades,
margens,
horas.
O vivo de um peixe
saltitante
na água silábica da boca.


*


“Antevisão”
As casas de Ouro Preto
cairão.
Assim denunciou-me um sonho,
no qual tombavam elas, abraçadas,
pesadas de tanto passado
levando memórias ao chão.
Acordei.
Um vento zunindo forte
pelas frinchas lavrou a profecia.
As casas de Ouro Preto,
maduras no passar dos séculos,
morrerão.

 

SOBRE O AUTOR


Isaias Gabriel Franco nasceu em 1995 em Campestre (MG) e passou a infância em São Pedro de Caldas, no município de Caldas. Graduado em história e filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), tem mestrado em história. Antes de “Pedra viva”, escreveu os livros “Poeminhas de arruar” e “Poemas limpos de amor”.

 

“A poesia de Isaías Gabriel Franco é pétrea. Ora, do tamanho de um muro de arrimo; ora, do tamanho de um cisco no olho. Sejam do tamanho que forem, das louvações aos aforismos, essas pedras (no sapato, algumas vezes) não devem servir para o conforto. Antes, para o impossível a que os poemas sempre se dedicam, como a eternidade; antes, aos acidentes provocados pelas pedras que nos atravessam o caminho, tanto faz”, afirma o escritor catarinense Marcelo Labes, na apresentação de “Pedra viva”.

 

“PEDRA VIVA”


- De Isaías Gabriel Franco
- Editora Urutau
- 100 páginas
- R$ 50
- Pode ser comprado no site editoraurutau.com

 

Capa do livro

Capa do livro

Reprodução