Desmatamento: uma prática que o Brasil precisa banir
A perda de vegetação nativa segue elevada, com consequências diretas para a biodiversidade, o clima global e a qualidade de vida
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Entre os eventos de importância da agenda do Brasil durante 2025, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, no Pará, no mês de novembro, foi destaque. Marcado pelo esforço de implementar compromissos assumidos em edições anteriores – em especial as metas do Acordo de Paris e a transição energética para fontes renováveis, além de aumentar o financiamento para países em desenvolvimento, promovendo a justiça ambiental – o encontro deixou legados significativos. Mas, diante dos desafios da atualidade, que vêm afetando progressivamente a vida no planeta, uma prática antiga no Brasil permanece presente: o desmatamento.
As estatísticas mais recentes mostram avanços, porém também revelam o tamanho do problema. Entre agosto de 2024 e julho de 2025, a Amazônia Legal perdeu cerca de 5.796 quilômetros quadrados de floresta, uma diminuição de 11,08% em comparação ao ano anterior, atingindo o menor índice em 11 anos, segundo o Projeto de Monitoramento do Desmatamento por Satélite (Prodes) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No Cerrado, a queda foi de 11,49%, passando para 7.235 quilômetros quadrados de áreas desmatadas. Ambas as reduções são expressivas, no entanto, os números indicam pressão contínua sobre áreas verdes de relevância fundamental. Os dados traduzem uma realidade que não é nova: há progresso derivado de políticas públicas e fiscalização reforçada, mas a perda de vegetação nativa segue elevada, com consequências diretas para a biodiversidade, o clima global e a qualidade de vida.
Diante da guerra contra a devastação ambiental no país, uma das batalhas é dissociar a ideia de que preservação é sinônimo de estagnação econômica. Estudos e experiências nacionais e internacionais demonstram que internalizar valores ambientais em cadeias produtivas atrai investimentos responsáveis e amplia os valores agregados. Nesse sentido, o setor privado possui papel central e precisa operar com transparência, rastreabilidade de origem, redução de emissões e respeito ecológico.
Já a atuação do Estado tem de ser robusta e articulada, sempre em sintonia com a produção. O fortalecimento dos órgãos de fiscalização ambiental não pode ser encarado como despesa. Ao contrário: é investimento para garantir uma economia sólida. A tecnologia aplicada para manter o monitoramento e criar sistemas de controle eficiente deve estar em constante aprimoramento.
Por sua vez, a sociedade é parte vital no combate ao desmatamento e deve atuar como agente ativo de transformação ambiental, econômica e cultural. A preservação das florestas não depende apenas de governos, da fiscalização e do cumprimento de leis; ela se consolida quando valores, escolhas e práticas sociais caminham nessa direção. Normalmente, ações ligadas à devastação e exploração predatória só prosperam porque encontram “mercado”.
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A mobilização e o controle cidadão – por meio de denúncias e vigilância das políticas públicas –, aliados à mudança de hábitos, são capazes de impedir retrocessos e têm a força necessária para promover o fim do desmatamento ilegal. Preservar o meio ambiente não é tarefa somente institucional e governamental. É uma responsabilidade compartilhada, que exige uma sociedade informada, mobilizada e comprometida com um plano de desenvolvimento que reconheça a floresta e a vegetação não como obstáculos, mas como bases estratégicas para o futuro do Brasil.