ARTIGO

Educação e Ecologia: o alfabeto da sobrevivência

Na ânsia de nomear, criamos palavras e escrevemos nos papéis, nos textos, nas teses ou adjetivamos as que morreram, na esperança de que voltem a viver

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Aleluia Heringer Lisboa

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Doutora em Educação (UFMG)

As palavras “cheias” são aquelas que não perderam sua potência, que ainda guardam viço. Por exemplo: mãe! Não é necessário explicar o que é mãe. Basta pronunciá-la e a maioria compreende.

Contudo, palavras, como as cores, foram sequestradas e transformadas em disputa por sentidos antagônicos. Palavra é manhosa e quer ser levada a sério. Morre quando não encontra correspondência na realidade. Algumas perderam sustentação e caíram sem serventia. Há as que se tornaram pedras amargas, ferindo como lâminas; e aquelas que, transformadas em ferramentas inúteis, foram deixadas de lado. Na ânsia de nomear, criamos palavras e escrevemos nos papéis, nos textos, nas teses ou adjetivamos as que morreram, na esperança de que voltem a viver.

Educação é palavra cheia quando dita com “E” maiúsculo. É árvore frondosa que deveria conter todas as educações – humanista, cidadã, ambiental, entre tantas outras. Essas “educações” estão latentes, aguardando o momento propício para se manifestarem.

Se o contexto é de emergência climática, a Educação, com suas antenas, deveria captar movimentos, ventos, novos cantos e sons de tambores. Uma Educação que não se mantém atenta, de forma crítica, ao que acontece na sociedade e no mundo acabará por se apequenar.

Ecologia é outra palavra que passou por esvaziamento. Quando nomeada em 1866 por Ernest Haeckel, era palavra cheia. A ideia das relações já havia sido experimentada por Alexander von Humboldt em sua expedição pela América Central, cerca de 65 anos antes de Haeckel cunhar o termo. No litoral da Venezuela, Humboldt percebeu que o desflorestamento para abrir espaço à agricultura, acompanhado da drenagem dos córregos, fazia o nível da água no lago Valência cair ano após ano. Em seus diários, ainda não existia a palavra “ecologia”, mas sua obra permitiu a Haeckel nomear o entendimento da interdependência entre todas as coisas. Contudo, dado nosso afastamento do mundo natural e crescente artificialização, a ecologia perdeu tônus, precisou ser adjetivada de Integral.

Educação e Ecologia são palavras fundamentais, potentes quando vividas em sua inteireza. Quando se encontram, não há hierarquia: refletem-se e se transformam. São forças que se completam, mas precisam permanecer inteiras. Ao fatiarmos a Educação, desfazendo interseções entre seus temas e cortando comunicações entre os atores que a constroem, sua organicidade e visão sistêmica se perdem, e ela empobrece. O mesmo ocorre com a Ecologia: quando fragmentada, perde sua força de conexão e sentido de totalidade. Perdemos o rumo.

Manter a inteireza é responsabilidade dos líderes, que devem garantir a harmonia mesmo diante das dissonâncias. Esses dirigentes assumem compromisso radical com as gerações atuais e futuras, reconhecendo o papel social da Educação no contexto em que vivemos. Educação e Ecologia, com tudo o que anunciam e denunciam, enfrentam resistência em muitos ambientes. Ainda assim, não podemos suprimir palavras, mas fazê-las servir à verdade e fortalecer conexões.

Diante da complexidade, é de se esperar atuações e responsabilidades distintas das partes envolvidas. A Educação tem – nas Linguagens, na Matemática, nas Ciências da Natureza e nas Ciências Humanas – os meios que nos falam da vida, das pessoas, dos animais e do planeta. Decifram nossa história cultural e remetem ao passado. Agora, falamos de futuros possíveis e há um apelo: “Nossas condições climáticas e planetárias em rápida mudança exigem currículos que reorientem o lugar dos humanos no mundo” (Unesco, 2022). Somente uma Educação plena dará conta dessa reorientação. O alfabeto está posto; o convite é fazê-lo falar.

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