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COP30 foi verdadeiro teste reputacional para o Brasil

O legado da COP não se medirá apenas nas resoluções aprovadas, mas na demonstração de que o país consegue conectar discurso e entrega, ambição e governança

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PATRÍCIA MARINS - Especialista em gestão de crises de alto risco reputacional e autora de “Muito além do Media training – o porta-voz na era da hiperconexão”

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Belém se tornou, durante a COP30, o centro das atenções globais. Mais de 50 mil participantes, milhares de jornalistas e uma cobertura inédita transformaram a conferência em um teste de estresse reputacional para o Brasil e em um dos maiores exercícios de disputa de narrativas da história recente das negociações climáticas.


A Amazônia é o símbolo; a comunicação, a arena decisiva. A forma como o país se apresentou nesse ecossistema hiperconectado revela mais sobre sua liderança do que qualquer discurso de abertura.


A COP30 não foi apenas diplomacia ambiental, mas um ambiente onde se mediram coerência, solidez e capacidade real de entrega diante da emergência climática. Em um momento em que todos estão sujeitos ao escrutínio público imediato, reputação deixou de ser ativo intangível e tornou-se fator econômico estratégico. Mercados, investidores e organismos multilaterais avaliaram em tempo real cada movimento do Brasil, observando riscos, compromissos e previsibilidade.


A conferência gerou mais de 5,5 mil menções nas redes sociais e cobertura maciça da imprensa, que transformou qualquer detalhe em ponto de inflexão. Nesse contexto, problemas operacionais rapidamente ganharam destaque: limitação de hospedagem, altos custos de alimentação, falta de água em alguns períodos e calor extremo, além de um incêndio no Pavilhão dos Países levantaram dúvidas sobre a capacidade logística da cidade. A dependência de diesel reforçou percepções de desalinhamento entre discurso e prática, enquanto protestos de lideranças indígenas expuseram tensões socioambientais. Além disso, suspeitas de irregularidades em contratos ampliaram questionamentos sobre transparência e governança.


Em conjunto, esses elementos alimentaram uma camada crítica do noticiário, exigindo maior coordenação do país para sustentar sua projeção internacional durante a COP30. Mas o cenário positivo também se afirmou. Projetos ligados à transição energética, conservação florestal, energia limpa e compromissos de governos e empresas ajudaram a reposicionar a cobertura e reforçaram a imagem de um Brasil capaz de articular avanços concretos.


Tivemos já anúncios relevantes de ações concretas: o BNDES e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) captaram R$ 8,84 bilhões para o Fundo Clima; o Banco do Brasil lançou uma mesa de créditos de carbono; e Itaipu firmou acordo com o MMA para fortalecer políticas públicas de educação ambiental. Os movimentos indicam maturidade institucional e mostram que parte da infraestrutura financeira e pública já atua de forma alinhada às metas de transição.


Com o encerramento da COP30, tornou-se evidente a necessidade de superar resistências e consolidar compromissos sólidos, sobretudo após as reações ao texto final apresentado pelo Brasil – criticado por não incluir um plano claro para redução de combustíveis fósseis e por deixar lacunas na definição de responsabilidades globais. Em um ambiente em que confiança tem métricas próprias, governos e empresas são avaliados pela robustez das metas, pela transparência das métricas utilizadas e pelo equilíbrio entre promessa e entrega. Não há mais espaço para anúncios sem lastro ou metas sem verificabilidade; o risco de greenwashing é imediato.


Esse quadro é ainda mais relevante em um contexto em que o negacionismo explícito dá lugar a versões sofisticadas de relativização climática, que fragilizam políticas de longo prazo. Nesse cenário, países competem para projetar ambição, atrair investimentos e influenciar mecanismos globais de financiamento climático.


O Brasil sediou o evento tendo atributos relevantes: controla a maior floresta tropical do mundo, detém papel central na transição energética e possui biomas essenciais à estabilidade climática. Mas vantagens naturais não asseguram liderança. Reputação, sim. E, no contexto da conferência, ela se constrói na convergência entre estratégia, clareza institucional, coordenação federativa, compromisso empresarial e firmeza na execução.


O legado da COP não se medirá apenas nas resoluções aprovadas, mas na demonstração de que o país consegue conectar discurso e entrega, ambição e governança, metas verificáveis e mecanismos sólidos de transparência. Ao final, a COP30 não cobrará o conteúdo dos discursos, mas a consistência das escolhas. Conferências passam; reputações permanecem.


O Brasil tem diante de si a chance de construir um legado compatível com a crise climática e com o papel que deseja ocupar no cenário internacional. O palco de um evento como esse é global, e a narrativa que marcou essa conferência, inevitavelmente, também será.

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