A infância fora da escola

É preciso construir um pacto nacional pela infância, que una governos, sociedade civil e iniciativa privada em torno de metas claras

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Ana Medeiros

Líder das iniciativas de educação infantil da Fundação Abrinq

No Brasil, o problema da educação começa cedo, antes mesmo de a criança chegar à escola. O Dia Mundial da Educação, celebrado em 28 de abril, evidencia uma contradição: enquanto multiplicamos discursos sobre o futuro e o poder transformador da educação, seguimos negligenciando justamente a etapa que mais define os caminhos de uma criança, a educação infantil.


Segundo o Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2025, da Fundação Abrinq, apenas 37% das crianças de 0 a 3 anos frequentavam creches em 2023. Um índice ainda muito distante da meta do Plano Nacional de Educação. Isso significa que quase dois terços das crianças pequenas estão fora de instituições que poderiam garantir estímulo ao desenvolvimento, interação social, cuidado e proteção contra a negligência, a violência e a fome.


Essa ausência, longe de ser pontual, se conecta a um contexto mais amplo de desigualdades históricas. Em 2023, mais de 46% das crianças com até 6 anos viviam em famílias com renda mensal per capita inferior a meio salário-mínimo. Dessas, 17% estavam em extrema pobreza, sobrevivendo com menos de R$ 325,50 por mês.


Esses dados evidenciam que a infância brasileira continua marcada por privações que afetam diretamente a capacidade de aprendizado, e que essas desigualdades têm cor, endereço e gênero. As regiões Norte e Nordeste apresentam os piores índices de exclusão e pobreza. A falta de creches impacta especialmente as mulheres negras que, além de liderarem muitos lares, continuam sendo as principais responsáveis pela criação dos filhos.


A realidade educacional do Brasil não é acidental, é socialmente construída desde o nascimento. Antes mesmo de aprender a ler ou escrever, milhões de crianças já estão sendo deixadas para trás por um sistema que falha em garantir o mínimo.


Nesse cenário, iniciativas como o programa Creche para Todas as Crianças, da Fundação Abrinq, tornam-se essenciais. Atuando na requalificação de unidades públicas de educação infantil em diversos municípios, o programa vai além das reformas físicas. Ele oferece suporte técnico, qualificação para os profissionais da Educação e acompanhamento para transformar as creches em espaços de acolhimento e aprendizagem. É uma resposta concreta a um dos principais gargalos da educação básica no país. Mas que, sozinha, não dá conta da urgência.


É preciso construir um pacto nacional pela infância, que una governos, sociedade civil e iniciativa privada em torno de metas claras, financiamento adequado e prioridade real. Sem isso, a evasão escolar, a baixa proficiência e o abandono continuarão sendo sintomas previsíveis de um sistema que negligencia a base.
Neste 28 de abril, não basta celebrar. É preciso firmar um compromisso real com a infância, pois, sem isso, o futuro torna-se apenas uma promessa.

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