editorial

Ódio contra mulheres mata e dá lucro

A sensação de que a internet é "terra sem lei" facilita a prática, que tem desdobramentos para além do mundo virtual

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O desprezo e ódio pela mulher são os ingredientes que configuram a misoginia – com amplo espaço no universo virtual – e levam os homens à prática do feminicídio. Sem qualquer distinção, o Brasil detém a quinta maior taxa desse crime no ranking mundial dos países mais agressivos às mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). É também um grande produtor de conteúdos nas plataformas digitais que retratam o tamanho da covardia masculina contra o gênero oposto.


A matança de mulheres, motivada pelo fato de ser do sexo feminino, é atitude inconcebível, mas rentável para alguns segmentos desprovidos de quaisquer valores humanitários. O estímulo ao machismo está nas redes sociais e nas diversas plataformas da internet. Na última sexta-feira, o Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais – uma parceria entre o Ministério das Mulheres e o NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro – revelou o quanto a propagação da misoginia se tornou lucrativa no mundo virtual. Na primeira etapa da pesquisa, foram analisados 76 mil vídeos e 7.812 canais, que somaram mais de 4,1 bilhões de visualizações e 23 milhões de comentários.


O documento divulgado – Aprenda a evitar esse tipo de mulher: estratégias discursivas e monetização de misoginia no YouTube – mostra que pelo menos 80% dos 137 canais avaliados na segunda etapa do estudo continham conteúdos misóginos e usavam algum instrumento de rentabilidade da plataforma. Entre eles, o levantamento ressalta a ferramenta Super Chat, em que os espectadores podem comprar mensagens destacadas nas transmissões ao vivo. Nessa operação, há lucro tanto para a plataforma quanto para os influenciadores.


Para as ministras Cida Gonçalves, das Mulheres, e Anielle Franco, da Igualdade Racial, o relatório dialoga com o Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda não concluiu o julgamento, iniciado na semana passada, sobre a regulação das plataformas e redes sociais – matéria deixada de lado pelo Congresso Nacional. Dependendo do entendimento da Alta Corte, as plataformas responderão solidariamente pela publicação de mensagens inadequadas, como os discursos de ódio, fake news e mensagens incompatíveis com os paradigmas da Constituição de 1988 e do Estado Democrático de Direito.


O YouTube, por meio de nota, alegou que não foi convidado a participar do estudo e afirmou que remove “conteúdo que promova a violência ou o ódio contra indivíduos ou grupos com base em algumas características, entre elas a identidade e expressão de gênero e orientação sexual”. Acrescentou, na nota, que, de janeiro a setembro deste ano, “mais de 511 mil vídeos foram removidos” por infringir as suas diretrizes.


O fato é que a presença de conteúdos misóginos não se limita a essa plataforma. Ao contrário, a sensação de que a internet é “terra sem lei” facilita a prática, que tem desdobramentos para além do mundo virtual. Ao anunciar o relatório, a ministra Cida Gonçalves lembrou que a meta de feminicídio zero, estabelecida como prioridade pelo governo, passa também por um trabalho de conscientização da população sobre o que é misoginia e as suas consequências.


Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, no ano passado, 1.467 mulheres foram mortas por razões de gênero, o maior registro desde a publicação da lei que tipifica o crime, em 2015. Não custa lembrar o que ensina o velho adágio popular para evitar mortes e conflitos: "O direito de um(a) termina onde começa o do outro(a)". 

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