A vacinação de públicos prioritários, especialmente de idosos, nunca deixou de ser uma preocupação de especialistas, de órgãos da saúde e de seus governantes. E não é para menos. Essa faixa etária – composta por pessoas acima de 60 anos – representou quase 66% das mortes de pacientes hospitalizados por influenza (o vírus da gripe) em 2023 no Brasil. No ano passado, 54,9% das internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), causada por influenza, foram registradas na população 60+.


Quando os idosos em questão têm idade superior a 80 anos, os números ainda estão piores: 26,7% das pessoas hospitalizadas por SRAG causada por influenza foram a óbito em 2023 por conta das complicações da doença, enquanto na faixa etária de 60 a 69 anos a letalidade chegou a 19%. Levando-se em conta que cerca de 70% de pessoas acima de 60 anos têm uma ou mais doenças crônicas, além de um maior risco de agravamento de infecções, nada mais natural que a atenção em relação a esse público seja redobrada.


Outro fator determinante para que o Ministério da Saúde concentre seus esforços no sentido de levar grupos prioritários aos postos de saúde é a baixa cobertura vacinal contra a gripe em 2023: apenas 60,6% desse público recebeu o imunizante – número considerado bem aquém dos 91% e 95% de anos anteriores (2019 e 2020).


Não há dúvidas de que a desinformação e o negacionismo em relação às vacinas têm uma parcela significativa de contribuição para a baixa cobertura em todo o país. Levantamento publicado pela Fundação Oswaldo Cruz em 2022 mostrou que grande parte da população (68,9%) ainda tinha bons níveis de confiabilidade na ciência e mais de 86% dos participantes da pesquisa consideraram a imunização importante para a manutenção da saúde pública. No entanto, 14% não achavam as vacinas necessárias e 46% afirmaram que os imunizantes produzem efeitos colaterais que são um risco.


A enxurrada de fake news despejada especialmente nas redes sociais impactou significativamente para que as pessoas perdessem o hábito e a confiança em se vacinar. E aqui incluem-se todas as faixas etárias, de todas as classes sociais.


No próximo sábado (13), vários municípios brasileiros promovem o dia D da vacinação contra a gripe – a exemplo de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre (RS), Franca (SP), Curitiba (PR) e Aracaju (SE), entre outros. Fato é que nem mesmo as campanhas de divulgação e a antecipação da vacinação contra a gripe este ano – de abril para o fim de março – se traduzem em uma cobertura vacinal exitosa.


E estamos falando da oferta de três tipos de vacinas contra a gripe no mercado brasileiro: a trivalente pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), do governo federal; a quadrivalente, ofertada na rede privada; e a quadrivalente de alta dose, com uma quantidade quatro vezes maior de antígenos, justamente para atender os idosos acima de 60 anos.