O governo está preparando uma série de medidas para incentivar a produção de alimentos no país. A meta, sobretudo, é aumentar o plantio e a colheita de arroz, feijão, milho, trigo e mandioca, itens que impactam diretamente a mesa dos consumidores. Os preços desses produtos têm subido mais do que a média da inflação, afetando, sobretudo, as famílias de menor renda, que gastam mais da metade do orçamento na compra de comida.


É legítimo que o governo se movimente nesse sentido, pois é inconcebível a possibilidade de qualquer pessoa passar fome. Foi o controle da inflação no último ano, justamente por causa da queda dos preços dos alimentos, que permitiu que 13 milhões de brasileiros saíssem da condição de insegurança alimentar. O quadro, porém, ainda continua dramático. Há 45 milhões de cidadãos com dificuldades para fazer três refeições diárias e 20 milhões de pessoas sem condições de se alimentar com o mínimo de decência.


Mas há um sinal de alerta importantíssimo por trás do recente encarecimento dos alimentos: o impacto das mudanças climáticas. Eventos extremos, principalmente no Sul do país, derrubaram a produção de arroz e atingiram outras culturas nas demais regiões. Portanto, de nada vai adiantar o governo dar incentivos ao plantio e à colheita agrícola, se não houver uma conscientização por parte dos produtores de que é preciso tomar todas as medidas para conter o aquecimento global. Sem um clima favorável, não há safras adequadas.


Essa ressalva vale, inclusive, para o governo, que, ao que se sabe até agora, está mais preocupado em recuperar a popularidade perdida nos últimos meses. As ações a serem adotadas devem ser estruturais e com reflexos a médio e longo prazos, sempre casadas com as questões ambientais. Não há outro caminho para se evitar surpresas desagradáveis no meio do caminho. O Brasil não precisa desmatar mais nenhuma outra área para garantir mais comida na mesa dos brasileiros, já que há milhões de hectares degradados e que podem ser facilmente recuperados, desde que haja vontade política.


A promessa do Palácio do Planalto é de que, já na edição do Plano Safra 2024/2025, seja anunciado o aumento na oferta de crédito. O plantio agrícola é uma atividade de alto risco, e, por conta da seca extrema em parte do país e das chuvas torrenciais em outras localidades, muitos produtores perderam as safras e estão endividados, a ponto de pedirem recuperação judicial. Esses agricultores não podem ficar desamparados, pois, ao longo do tempo, foram fundamentais para que o Brasil batesse consecutivos recordes de produção. Sozinho, o campo garantiu quase a metade do crescimento de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, desempenho que não se repetirá em 2024.


A produção agrícola também permitiu ao Banco Central reduzir a taxa básica de juros (Selic), já que a queda dos preços dos alimentos ajudou a empurrar a inflação para mais perto das metas, e ampliar as reservas internacionais do país, que vinham em baixa. A venda de grãos ao exterior resultou em superávit comercial próximo de US$ 100 bilhões, o maior da história, e o ingresso de parcela desses recursos foi parar nos cofres do BC, além de manter a cotação do dólar abaixo de R$ 5, outro ponto fundamental para o controle do custo de vida.


Sendo assim, os agricultores devem figurar sempre como prioridade nas políticas de governo, inclusive por meio de programa de preço mínimo, com a compra de safras quando os preços estiverem em baixa. Essa estratégia garante a renda de quem se arriscou a produzir comida e, ao mesmo tempo, reforça os estoques reguladores do setor público, para serem usados quando as cotações das mercadorias subirem demais. No governo passado, essa política foi totalmente desmontada, mas, segundo o Ministério da Agricultura, voltará a ser praticada. A trajetória a seguir é conhecida, basta torná-la possível de ser executada.