O aumento dos casos de dengue é recorrente a cada início de verão, quando as chuvas são mais intensas em todo o país. Neste ano, as catástrofes ocorridas no Sul, no fim de 2023, eram o prenúncio de um verão mais grave. Nas primeiras três semanas de janeiro, o número de brasileiros infectados pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti chegou a 120.870 casos prováveis e causou 12 mortes. O mosquito é responsável também pela transmissão da zika e da chikungunya, igualmente perigosas.

O Ministério da Saúde prevê que mais de 5 milhões poderão ser afetadas pela doença. Não à toa, iniciará em fevereiro a campanha de vacinação contra a dengue, começando pelas unidades da Federação com cenários mais críticos, como Distrito Federal e Minas Gerais, onde as taxas de incidência chegaram a 551 e 166 em cada 100 mil habitantes, respectivamente.

A previsão inicial é levar o imunizante a 16 estados e ao DF. Até agora, o ministério recebeu 750 mil doses do primeiro lote de 1,32 milhão, produzidas pelo laboratório japonês Takeda. No total, o governo comprou mais de 5 milhões de doses, o que garantirá a continuidade da campanha, principalmente entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.

O esforço do governo federal de sair na frente na vacinação contra a dengue pode significar muito pouco, caso não haja um engajamento da sociedade brasileira. O negacionismo, mentiras para desestimular a adesão dos brasileiros à vacina, entre outros fatores, durante a pandemia de COVID-19, estão entre as causas que levaram a óbito mais de 700 mil brasileiros.

Hoje, o cenário é outro. A sociedade é estimulada a se imunizar contra as doenças preveníveis, e não há razão para rejeitar os avanços da ciência e da medicina em favor da vida, sobretudo quando o remédio é gratuito, como garante o Programa de Imunização Nacional (PIN) do Sistema Único de Saúde (SUS).

Os cidadãos brasileiros podem e devem exercer protagonismo no combate a moléstias preveníveis. No período chuvoso, a maioria sabe que é preciso evitar as águas paradas, pois são nelas que o mosquito se multiplica e as fêmeas espalham as doenças. Essa orientação e outras têm sido repetidas pelas autoridades sanitárias, mas nem sempre são levadas a sério pelas pessoas, que, às vezes, não dão a devida atenção e acabam sendo prejudicadas.

Depois da onda de depreciação das vacinas, a epidemia de dengue poderia motivar a retomada de campanhas pelos governos federal, estaduais e municipais, como ocorria no passado. Peças publicitárias instaladas em espaços públicos, em postos de saúde, hospitais, farmácias e nos meios de comunicação — rádios, tevês, jornais, revistas, meios virtuais, redes sociais e tudo mais que leve aos cidadãos mensagens sobre a importância da imunização. Todas essas providências e outras devem ser adotadas no combate à contrainformação e às campanhas antivacinas. O desserviço dos negacionistas precisa ser erradicado da mesma forma que as doenças para as quais há imunizantes.