O Brasil está diante de uma janela de oportunidades de negócios e investimentos para a descarbonização da economia diante das ameaças climáticas. Usinas eólicas offshore e fábricas de hidrogênio verde estão na pauta do dia das energias renováveis para substituir os combustíveis fósseis. Mas, se pode se beneficiar desses investimentos, o país também precisa se preparar para as consequências das mudanças climáticas, que já dão sinais claros dos estragos que podem provocar. Seca extrema no Amazonas, chuvas torrenciais no Sul e Sudeste chamaram a atenção por volumes nunca registrados e pelo potencial de perdas econômicas que podem provocar.

A Grande São Paulo tem 500 mil casas e comércios que ficaram sem energia elétrica por mais de três dias por chuvas com fortes ventos que ocorreram na sexta-feira, gerando prejuízos. No Paraná e no Rio Grande do Sul, as lavouras de trigo, arroz e cevada foram afetadas, com perdas ainda sendo calculadas. A seca na Amazônia fez desaparecer rios, principais vias de transporte da região, gerando risco de desabastecimento de itens eletroeletrônicos e perda nas linhas de produção da Zona Franca de Manaus. Por causa de mudanças no regime de chuvas, o Brasil se viu, há pouco tempo, à beira de um racionamento de energia elétrica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou recentemente o novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), com previsão de investimentos da ordem de R$ 1,7 trilhão. É preciso que já no desenvolvimento desses projetos se incorporem os riscos climáticos, para que se possa minimizar os impactos sobre a infraestrutura que está sendo construída. As medidas para dotar nossa infraestrutura das condições necessárias para enfrentar situações mais extremas do que houve até hoje são urgentes, sob pena de os prejuízos se avolumarem e demandarem cada vez mais os já escassos recursos públicos.

O Ministério dos Transportes elaborou um levantamento sobre as condições da infraestrutura viária do país e a vulnerabilidade da mesma em relação a eventos como transbordamento de rios, deslizamento de encostas, ventos acima de 100 quilômetros por hora e grandes volumes de chuva concentradas em uma região em curto espaço de tempo. O levantamento aponta os pontos ou trechos mais vulneráveis e ações necessárias para que os mesmo adquiram resiliência em relação às intempéries.

Com o estrago feito pelas chuvas em São Paulo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já acendeu o alerta para a necessidade de discutir com as distribuidoras de energia elétrica medidas para atenuar os efeitos das mudanças climáticas. O mesmo deve ocorrer com o setor de telecomunicações, que compartilha com a rede de energia sua infraestrutura de conexão. A queda de um poste interrompe a energia e também as telecomunicações. A principal solução para evitar esse tipo de risco é enterrar as redes, mas em função do alto custo ela se torna inviável para a infraestrutura existente. Razoável que para novas instalações seja exigido que se faça a rede de forma subterrânea.

Não há mais como negar que vamos conviver cada vez mais com eventos climáticos extremos e é urgente que, para mitigar perdas e impactos sobre a população, se busquem formas de reduzir os efeitos. Nas grandes cidades, é preciso que as prefeituras e órgãos responsáveis façam permanentemente a poda e o controle de árvores, sobretudo as de grande porte, e a limpeza de bueiros e estruturas de contenção de águas pluviais para evitar inundações que sempre têm grande impacto sobre a população, como se viu no Sul do país. É preciso agir antes que as mudanças se tornem mais frequentes e severas.