Mosquito Culicoides paraenses, vetor da febre Oropouche -  (crédito: Maria Luiza Felippe Bauer/Instituto Oswaldo Cruz)

Mosquito Culicoides paraenses, vetor da febre Oropouche

crédito: Maria Luiza Felippe Bauer/Instituto Oswaldo Cruz

Na última semana, Santa Catarina registrou os primeiros casos de febre do Oropouche na história do estado. Três pacientes foram diagnosticados em Botuverá, no Vale do Itajaí. A doença é uma arbovirose que apresenta sintomas semelhantes aos da dengue e é considerada endêmica no Norte do Brasil. A ocorrência de casos pela primeira vez em território catarinense chama a atenção pelo ineditismo e por poder estar relacionada aos impactos das mudanças climáticas.

 

Em seu perfil no X (antigo Twitter), a neurocientista, biomédica e pesquisadora Mellanie Fontes-Dutra associou a “migração” de casos da doença aos efeitos provocados pelas alterações climáticas no planeta. Em uma sequência de publicações, ela aponta as chances do vírus OROV, causador da enfermidade, chegar a outros continentes e ressaltou a importância do desenvolvimento de vacinas nesse contexto.

 

 

“A perda de vegetação e destruição dos ecossistemas podem estar por trás do aumento da incidência dessa doença. Modelos preditivos estimam que até 5 milhões de pessoas estão em risco de exposição ao OROV nas Américas. 'Considerando a ‘natureza global das alterações ambientais e climáticas e a migração generalizada de animais e humanos, o OROV provavelmente irá se expandir para além da América do Sul num futuro próximo' (citando publicação da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos). Considerando esse cenário, o desenvolvimento de vacinas é de grande relevância, mas a realidade é que é uma doença negligenciada e relacionada aos desequilíbrios ecológicos e climáticos, com riscos de expansão e também para riscos para complicações neurológicas graves”, escreveu em trecho da sequência.

 


 

A transmissão da febre se dá através da picada do Culicoides paraensis, inseto também conhecido como maruim, mosquito do mangue ou mosquito-pólvora. O vírus da doença tem em primatas não-humanos, bichos-preguiças, aves silvestres e roedores seus hospedeiros no ciclo silvestre. Já no ciclo urbano, o ser humano é o principal afetado.

 

As recomendações para evitar a circulação da doença incluem manter os ambientes limpos e impedir a criação de ambientes propícios para a proliferação do mosquito vetor. Diferente do Aedes aegypti, que transmite a dengue, chikungunya e zika, o Culicoides paraensis não se reproduz em água parada, mas em matéria orgânica como folhas e frutas em decomposição.

 

Endêmica no Norte

 

Os primeiros casos registrados de Oropouche no Brasil aconteceram na década de 1960. A doença é considerada endêmica no Norte do país, ou seja, tem uma incidência recorrente nesta porção específica do território nacional. De acordo com o informe semanal divulgado pelo Ministério da Saúde na última quinta-feira (25/4), o Brasil já teve 3.862 casos de febre Oropouche neste ano. A maior parte da incidência se concentra no Amazonas, que teve 2.791 diagnósticos. Somada, a Região Norte concentra quase 96% dos registros brasileiros.

 

Ainda segundo o Ministério da Saúde, o número de casos registrados apresenta um aumento desde o ano passado. A alta coincide com a descentralização do diagnóstico, realizado em laboratórios de biologia molecular, hoje disponíveis em regiões antes não acessadas.

 

Semelhanças com a dengue

 

Além da transmissão acontecer a partir da picada de um mosquito, a febre Oropouche guarda semelhanças com a dengue pelos sintomas. Pessoas infectadas pelo OROV costumam apresentar dores de cabeça, musculares e nas articulações, além de náusea e diarreia.

 

O Ministério da Saúde aponta que, devido às semelhanças com a dengue e até mesmo com a chikungunya, é importante que os profissionais de vigilância sanitária e do atendimento em saúde tenham uma atenção especial para diferenciar as enfermidades. O diagnóstico é importante para alimentar os bancos de registro e guiar políticas de prevenção e controle dos vetores em áreas específicas.

 

Assim como em casos de dengue, não há um tratamento específico para a febre Oropouche. Além de procurar acompanhamento médico, os pacientes devem repousar e realizar intervenções para amenizar os sintomas.