Área próxima à lagoa Mundaú convive com rachaduras, tremores de terra e afundamento do solo desde 2018 -  (crédito: Robson Barbosa / AFP)

Área próxima à lagoa Mundaú convive com rachaduras, tremores de terra e afundamento do solo desde 2018

crédito: Robson Barbosa / AFP

O bairro Mutange, em Maceió, corre risco iminente de colapso do solo. A região, próxima ao antigo campo do Centro Sportivo Alagoano (CSA) fica acima de uma das minas da Braskem, onde a Defesa Civil local calcula um afundamento de 2,6 centímetros por hora desde a quinta-feira (30/11). O local faz parte de uma área ainda maior que já convive com o resultado de cerca de 50 anos de extração de sal-gema desde 2018.

Em relato feito ao Estado de Minas, a advogada Elizandra Candiotti falou sobre como teve de deixar o Pinheiro em 2020, um dos bairros afetados, após ter vivido por 41 anos na mesma casa. Ela é uma das 55 mil pessoas que tiveram de deixar compulsoriamente suas casas após tremores de terra, rachaduras e afundamento do solo provocarem risco iminente às estruturas e à vida dos moradores.

“Ao lado da minha casa havia um prédio de 14 andares que foi evacuado, mas minha casa não. Era um perigo, porque além do medo de desabamento, convivíamos com a insegurança de pessoas que invadiam para usar drogas e cometer furtos, além de baratas e ratos. Certo dia, um azulejo caiu na minha cozinha e, quando arrastamos o armário, percebemos uma rachadura enorme. O engenheiro da Defesa Civil foi até minha casa e disse ‘se fosse minha família eu não dormiria mais aqui hoje’”, conta.

Em vídeo gravado nesta sexta-feira (1/12) e enviado à reportagem, a advogada mostra situação no Pinheiro, um dos cinco bairros de Maceió afetados pela instabilidade no solo causada pela extração de sal-gema. Desde 2019, a região onde atua a mineradora Braskem é palco de evacuação de residências após registros de tremores de terra, rachaduras e afundamento do solo. As imagens mostram ruas desertas e prédios desocupados. Tapumes circundam terrenos onde prédios foram demolidos diante do risco de desabamento.

 

Candiotti se mudou em 2020 com dois filhos, o marido, a mãe idosa e animais de estimação. Ela recebeu uma indenização mensal de R$ 1 mil da Braskem para alugar outra residência em local seguro. Sair da zona de risco, no entanto, não foi suficiente para eliminar os problemas.

“Meu avô comprou o terreno, eu morava naquela casa desde que eu nasci. Vivi 42 anos no lugar. Quando mudamos, minha mãe teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral), ela tinha crise de pânico, não se sentia em casa”, contou.

A extração de sal-gema começa na década de 1970 pela Salgema Indústrias Químicas S/A, que se tornaria a Braskem. Em 2018, as primeiras rachaduras foram percebidas. No mesmo ano foi registrado o primeiro tremor de terra, causando a abertura de crateras no solo.

Em 2019, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) confirmou que as rachaduras e tremores foram causados pela mineração. Desde então, os bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol tornaram-se palco de evacuações forçadas de imóveis.

Na quinta-feira (30/11), a Defesa Civil de Maceió emitiu alerta para um aumento significativo na movimentação do solo na Mina 18, indicando a possibilidade de rompimento e surgimento de um sinkhole (depressão no solo).