Lasers e cirurgias ampliam opções contra o glaucoma
O glaucoma é uma doença ocular progressiva que causa danos ao nervo óptico e pode levar à cegueira irreversível. Geralmente assintomático nas fases iniciais, exige diagnóstico precoce.
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O glaucoma é uma das principais causas de perda visual irreversível no mundo e abrange um grupo de doenças que causam danos progressivos ao nervo óptico. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), essa condição está entre as principais causas de cegueira global. Como frequentemente não apresenta sintomas nas fases iniciais, o diagnóstico muitas vezes ocorre quando o paciente já apresenta algum grau de comprometimento visual.
Segundo a oftalmologista Rinalva Vaz, do Hospital de Olhos Santa Luzia (HOSL), integrante da rede Vision One, parte desse diagnóstico tardio se explica pelo perfil de quem busca atendimento: “De modo geral, observo que os pacientes que chegam com glaucoma em estágio avançado são, em sua maioria, pessoas mais idosas e que não realizam consultas oftalmológicas regulares. Muitos têm histórico familiar, mas desconhecem o risco aumentado que isso traz. Além disso, fatores como acesso limitado ao oftalmologista, dificuldade de manter acompanhamento e o próprio caráter silencioso da doença contribuem para que o diagnóstico aconteça tardiamente. Mas não posso deixar de mencionar que, por vezes, recebo também pacientes jovens com quadro avançado”.
De acordo com a classificação clínica, existem dois tipos principais da doença: o glaucoma de ângulo aberto e o glaucoma de ângulo fechado. Conforme publicação do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a abordagem terapêutica varia de acordo com o tipo e o estágio da condição — sendo possível adotar medidas clínicas, cirúrgicas ou combinadas, com o objetivo de preservar a visão e estabilizar a progressão da doença.
Tipos de glaucoma
O glaucoma de ângulo aberto é a forma mais comum da doença e tem evolução lenta e silenciosa, conforme informações do Ministério da Saúde. As lesões ocorrem gradativamente, geralmente associadas à elevação da pressão intraocular e à degeneração do nervo óptico. Já o glaucoma de ângulo fechado pode desencadear crises súbitas, com aumento rápido da pressão ocular, dor intensa e risco elevado de perda visual se não tratado com urgência.
Segundo o CBO, a definição do tratamento adequado depende da forma clínica e do estágio da doença (inicial, médio, avançado ou refratário), sendo fundamental o acompanhamento oftalmológico contínuo.
Glaucoma de ângulo aberto: opções de tratamento
Nos casos de glaucoma de ângulo aberto, o tratamento pode incluir colírios, procedimentos a laser ou cirurgias. A medicação tem como objetivo reduzir a pressão intraocular, principal fator de risco para progressão da doença. Ainda de acordo com o documento, os fármacos utilizados pertencem a classes como betabloqueadores, análogos das prostaglandinas, inibidores da anidrase carbônica e alfa-agonistas. Esses medicamentos atuam com o objetivo de estabilizar a condição, prevenindo assim o avanço de danos sofridos em decorrência da pressão intraocular.
A adesão ao tratamento, porém, nem sempre ocorre como esperado, explica a oftalmologista: “A adesão ao uso dos colírios é bastante variável. Alguns pacientes seguem corretamente, mas muitos enfrentam obstáculos: esquecimento das doses, desconforto ocular, reações adversas como alergias, custo dos medicamentos ou dificuldade motora para aplicar o colírio. Por isso, costumo revisar a técnica de aplicação, simplificar os esquemas sempre que possível com uso de combinação fixa de drogas em um único colírio e reforçar a importância da regularidade para controlar a pressão intraocular e evitar progressão”.
A trabeculoplastia a laser é indicada para os estágios iniciais e intermediários. O procedimento utiliza feixes de laser para melhorar a drenagem do fluido intraocular, reduzindo a pressão dentro do olho. Segundo o CBO, os parâmetros do laser e a definição da área a ser tratada são individualizados, conforme avaliação oftalmológica.
Em estágios mais avançados, o Conselho explica que podem ser indicadas cirurgias como a trabeculectomia com Mitomicina C, considerada o padrão ouro. Nessa técnica, a Mitomicina C é aplicada no local da cirurgia para melhorar o resultado. Antes disso, porém, a Dra. Rinalva destaca que técnicas minimamente invasivas, conhecidas como MIGS, também podem ser consideradas em casos de glaucoma moderado.
Outra alternativa citada é o implante de tubo, em que um dispositivo de silicone é inserido na câmara anterior do olho e conectado a uma placa de drenagem externa. O método é considerado em casos em que outros procedimentos não foram bem-sucedidos ou quando a pressão ocular permanece elevada.
A ciclofotocoagulação é recomendada para pacientes com glaucoma refratário, dor ocular ou baixa visão. Ainda de acordo com a revista, a técnica atua na redução da atividade do corpo ciliar, estrutura que produz o humor aquoso, contribuindo para a diminuição da pressão intraocular.
Glaucoma de ângulo fechado: intervenções específicas
No glaucoma de ângulo fechado, a principal causa está relacionada ao bloqueio da pupila, impedindo a comunicação entre as câmaras anterior e posterior do olho. A primeira linha de tratamento recomendada pelo CBO é a iridotomia a laser, que consiste na criação de um pequeno orifício na íris para permitir o escoamento do fluido ocular e prevenir crises agudas.
Quando a iridotomia não é suficiente para restabelecer o ângulo de drenagem, a indicação pode ser a iridectomia cirúrgica — procedimento que remove parte da íris para facilitar o fluxo do humor aquoso.
Para pacientes que demonstram medo ao receberem essa indicação, a Dra. Rinalva costuma explicar de forma clara por que a intervenção é necessária: “Procuro explicar por que ela está sendo indicada. Mostro que o objetivo da cirurgia é preservar a visão que ainda existe, já que as perdas não são recuperáveis. Descrevo o procedimento, os cuidados e o que esperar no pós-operatório, porque perceber que é algo mais simples do que imaginavam costuma reduzir bastante a ansiedade”.
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