ABCD aponta cinco temas que podem impactar o crédito em 2026
Análise da associação destaca ainda a nova metodologia do BC e do CMN para apuração do limite mínimo de capital para instituições financeiras como medida que afetará o segmento.
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Ainda fortemente afetado pela taxa básica de juros a 15% ao ano e, consequentemente, por um ambiente econômico desafiador, o mercado de crédito também deve ser impactado, em 2026, por uma série de medidas regulatórias e avanços relacionados à securitização digital e à duplicata escritural. As conclusões são da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), representante das fintechs de crédito.
De acordo com a entidade, a expectativa pela redução da taxa de juros tende a continuar pautando o segmento, uma vez que vem afetando tanto os consumidores quanto as instituições que oferecem crédito. “Ao mesmo tempo em que penaliza os tomadores, já que os recursos ficam mais caros, a Selic em alta impede também que o mercado ofereça taxas mais competitivas. Assim, a eventual redução pode ter um impacto muito positivo no próximo ano”, analisa Daniel Gomes, vice-presidente da ABCD.
Segundo as mais recentes edições do Boletim Focus, que resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado, os economistas apostam que o próximo ano termine com uma taxa de juros de 12% e que, em 2027, o índice chegue a 10,5%.
Gomes pondera ainda que a nova metodologia de capital mínimo para instituições financeiras, publicada pelo Banco Central e Conselho Monetário Nacional (CMN) no começo de novembro, pode “resultar em uma movimentação muito grande, principalmente entre as fintechs. É possível que algumas empresas entreguem suas licenças ao mesmo tempo em que outras consolidem sua posição no mercado”, afirma o executivo.
Entre as principais iniciativas que podem impactar o setor de crédito digital em 2026, a ABCD destaca:
1) Regulamentação do Banking as a Service (BaaS): anunciada pelo Banco Central e pelo CMN em 28 de novembro, a medida regulamentou a prestação de serviços na modalidade que permite a empresas de outros segmentos oferecer produtos e serviços financeiros por meio da infraestrutura de instituições autorizadas a funcionar pela autoridade monetária. Com o objetivo de mitigar eventuais riscos aos clientes, as regras definem quais são as partes envolvidas no modelo de negócio de BaaS e suas responsabilidades, incluindo ainda questões como governança corporativa, requisitos de segurança e gerenciamento de riscos. Aprimorando a transparência e a segurança jurídica, a regulamentação tende a fortalecer o uso do BaaS e a ampliar a concorrência.
2) Atualização da Resolução CVM 88: em consulta pública até 23 de dezembro deste ano, a proposta para reformar a norma, que trata das ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários de emissão de sociedades empresárias de pequeno porte, realizadas com dispensa de registro por meio de crowdfunding de investimento, deve trazer avanços ao abrir espaço para a tokenização de ativos e securitização digital. A ampliação do escopo, combinada à modernização, deve impactar não somente as fintechs, mas também as instituições financeiras tradicionais e FIDCs, na esteira do avanço da digitalização das dívidas.
3) Redução da Selic: em seu maior patamar em quase 20 anos, a taxa básica de juros em 15% ao ano seguirá como uma das pautas recorrentes do setor de crédito. Ainda que seja grande a expectativa pela redução do índice, a tendência é que esse movimento só comece no primeiro semestre de 2026. Segundo o Boletim Focus, a aposta é que o próximo ano termine com uma taxa de juros de 12%.
4) Novas exigências para as instituições financeiras: publicada no começo de novembro, a nova metodologia de apuração do limite mínimo de capital social integralizado e de patrimônio líquido das instituições financeiras (IFs) e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central deve promover uma intensa movimentação no mercado, principalmente no que diz respeito às Sociedades de Crédito Direto (SCDs) e Sociedades de Empréstimo entre Pessoas (SEPs). Nesse contexto, é possível que o segmento de fintechs seja o mais afetado, com alguns players entregando suas licenças ao mesmo tempo em que outros se consolidam no mercado.
5) Avanço da duplicata escritural: prevista para entrar em vigor em 2026, a duplicata escritural tende a representar uma evolução importante para o fluxo de tomada de crédito lastreado em recebíveis, junto aos agentes financiadores. Ao final da implementação do modelo, toda negociação de duplicatas passará pelo ambiente de escrituração e registro, que terá a responsabilidade de garantir a unicidade do recebível, além da transparência de informações quanto à titularidade, liquidação e eventuais efeitos de negociação. A tendência é que a duplicata escritural impulsione o mercado de crédito, beneficiando principalmente pequenas e médias empresas, uma vez que proporcionará maior segurança jurídica e menores riscos para emissão desses títulos pelas pessoas jurídicas.