O contínuo avanço global e as desconstruções geracionais têm levantado uma pauta importante e pouco fundamentada ao longo dos anos: a saúde mental no meio corporativo. Uma questão relevada não só pelo público, mas que expõe uma verdadeira preocupação entre as entidades responsáveis e por regulamentações como a NR-1, que por sua vez, visa as responsabilidades do empregador e empregado em relação à segurança e saúde no ambiente de trabalho, estabelecendo diretrizes gerais.

Um estudo realizado pela OMS estimou que 400 bilhões anuais foram perdidos devido a questões de saúde mental, resultantes de baixa produtividade, afastamentos e rotatividade entre os funcionários. O objetivo principal de contornar essa situação e aplicar mudanças na cultura organizacional trouxe a Inteligência Artificial como um meio resolutivo, pontuando a capacidade do sistema de dissolver problemas e de rapidamente viabilizar novas oportunidades, porém envolve a ausência de empatia ou humanidade de uma máquina que não saberia intervir emocionalmente nesse tipo de situação.

“Um ponto que merece atenção é a erosão da cognição humana em nome da produtividade. Ao delegarmos à IA tarefas como redação de textos, organização de ideias ou tomada de decisões simples, começamos a abrir mão de habilidades cognitivas fundamentais, como memória de trabalho, pensamento crítico e criatividade. A sensação de “otimização constante” pode parecer eficiente, mas há um custo oculto: o empobrecimento da nossa capacidade de pensar de forma profunda, sustentar argumentos complexos ou até lidar com o tédio, que é essencial para a reflexão e o aprendizado”, disse André Barcaui, professor, consultor sênior e especialista em Inteligência Artificial.

Essa regulamentação implica ainda que as próprias organizações identifiquem perigos, avaliem os riscos e implementem medidas de controle, mediante os riscos psicossociais que esses funcionários apresentam. Portanto, o questionamento precisa vir de um gestor que está encarregado de equilibrar o ambiente e que, ao integrar qualquer ferramenta, deve se perguntar: como o contexto corporativo pode afetar a saúde mental? Como a IA pode entrar como um agente que controle? E como podemos fortalecer as competências humanas para que a IA seja apenas um adicional?

Além disso, há também uma norma que impõe limites para o uso da própria IA. O projeto de Lei (PL) 2338/2023, trata da regulação da inteligência artificial no Brasil, com foco no desenvolvimento, fomento e uso ético e responsável da IA, colocando a pessoa humana como centro, o que é exatamente o que deve ser explorado em um ambiente com foco em produtividade, mas que sobretudo busque o relacionamento, troca de ideias e instigue a autonomia dos colaboradores.

“Discutir os efeitos da inteligência artificial sobre a saúde mental não é uma negação do progresso tecnológico, mas um chamado urgente à responsabilidade coletiva. Precisamos de mais pesquisas, políticas públicas e espaços de escuta para entender como proteger o bem-estar emocional e cognitivo em uma era cada vez mais mediada por máquinas. A saúde mental também precisa de atualização e a sociedade precisa estar preparada para isso”, acrescentou André.

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