Faz pouco tempo que a norte-americana Venessa Johnson começou a cuidar do cãozinho Ollie, mas eles pareciam se conhecer de outras vidas. O filhote de shih-tzu tinha focinho, os trejeitos e o olhar do seu antigo pet, Oliver, que morreu em dezembro do ano passado. Mas não era coincidência: Ollie é o clone de Oliver. Para o processo, Johnson desembolsou US$ 50 mil (R$ 276 mil). 

“Foi estranho porque eram os olhos de Oliver me olhando, mas não era ele por completo”, contou a mulher em entrevista ao NYPost. A clonagem de animais de estimação é possível graças aos avanços da biotecnologia. 

@venessamj Here’s Ollie at 8 weeks playing at the puppy playground. He’s super confident in this video. #fyp #cloneddog #petgrief #puppy ? original sound - Venessa Johnson

A novidade replica geneticamente cães e gatos a partir de amostras de tecido coletadas antes da morte do animal original. O método é o mesmo empregado na clonagem da ovelha Dolly, em 1996. Nesse processo, o núcleo de uma célula do animal original é inserido em um óvulo doador sem núcleo. O embrião resultante é implantado em uma mãe de aluguel, que gesta o filhote clonado.

@venessamj Oliver was my constant companion. I miss this little face so so much. #viagenpets #dogcloning #pet #dog #love ? Golden Hour - Kacey Musgraves

Venessa não é a primeira a fazer isso. O ex-jogador de futebol americano e ex-marido de Gisele Bundchen, Tom Brady, não apenas clonou a cadela Lua como também investiu na tecnologia responsável pelo procedimento.

Para defensores da prática, a clonagem representa um avanço científico capaz de prolongar, de certa forma, o vínculo entre humanos e seus animais. Já os críticos alertam para um terreno ético delicado, que envolve desde o uso de mães de aluguel até o estímulo a uma indústria que ignora a superlotação de abrigos.

Organizações como a PETA e a ASPCA se posicionam firmemente contra a clonagem de pets, defendendo a adoção como alternativa mais ética e socialmente responsável.

A ViaGen, empresa especializada nesse tipo de procedimento, afirma ter uma taxa de sucesso próxima de 80%. Um estudo da Universidade Columbia, publicado em 2018, estimava um índice bem menor, em torno de 20%, e questionava os benefícios médicos da prática.

Força em meio ao luto

Venessa resgatou Oliver em 2013 e, desde então, os dois viveram uma grande amizade. Mas, quando o pet morreu, nas vésperas do Natal, a mulher de 48 anos sofreu um luto profundo. 

“Eu estava pesquisando no Google ‘o que fazer após a perda do seu cachorro’ quando apareceu algo sobre clonagem. Aquilo me deu esperança, um raio de esperança de ter um pedaço do Oliver ainda vivo”, contou.

Mesmo contrariando amigos e familiares, ela decidiu seguir adiante e investiu US$ 50 mil (R$ 276 mil) no processo. Hoje, fora do auge da dor, ela questiona o investimento. “Não tomaria essa decisão novamente. Há tantos cachorros incríveis em abrigos”, refletiu.

Ainda assim, semanas após levar Ollie para casa, Johnson admite sentir conforto nas semelhanças. “O jeito de andar, de correr na grama, de se aconchegar na cama… tudo me lembra o Oliver. Não é algo simples.”

Três clones de um só

Em Seattle, a desenvolvedora de software Kay, de 37 anos, não fez apenas um clone do cão Feto – um pinscher de 18 anos – mas três. “Foi como atravessar o universo e voltar no tempo”, descreveu. Apesar da semelhança física e de comportamentos idênticos — como o choramingo específico para pedir para ir ao banheiro — Kay reconhece diferenças individuais entre os cães. “Cada um herdou uma parte diferente dele”, destacou.

Especialistas destacam que a clonagem não gera réplicas perfeitas dos pets. Ou seja, eles podem ser muito parecidos na aparência, mas ter personalidades diferentes. Isso ocorre por conta dos fatores ambientais e comportamentais. 

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Assim como Venessa, Kay também repensou a decisão. “Espere. Você não quer decidir algo tão grande quando está devastado”, aconselhou. 

Um dos criadores da ovelha Dolly, o cientista britânico Ian Willmut morreu em setembro de 2023. A informação foi divulgada pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, onde ele era professor e patrono. Reprodução TV Globo
O experimento transplantou em óvulos (com DNA retirado) o material extraído de células adultas. Com um estímulo elétrico, houve a indução para que os óvulos não fertilizados se transformassem em células-tronco embrionárias. Squidonius/Wikimédia Commons
Os cientistas disseram que o embrião humano foi produzido a partir de métodos semelhantes aos utilizados na clonagem da ovelha Dolly. Reprodução de Twitter
Em 2013, a revista científica Cell divulgou estudo de um grupo da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, nos Estados Unidos, que resultou na clonagem bem-sucedida de um embrião humano. Reprodução de vídeo TV Globo
Pesquisadores americanos conseguiram clonar com sucesso uma doninha-de-patas-pretas e um cavalo-de-przewalski, ambos animais sob risco de extinção. Reprodução
Nesse experimento, foram quase 150 embriões de primatas clonados e somente esses dois macacos vingaram. Reprodução de vídeo TV Globo
Após a clonagem de Dolly, outros mamíferos foram replicados com a mesma tecnologia. Em janeiro de 2018, nasceram na China os dois primeiros primatas clonados, os macacos Zhong Zhong e Hua Hua. Imagem Freepik
As células iPS, cuja descoberta renderam ao médico japonês Shinya Yamanaka o Nobel de Medicina em 2012, fazem parte de estudos sobre doenças diversas. - Imagem de Arek Socha por Pixabay
Células-tronco embrionárias são aquelas encontradas no interior do embrião, capazes de se transformar em qualquer célula adulta. - Imagem Freepik
Entre os avanços obtidos a partir da clonagem de Dolly está a contribuição na descoberta das células iPS (células adultas reprogramadas em laboratório para retomar propriedades de células-tronco embrionárias) por cientistas japoneses. Reprodução de vídeo TV Globo
A clonagem de Dolly gerou intenso debate sobre ética e ciência, tema que segue em pauta com a evolução do procedimento. Imagem Freepik
À época, Harry Griffin, diretor do Instituto Roslin, declarou que a doença que atingiu os pulmões de Dolly é típica de ovelhas mais velhas. Diante do rápido avanço da enfermidade, a ovelha precisou ser sacrificada pelos veterinários. Imagem Freepik
Dolly morreu em 2002, com seis anos e sete meses de idade, depois que os veterinários detectaram uma infecção em seus pulmões. Reprodução de vídeo TV Globo
O nome de batismo da ovelha foi uma homenagem à cantora norte-americana de música country Dolly Parton. Reprodução de vídeo TV Globo
O rosto branco foi a característica que deu aos cientistas a certeza de que se tratava mesmo de um clone, pois a ovelha que deu à luz Dolly tinha rosto preto. Assim, ficou constatada ser apenas uma “mãe de aluguel”. Reprodução de vídeo TV Globo
No experimento, foram clonados no total 277 embriões, mas apenas Dolly conseguiu sobreviver. - Reprodução de vídeo TV Globo
A clonagem de Dolly foi realizada por cientistas do Instituto Rolin, no Reino Unido, a partir da extração de uma célula da glândula mamária de outra ovelha. Reprodução de vídeo TV Globo
A notícia só foi divulgada em fevereiro de 1997, quando tornou-se manchete e ganhou repercussão pelo mundo. Reprodução de recorte de jornal
No dia 5 de julho de 1996, nasceu na Escócia a ovelha Dolly, resultado da primeira clonagem bem-sucedida de um mamífero a partir de uma célula somática adulta. Reprodução de vídeo TV Globo
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