A Conquista em duas fotos: Bandeiras e Propaganda
compartilhe
Siga no
JÚLIO MOREIRA
Erguer uma bandeira num campo de batalha vai além de marcar território — é um gesto carregado de significado. Foi assim em Iwo Jima, no Pacífico, e no Reichstag, em Berlim, no fim da Segunda Guerra. Nessas duas cenas, o que parecia só um ato simbólico virou imagem histórica, usada por potências em momentos decisivos. Apesar das semelhanças, os bastidores e o impacto desses registros são bem diferentes.
No dia 23 de fevereiro de 1945, seis fuzileiros navais dos EUA levantaram a bandeira americana no alto do Monte Suribachi, em Iwo Jima. A foto feita por Joe Rosenthal virou ícone imediato. Representava a bravura dos soldados e o custo da guerra — só nessa batalha, mais de 6 mil americanos morreram. A imagem, que parecia um flagrante simples, acabou sendo usada pelo governo em campanhas para levantar fundos e virou até monumento. Era o símbolo perfeito: esforço, sacrifício e vitória.
Iwo Jima e Berlim: fotos icônicas mostram como a guerra venceu também no imaginário, com bandeiras erguidas como símbolo de poder e vitória
Pouco tempo depois, em 2 de maio de 1945, Yevgeny Khaldei, fotógrafo soviético, registrou a bandeira da URSS no alto do Reichstag, em Berlim. Só que, nesse caso, a foto foi montada. Khaldei levou a bandeira, feita com toalhas pelo tio, e pediu que soldados ajudassem a recriar o momento. O prédio já tinha sido tomado, mas a imagem precisava ser feita — e impactar. Mais tarde, o nome dos soldados na foto foi alterado por razões políticas, e até um relógio foi apagado para evitar suspeitas de saque. Mesmo assim, a foto virou símbolo do fim do nazismo e da chegada soviética ao centro da Europa.
Tanto nos EUA quanto na URSS, essas imagens viraram memória nacional. Em Iwo Jima, o destaque foi o heroísmo individual; em Berlim, a vitória coletiva e o poder do Estado. As duas fotos mostram como a guerra também se vence no imaginário — transformando cenas de conflito em marcos históricos. Seja no topo de um vulcão ou no telhado de um parlamento, essas bandeiras representaram mais que vitória militar: foram formas de contar a história à maneira de quem venceu.