80 anos do fim da segunda guerra 

Conferência de Yalta: o início da guerra fria

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Júlio Moreira

“Stálin saiu de Yalta com tudo o que queria, enquanto Roosevelt e Churchill tiveram que aceitar que a influência soviética no Leste Europeu era inevitável.” A afirmação do historiador Eric Hobsbawm resume o impacto da Conferência de Yalta, um evento que, longe de garantir uma paz duradoura, pavimentou o caminho para um novo conflito global. O Estado de Minas publica hoje a segunda parte da série sobre os eventos marcantes que simbolizaram o fim da Segunda Guerra Mundial, destacando como a rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética começou a tomar forma nesse encontro histórico. Embora a reunião entre os líderes das principais potências aliadas tenha sido conduzida sob o ideal da cooperação, as divergências ideológicas e os interesses conflitantes já indicavam que o mundo entraria em uma nova era de tensão: a Guerra Fria.


Realizada entre os dias 4 e 11 de fevereiro de 1945, a conferência reuniu Franklin D. Roosevelt, presidente dos Estados Unidos; Winston Churchill, primeiro-ministro britânico; e Joseph Stálin, líder soviético, com o objetivo de definir os rumos do mundo pós-guerra. Durante uma semana de intensas negociações no Palácio Livadia, na Crimeia, os três líderes traçaram os novos limites territoriais da Europa, pactuaram o destino da Alemanha e discutiram a reconfiguração da geopolítica mundial.


Naquele momento, a Alemanha nazista estava à beira do colapso. As tropas soviéticas cercavam Berlim pelo leste, enquanto os Aliados avançavam pelo oeste. No Pacífico, os Estados Unidos pressionavam o Japão e buscavam o comprometimento da União Soviética em ingressar no conflito asiático. Mas, mais do que a derrota do Eixo, a conferência consolidou o embate entre dois modelos de mundo opostos: o capitalismo ocidental e o socialismo soviético.


Os acordos firmados em Yalta não apenas definiram a partilha do pós-guerra, mas também lançaram as bases para um novo cenário de disputa global, não mais travado nos campos de batalha tradicionais, mas no tabuleiro da política, da economia e da tecnologia. A criação de instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU) tentava estabelecer um equilíbrio, mas as esferas de influência traçadas na conferência aprofundaram as desconfianças e rivalidades.


O que deveria ser um marco de estabilidade global tornou-se, na prática, o primeiro ato da Guerra Fria, um período de confrontos indiretos, espionagem, corrida armamentista e embates ideológicos que redefiniriam o século 20 e além.


Yalta: O Encontro que redefiniu o mundo

Em fevereiro de 1945, Roosevelt, Churchill e Stálin delinearam o cenário global. A conferência selou o destino da Alemanha, fortaleceu a URSS e lançou a ONU, mas abriu caminho para a Guerra Fria

Entre os dias 4 e 11 de fevereiro de 1945, a cidade de Yalta, na Crimeia, foi palco de uma das reuniões mais decisivas da Segunda Guerra Mundial. Os três principais líderes aliados – Franklin D. Roosevelt (EUA), Winston Churchill (Reino Unido) e Joseph Stálin (URSS) – se reuniram no Palácio Livadia para traçar o futuro da Europa e definir os rumos do pós-guerra. O encontro ocorreu em um momento em que a derrota da Alemanha nazista era iminente: as tropas soviéticas cercavam Berlim, enquanto as forças anglo-americanas avançavam pelo oeste. No Pacífico, os EUA buscavam apoio soviético para apressar o fim da guerra contra o Japão.


Mais do que um esforço para consolidar a paz, a conferência acabou delineando as fronteiras políticas do mundo no século 20 e lançando as bases para a Guerra Fria.

Dentre os acordos  em Yalta, um dos principais foi a divisão da Alemanha e de sua capital, Berlim, em quatro zonas de ocupação controladas por EUA, Reino Unido, União Soviética e França

Dentre os acordos em Yalta, um dos principais foi a divisão da Alemanha e de sua capital, Berlim, em quatro zonas de ocupação controladas por EUA, Reino Unido, União Soviética e França

reprodução


Decisões Cruciais para o Pós-Guerra


Dentre os acordos firmados em Yalta, um dos principais foi a divisão da Alemanha e de sua capital, Berlim, em quatro zonas de ocupação controladas por EUA, Reino Unido, União Soviética e França. Os Aliados também concordaram que o país deveria pagar reparações de guerra, embora sem definir valores exatos.


Outro ponto determinante foi a expansão territorial da União Soviética. Stálin garantiu a anexação dos países bálticos e a realocação da Polônia para o oeste, ocupando parte do antigo território alemão. Além disso, comprometeu-se a entrar na guerra contra o Japão três meses após a rendição alemã. Em troca, a URSS recebeu concessões territoriais no Extremo Oriente, como a ilha de Sacalina e as Ilhas Curilas.


A conferência também selou a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), uma prioridade para Roosevelt, que conseguiu garantir a participação soviética na entidade. Foi acordado que o Conselho de Segurança teria cinco membros permanentes – EUA, URSS, Reino Unido, França e China –, todos com poder de veto.


Tensões Entre os Aliados


Apesar dos acordos, a reunião foi marcada por divergências. Churchill defendeu a realização de eleições livres nos países libertados, principalmente na Polônia. Stálin, no entanto, já havia estabelecido um governo comunista provisório em Varsóvia e não se comprometeu com garantias democráticas.


Nos bastidores, o primeiro-ministro britânico demonstrou crescente preocupação com a expansão soviética no Leste Europeu. Com o Exército Vermelho ocupando boa parte da região, Churchill temia que os soviéticos estabelecessem governos comunistas, tornando-se uma ameaça ao Ocidente.

Os Desdobramentos de Yalta


Após a conferência, os líderes retornaram aos seus países para aplicar os acordos firmados. No entanto, o cenário global mudou rapidamente. Em abril de 1945, Roosevelt faleceu e foi substituído por Harry Truman, que adotou uma postura mais dura contra a União Soviética. Em maio, a Alemanha assinou sua rendição incondicional, e poucos meses depois os EUA testaram sua nova arma secreta: a bomba atômica.


Em julho, na Conferência de Potsdam, Truman, Churchill (substituído depois por Clement Attlee) e Stálin se reuniram novamente. O clima, no entanto, foi muito mais tenso. Os EUA já encaravam a União Soviética como um novo adversário, enquanto Stálin consolidava sua influência no Leste Europeu.


Menos de dois anos depois, os acordos de Yalta foram ofuscados pelo início da Guerra Fria. Em 1947, Truman lançou a Doutrina Truman, marcando o compromisso dos EUA em conter a expansão comunista. Churchill, que antes buscava equilíbrio entre as potências, denunciou o avanço soviético ao falar sobre a “Cortina de Ferro” que dividia a Europa.


Paz ou Prenúncio de um Novo Conflito?

Embora tenha representado um marco na transição para o pós-guerra, a Conferência de Yalta é vista por muitos historiadores como um ponto de inflexão que favoreceu excessivamente a União Soviética. Na prática, Stálin já controlava militarmente grande parte da Europa Oriental, deixando poucas alternativas para os líderes ocidentais sem arriscar um novo conflito.


Diante do avanço soviético, Churchill chegou a cogitar um plano de ataque contra a URSS – a chamada Operação Impensável –, mas os estrategistas britânicos concluíram que a ideia era inviável. Assim, o encontro que deveria consolidar a paz mundial acabou pavimentando o caminho para um novo embate global.


A Guerra Fria já estava em gestação, e o mundo, em vez de se unir após a vitória contra o nazismo, mergulhou em uma nova era de rivalidade entre dois blocos opostos: Ocidente e Oriente, capitalismo e comunismo, Estados Unidos e União Soviética.

Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt e Joseph Stálin

Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt e Joseph Stálin

Reprodução

Intenções de cada líder

Winston Churchill

Churchill tornou-se primeiro-ministro em 1940, liderando o Reino Unido contra a ameaça nazista. Rejeitou negociações de paz com Hitler e inspirou a resistência britânica, especialmente durante a Batalha da Inglaterra. Foi um dos principais arquitetos das alianças com os EUA e a URSS. Supervisionou a invasão da Normandia e a libertação da Europa Ocidental. Apesar da vitória, seu país saiu enfraquecido, e ele perdeu as eleições logo após a guerra.

Franklin D. Roosevelt

Roosevelt manteve os EUA neutros até o ataque a Pearl Harbor em 1941. Após declarar guerra ao Eixo, coordenou o esforço industrial e militar, apoiando os Aliados pelo programa Lend-Lease. Comandou as forças americanas na Europa e no Pacífico, organizando o Dia D e impondo sanções ao Japão. Criou a ONU para garantir a paz pós-guerra. Morreu em abril de 1945, pouco antes da vitória, sendo sucedido por Harry Truman.

Joseph Stálin

Stálin liderou a União Soviética contra a Alemanha nazista após a invasão nazista em 1941 (Operação Barbarossa). Ele mobilizou a economia e a população, suportando o cerco de Leningrado e a batalha de Stalingrado. Comandou a contraofensiva soviética, expulsando os nazistas do Leste Europeu e conquistando Berlim em 1945. Sua liderança brutal garantiu a vitória, mas à custa de milhões de vidas e da imposição do comunismo na Europa Oriental.

O que eles queriam


• Garantir a independência da Polônia: O Reino Unido entrou na guerra em 1939 para defender a Polônia e Churchill queria preservar sua soberania, evitando que ela caísse totalmente sob o controle soviético.

• Equilibrar o poder na Europa: Embora reconhecesse a influência soviética no Leste Europeu, queria minimizar a expansão do comunismo e garantir alguma presença ocidental na região.

• Fortalecer a posição britânica na nova ordem mundial: O Reino Unido estava enfraquecido economicamente e Churchill buscava apoio dos EUA para manter sua influência geopolítica.

• Evitar um novo conflito com a URSS: Ele sabia que os soviéticos tinham uma enorme vantagem militar na Europa e, na prática, não havia como enfrentá-los sem uma nova guerra.

• Garantir a reconstrução econômica da Europa: A estabilidade do continente era crucial para o Reino Unido, que dependia do comércio com seus vizinhos.

• Criar a ONU para evitar futuros conflitos: Seu principal objetivo era estabelecer uma organização internacional que promovesse a paz e impedisse uma nova guerra global.

• Assegurar a cooperação da URSS na guerra contra o Japão: A guerra no Pacífico ainda estava em andamento, e Roosevelt queria que Stálin entrasse no conflito após a derrota da Alemanha.

• Evitar o isolacionismo americano: Ele temia que os EUA voltassem à política de não intervenção que haviam seguido após a Primeira Guerra Mundial.

• Evitar confrontos diretos com Stálin: Roosevelt acreditava que manter boas relações com a URSS era a melhor maneira de garantir a estabilidade mundial no pós-guerra.

• Garantir a participação dos EUA na reconstrução mundial: Ele via os EUA como os líderes da nova ordem global e queria posicioná-los no centro das decisões políticas e econômicas.

• Garantir uma zona de influência no Leste Europeu: Stálin queria assegurar o controle sobre os países libertados pelo Exército Vermelho, criando uma barreira de proteção contra futuras ameaças à URSS.

• Dividir a Alemanha: Ele defendia a repartição do país para impedir que se tornasse novamente uma potência militar.

• Obter reparações de guerra: Exigia compensações financeiras, maquinário e até mão-de-obra para reconstruir a URSS, que estava devastada pelo conflito.

• Modificar as fronteiras da Polônia: Pretendia expandir o território soviético à custa da Polônia e anexar os países bálticos.

• Participar da criação da ONU: Concordou em apoiar a organização, desde que a URSS tivesse influência significativa dentro dela.

• Garantir um acordo com os Aliados antes do fim da guerra: Como suas tropas já dominavam o Leste Europeu, Stálin sabia que poderia negociar em uma posição de força.

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