Acampamentos como forma de protesto, confrontos com a polícia, detenções em massa: para alguns observadores, as manifestações nos campi universitários dos Estados Unidos devido à guerra de Israel contra o Hamas em Gaza provocaram uma sensação de déjà vu.

Nas décadas de 1960 e 1970, profundas divisões políticas marcaram os protestos estudantis originados de outro conflito: a Guerra do Vietnã. 

Os apelos às universidades americanas para que cortem laços com Israel também lembram os feitos na década de 1980 para boicotar os investimentos na África do Sul, devido ao apartheid.

A professora e historiadora de Harvard Julie Reuben, que pesquisou o ativismo estudantil, conversou com a AFP sobre os protestos atuais e suas semelhanças e diferenças com os anteriores.

- Quando surgiram os protestos estudantis anteriormente? - 

- O período mais importante de protestos estudantis nos Estados Unidos, e também em muitos outros países, foi a década de 1960. Os primeiros realmente grandes ocorreram em 1964. De 1968 a 1972, houve inúmeras manifestações. 

Os temas eram variados: direitos civis, questões raciais. A Guerra do Vietnã foi uma grande questão. Houve também protestos pelos direitos e liberdades dos próprios estudantes, e outros pelos direitos das mulheres...

Nunca houve outro momento como aquele, de seis anos de manifestações intensas e variadas em muitos, muitos campi universitários dos Estados Unidos. Foi um período único. 

É também verdade que desde então têm havido protestos frequentes, por vezes pequenos, surgidos localmente e por vezes se espalhando a nível nacional, como a exigência de desinvestimento na África do Sul (durante o apartheid). 

- Como são comparados aos protestos atuais? -

- Houve muita resistência à exigência de não investir na África do Sul; foram necessários muitos anos de ativismo para que diversos campi a adotassem. As pessoas não achavam necessariamente que seria bom que as universidades adotassem essa abordagem. 

A Guerra do Vietnã foi um tema muito controverso. Muitos pensaram que era uma guerra imoral... Mas também, no início, muitos estudantes acreditaram que era "antiamericano" protestar contra a guerra.

(Hoje) esta questão também provoca divisões muito emocionais. É algo que não víamos desde a Guerra do Vietnã.

- Como avaliar o número de manifestantes? -

- As manifestações não tiveram a escala das da década de 1960, mas penso que a velocidade com que se espalharam pelos campi é muito surpreendente.

- Como as universidades responderam, naquela época e agora? - 

- Durante a década de 1960, as autoridades universitárias ficaram indignadas que os estudantes se atreveram a protestar desta forma. Houve muita repressão. Mas também houve um padrão que se tornou evidente no final da década: quanto mais forte a repressão (presença policial, prisões), maiores se tornavam as manifestações. 

As instituições começaram a perceber que talvez fosse melhor tolerar os protestos e não responder de forma primitiva. Que isso de alguma forma os faria desaparecer mais rapidamente.

A partir dos anos 1970, e até pouco tempo, as universidades frequentemente responderam aos protestos com algumas ações disciplinares, mas não de forma muito dura. 

É surpreendente, então, que tantas universidades estejam atualmente recorrendo à polícia, uma atitude que era muito comum na década de 1960, mas que muitos reconhecem não ter sido bem-sucedida.

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