Da primeira edição dos Jogos Olímpicos em Atenas, em 1896, até a última de Tóquio 2020, realizada em 2021 devido à pandemia de covid-19, esta é uma seleção dos atletas que marcaram seus nomes na competição por seus recordes, conquistas e vidas extraordinárias.

Spyridon Louis: o primeiro maratonista olímpico que entregava água

Spyridon Louis trabalhava nos campos e levava água para Atenas várias vezes por semana. Ele era um jovem de 24 anos muito bem treinado. Ao entrar no Estádio Panatenaico em 10 de abril de 1896, após ter corrido a primeira maratona dos Jogos Olímpicos modernos em 2h58min50s, não apresentava sinais de cansaço. Seu primeiro rival entrou sete minutos depois. 

Muito apaixonado, queria impressionar sua futura esposa Helena, algo que conseguiu. O Comitê Olímpico então lhe deu uma carroça para transportar água e 25 mil dracmas, quantia muito significativa naquela época. Mas o atleta com um bigode imponente desistiu do dinheiro, alegando ter disputado por seu país.

Ele se tornou um herói nacional e foi o porta-bandeira grego na cerimônia de abertura dos Jogos de Berlim em 1936. Na Grécia, até hoje existe a expressão "correr como um Louis".

Paavo Nurmi, cinco ouros em 1924

Campeão solitário e ascético, o 'Finlandês voador' foi o líder absoluto da média e longa distância entre 1920 e 1932, acumulando 12 medalhas olímpicas (nove de ouro) e 22 recordes mundiais, desde os 1.500m aos 20 km. 

Órfão aos 13 anos, Nurmi cuidou da família praticando diversos ofícios manuais até descobrir sua vocação como atleta, aos 19 anos, quando cumpria o serviço militar.

Estreou os Jogos Olímpicos em 1920 na Antuérpia, onde venceu duas medalhas de ouro e uma prata. Quatro anos mais tarde, em Paris, se tornou o primeiro (e até agora o único) atleta a faturar cinco ouros em uma só edição.

Essa façanha inclui uma vitória com facilidade nos 1.500m e, apenas uma hora depois, nos 5.000m. Dois dias mais tarde, competiu na prova de cross country em uma sombra de 45 graus. Dos 38 participantes da largada, 23 abandonaram, mas Nurmi, impassível, conquistou a vitória. 

Apenas em 2004 o seu feito foi repetido, com o marroquino Hicham El Guerrouj faturando a dobradinha dos 1.500-5.000m.

Nurmi revolucionou os métodos de treinamento: ele corria com um cronômetro na mão, realizava três sessões diárias de preparação em distâncias e terrenos variados, praticava ginástica sueca, tomava banhos quentes e recebia massagens duas vezes por semana. 

A Federação Internacional acabou por considerá-lo um "profissional" e por isso foi excluído dos Jogos de 1932.

Suzanne Lenglen, a primeira estrela do tênis

Com o apelido de 'Divina', Suzanne Lenglen foi a primeira estrela do tênis feminino. 

Nascida em 1899, jogou a final do Campeonato Francês com 15 anos. Em 1919, conquistou o primeiro de seus seis títulos em Wimbledon.

No ano seguinte, foi uma das rainhas dos Jogos de Antuérpia, com medalha de ouro no simples e duplas mistas e bronze em duplas.

Lenglen não perdeu uma única partida entre 1919 e 1926. 

Ela morreu de leucemia em 4 de julho de 1938.

Johnny Weissmuller, de recordista mundial às telas de cinema

No verão de 1924, os parisienses foram à piscina olímpica de Tourelles para acompanhar as façanhas aquáticas de Johnny Weissmuller e admirar sua plasticidade: 86 kg de puro músculo espalhados em 1,90m de altura. 

Para participar nas Olimpíadas sob a bandeira americana, este imigrante romeno falsificou sua certidão de nascimento. Ele foi o primeiro nadador a ficar abaixo de um minuto na prova dos 100m livre e conquistou cinco medalhas de ouro na capital francesa.

Ao longo de sua carreira, estabeleceu 28 recordes mundiais, incluindo as 100 jardas livres (1927), vigentes há 17 anos. Foi graças a Weissmuller que a natação se tornou o segundo principal esporte olímpico, atrás apenas do atletismo. 

Depois de sua carreira na piscina, passou a brilhar nas telas de cinema, interpretando Tarzan em uma dezena de filmes.

Gastou toda sua fortuna com pensões alimentícias — teve cinco casamentos — e negócios falidos, até trabalhar como vendedor de piscinas pré-fabricadas e cair no alcoolismo, assim como seu pai, que morreu quando Johnny tinha 10 anos.

O fim de sua vida foi em um hospital psiquiátrico.

Betty Robinson, a ressuscitada 

Primeira campeã olímpica dos 100m rasos, continua sendo a mais jovem a conquistar o título nesta prova. Quando disputou a final olímpica em Amsterdã-1928, a americana tinha apenas 16 anos e já brigava por sua quarta prova. 

Após diversas largadas falsas que provocaram a desclassificação de alguns participantes, Betty Robinson venceu com tempo recorde de 12,2s, alguns centímetros à frente de duas corredoras canadenses.

Foi sua professora que, ao vê-la correndo atrás do trem, a incentivou a praticar o atletismo. Em sua segunda competição, pouco antes das Olimpíadas, bateu o recorde mundial com um tempo não aprovado. 

Em 1931, ela foi declarada morta em um acidente com um bimotor, mas durante seu funeral, perceberam que na realidade... ela ainda estava viva! A corredora ficou em coma por sete meses.

Uma perna quebrada, um braço esmagado e outras contusões graves a impediram de retomar os treinos. Em 1936, participou dos Jogos de Berlim, mas as consequências da fratura, que a impediam de dobrar o joelho, a deixaram fora dos 100m. Robinson, entretanto, correu o revezamento 4x100m, prova em que conquistou o ouro.

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