O presidente da Colômbia, Gustavo Petro -  (crédito:  Juan Pablo Pino/AFP)

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro

crédito: Juan Pablo Pino/AFP

BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) - O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, propôs nesta sexta-feira (15) mudar a Constituição do país diante da negativa do Congresso, de maioria opositora, de avançar na aprovação de ambiciosas reformas propostas pelo governo.

 

"Se as instituições que hoje temos na Colômbia não são capazes de estarem à altura das reformas sociais que o povo decretou através de seu voto, então a Colômbia tem que ir para uma Assembleia Nacional Constituinte", disse Petro, durante uma mobilização de indígenas que o apoiam em Cali.

 

É a primeira vez que Petro sugere modificar a Carta Magna. Ele também pediu a seus eleitores que saíssem às ruas para pressionar o Congresso. "A Colômbia não tem que se ajoelhar, o triunfo popular de 2022 se respeita."

 

Após a fala do esquerdista, a oposição reagiu afirmando que Petro está determinado a passar por cima das instituições para aprovar as medidas.

 

No poder desde agosto de 2022, o presidente mira principalmente alterações no sistema de saúde, de pensões, prisional e trabalhista --esta última não passou em junho no primeiro debate na Câmara por falta de quórum.

 

O congressista Hernán Cadavid, do partido de direita Centro Democrático, classificou os planos de Petro de "perigosos". "Ele fará o que for preciso para desestabilizar este país e se manter no poder", escreveu na rede social X.

 

No início de março, milhares protestaram nas maiores cidades colombianas contra as reformas propostas pelo governo e a insegurança crescente. Manifestantes na capital, Bogotá, gritavam "Fora, Petro".

 

"São reformas desastrosas para o nosso país que vão levar a Colômbia ao buraco. É por isso que estamos aqui", disse o deputado Miguel Polo Polo à Reuters durante o ato.

 

O governo quer reduzir a participação da iniciativa privada na prestação de serviços de saúde e no pagamento de pensões, além de ampliar benefícios a trabalhadores.

 

Em menos de dois anos de gestão, a ambição de Petro com as propostas tem sido proporcional aos percalços na aprovação delas.

 

Petro começou o governo com o apoio da esquerda e de alguns partidos tradicionais no Congresso, mas viu a coalizão se desmanchar com o tempo. Com menos de nove meses no cargo, o presidente pediu a renúncia de todo seu gabinete e trocou ministros, nessa que foi a primeira grande crise de seu mandato e expôs as rachaduras da coalizão para a aprovação das reformas.

 

Há também escândalos no próprio governo. Áudios vazados supostamente de seu ex-chefe de campanha, Armando Benedetti, reclamando com a então chefe de gabinete, Laura Sarabia, de tratamento recebido e ameaçando revelar um suposto financiamento ilegal de campanha atingiu em cheio o governo.

 

Mais tarde, Benedetti disse que os áudios foram manipulados e pediu desculpas. Diante da confusão, no entanto, a Câmara Baixa (uma das casas do Parlamento colombiano) anunciou a suspensão dos debates sobre as reformas.

 

Nesse meio tempo, o filho de Petro, Nicolás, foi preso e acusado de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito; a ex-mulher de Nicolás havia denunciado que a campanha de Petro fora financiada com dinheiro do narcotráfico.

 

O presidente colombiano tenta ainda negociar com as guerrilhas que restam no país. Seu plano de "paz total" tem conversado com grupos como o Exército de Libertação Nacional (ELN), mas as negociações andam a passos lentos.

 

No fim de fevereiro, a guerrilha declarou um "congelamento" dos diálogos e falou em crise aberta nas tratativas, alegando que o acordo com o governo colombiano foi violado.

 

Sem dar detalhes, a guerrilha questionou alguns "diálogos regionais" no departamento (estado) de Nariño , anunciados em 18 de fevereiro pelo governador local.

 

"Tendo pactuado um processo nacional, [o governo] agora monta um diálogo regional em Nariño fora desse processo nacional e desconhecendo a delegação do ELN e a mesa onde participa a comunidade internacional", diz o texto. O conflito armado de décadas na Colômbia atingiu quase 10 milhões de pessoas, entre deslocados pela violência, mortos e feridos.