Um menino palestino caminha sobre os escombros de um prédio atingido em um ataque israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, neste domingo 10.   -  (crédito: MOHAMMED ABED / AFP )

Um menino palestino caminha sobre os escombros de um prédio atingido em um ataque israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, neste domingo 10.

crédito: MOHAMMED ABED / AFP

O Exército israelense voltou a bombardear a Faixa de Gaza neste domingo (10), deixando dezenas de mortos às vésperas do ramadã e em um contexto de mobilização internacional para enviar ajuda humanitária à população à beira da fome.

Um primeiro navio carregado com ajuda humanitária está pronto para zarpar de Chipre, no âmbito de um corredor marítimo humanitário anunciado pela União Europeia, rumo ao território palestino assolado pela fome após mais de cinco meses de guerra entre Israel e o grupo islamista Hamas.

Às vésperas do ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos que começa neste domingo ou na segunda-feira (11), dependendo do calendário lunar, nada parece indicar que será alcançado um acordo de trégua para este conflito, que até agora deixou 31.045 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Hamas.

De acordo com autoridades do grupo islamista, no poder em Gaza desde 2007, pelo menos 85 palestinos morreram nas últimas 24 horas em mais de 60 bombardeios noturnos no centro e sul deste território, sobretudo em Khan Yunis.

Pelo menos 13 pessoas foram mortas por uma bomba que caiu sobre tendas de deslocados em Al Mawasi, entre Khan Yunis e Rafah, disse o Ministério da Saúde do Hamas. 

O Exército israelense relatou cerca de 30 combatentes palestinos mortos nas últimas horas no centro de Gaza e em Khan Yunis.

O conflito eclodiu após o ataque do Hamas em 7 de outubro, cujo ataque sem precedentes matou cerca de 1.160 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses.

Além disso, cerca de 250 pessoas foram sequestradas. Israel afirma que 130 ainda estão retidas em Gaza, das quais 31 estariam mortas.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e impôs um cerco "total" a Gaza desde 9 de outubro, provocando uma catástrofe humanitária no território. Segundo a ONU, 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes estão à beira da fome.

- Alimentar com água -

Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, 25 pessoas, a maioria crianças, morreram de desnutrição e desidratação. 

"Eu alimento minha filha com água, água, para que ela não morra. Não tenho escolha", conta a mãe Barak Abhar, com seu bebê chorando em seus braços, na cidade de Gaza.

Israel permite que uma escassa ajuda humanitária entre no território procedente do Egito, que está com a fronteira fechada. 

Diversos países ocidentais e árabes têm lançado pacotes aéreos com alimentos e suprimentos médicos.

Na sexta-feira, União Europeia e Estados Unidos, principal aliado de Israel, anunciaram que estão preparando um corredor marítimo que permitirá o transporte de ajuda à Gaza saindo de Chipre, localizado a cerca de 370 quilômetros.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou no mesmo dia que uma primeira embarcação com 200 toneladas de comida seria levada por duas ONGs a partir do porto de Lárnaca neste domingo.

As autoridades israelenses, que autorizaram a operação, estão inspecionando a carga, disse no sábado (9) Laura Lanuza, porta-voz da ONG espanhola Open Arms, que trabalha neste projeto em conjunto com a ONG americana World Central Kitchen (WCK), fundada pelo chef espanhol José Andrés.

A WCK, por sua vez, "já tem pessoas em Gaza" e está "construindo um cais" para poder descarregar a ajuda no território bombardeado, acrescentou. 

- Mais prejudica do que ajuda -

Um navio de apoio logístico do Exército americano deixou o país com material para instalar um cais temporário em Gaza. Sua construção pode levar cerca de 60 dias, segundo o Pentágono. 

A ONU, que alertou que a fome generalizada é "quase inevitável" no território, insiste que as entregas de ajuda por via aérea ou marítima não podem substituir as entregas terrestres.

Esta ajuda passa por Rafah, na fronteira com o Egito. Segundo a ONU, cerca de 1,5 milhão de pessoas estão aglomeradas nesta localidade, a grande maioria está deslocada e vive em condições precárias, em busca de alimentos e água.

No sábado, o presidente americano, Joe Biden, voltou a criticar o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmando que o premiê "prejudica mais do que ajuda Israel".

Ele "tem o direito de defender Israel, o direito de continuar perseguindo o Hamas", disse Biden à emissora MSNBC, mas acrescentou que é preciso "prestar mais atenção às vidas inocentes que estão sendo perdidas como consequência das ações tomadas".

Netanyahu também está sob forte pressão em seu país, onde uma parte da opinião pública exige um acordo de trégua para libertar os reféns.

Milhares de pessoas se manifestaram no sábado na cidade israelense de Tel Aviv para exigir a saída do governo e o retorno dos reféns. "Eleições! Já! Agora!" e "Que vergonha para o governo!", gritavam a multidão.

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