Elon Musk -  (crédito: Frederic J. BROWN / AFP)

Elon Musk

crédito: Frederic J. BROWN / AFP

AUSTIN, EUA (FOLHAPRESS) - Elon Musk parou a festa de uma série da Amazon no festival South by Southwest, na noite abafada da última quinta-feira (7), em Austin.

 

Não teve quem não deixasse de lado os cookies veganos do coquetel de "Fallout" para tirar fotos de longe daquele homem alto, de camiseta preta e barriga protuberante, que chegou do nada no cenário de ruína urbana e metal retorcido montado para divulgar o novo seriado do Prime Video, baseado num jogo de videogame.

 

 

Musk entrou com três seguranças que não deixavam ninguém chegar perto dele, conversou com o diretor da série, Jonathan Nolan, bebendo um drinque atrás do outro, e saiu 40 minutos depois sem fazer selfies com o público.

 

A postura de estrela pode ser condizente com um dos homens mais poderosos ?e detestados? do mundo, mas ela foi a oposta da atitude amigável de Post Malone. Na sexta (8), o rapper, talvez tão popular quanto o dono da Tesla e do X, conversava e tirava fotos com todos durante a festa de lançamento de "Roadhouse", filme que estreia no Prime Vídeo dia 21.

 

Nada disso, vale notar, aconteceu na Los Angeles da véspera do Oscar, mas sim na capital do Texas, que até o próximo dia 16 tem estreias de filmes e séries no South by Southwest. Além de estrelas do cinema e da TV, o festival conhecido como SXSW atrai dezenas de milhares de pessoas para verem shows de bandas pouco conhecidas e uma infinidade de palestras.

 

Às centenas, as palestras acontecem num centro de convenções na região central da cidade que, embora bem conservado, tem uma cara de décadas passadas. Pelos corredores do Austin Convention Center circulam pessoas de mais de cem países ?segundo a organização do festival, 30% do público é estrangeiro, e os brasileiros são a maior comunidade internacional, de modo que nos hotéis ao redor se ouve bem mais português do que inglês.

 

São profissionais de mercado vindos da Faria Lima e gente descolada de áreas criativas como produção de conteúdo, publicidade e vídeo, todos com MacBook a tiracolo em busca de contatos num ambiente que estimula a autopromoção e o uso de jargões corporativos.

 

"É uma jornada que promete desafiar nossas percepções, expandir nossos horizontes e nos conectar com mentes brilhantes de todo o mundo", diz Lucas Garbulha, diretor de planejamento da agência de propaganda Nova e que participa pela primeira vez do festival.

 

O SXSW, que existe desde 1987, fez sua fama como um festival de tecnologia e inovação, e a apresentação anual da futurista Amy Webb ainda é uma das palestras mais concorridas. Contudo, o extenso cardápio de assuntos do evento abrange todo tipo de tema contemporâneo ?preservação da Amazônia, a questão indígena, saúde mental, psicodélicos, diversidade sexual, representação de raça na arte, enfim, tem para todo mundo.

 

Por exemplo, a primeira conversa do festival, na sexta-feira, reuniu a premiada poeta americana Ada Limón e Lori Glaze, profissional da Nasa que trabalha com naves. A inesperada combinação de palestrantes era para anunciar que um poema de Limón será enviado para uma lua de Júpiter ?os versos foram gravados numa placa de metal, mostrada para o público, que será alocada numa espaçonave.

 

O que une a poesia e a exploração do espaço é a curiosidade, disse Limón, seja para quem escreve os versos ou para os leitores. "O que nós fazemos como artistas é abraçar o mistério e nos rendermos ao desconhecido", afirmou a poeta, aplaudida diversas vezes durante a sua fala para as mais de 2.000 pessoas que lotavam uma das maiores salas do centro de convenções.

 

A mistura de públicos e de temas do SXSW torna o festival uma ilha progressista num estado trumpista governado por um republicano. Na curta apresentação de abertura, o diretor de programação, Hugh Forrest, afirmou que o SXSW acredita na diversidade sexual, de gênero e de nacionalidades, e que a ideia do evento é estimular a criação de comunidades.

 

Enquanto no centro de convenções a elite intelectual de vários países discutia os valores de um mundo ideal, a duas quadras dali um morador de rua dormia nos degraus da porta de um bar que ficou aberto até tarde da noite servindo os frequentadores do festival. Outro, maltrapilho, vagava pela calçada olhando para o nada com todos os seus pertences num carrinho de supermercado.

 

O jornalista viajou a convite do Prime Video