Engenheiro do Google protestou contra Projeto Nimbus, que fornece serviços em nuvem para militares e governo de Israel
 -  (crédito: Reprodução / X / Caroline Haskins)

Engenheiro do Google protestou contra Projeto Nimbus, que fornece serviços em nuvem para militares e governo de Israel

crédito: Reprodução / X / Caroline Haskins

O diretor-gerente do Google Israel, Barak Regev, teve que encerrar mais cedo sua conferência sobre tecnologia israelense após ser interrompido por um engenheiro da empresa. A jornalista Caroline Haskins acompanhou o momento e divulgou as imagens do ocorrido nessa segunda-feira (4/3), em nova York, nos Estados Unidos.

Regev apresentava iniciativas tecnológicas de Israel e chegou a afirmar que há falta de consenso político entre os trabalhadores que ajudam a construir as ferramentas para o governo israelense. Foi então que um engenheiro do Google Cloud, que não quis se identificar, interrompeu a conferência. “Sou engenheiro de software do Google Cloud e me recuso a construir tecnologia que impulsione o genocídio e o apartheid”, gritou, se referindo ao Projeto Nimbus, iniciativa em nuvem que custou US$ 1,2 bilhão e envolveu Google, Amazon e o governo israelense. Segundo o site The Intercept, o Nimbus pode ser utilizado no serviço da vigilância, especialmente na ocupação da Cisjordânia por Israel.


“O Projeto Nimbus coloca os membros da comunidade palestina em perigo! Recuso-me a construir tecnologia que será usada para o apartheid na nuvem. Não há tecnologia para o apartheid! Parem o genocídio!”, se manifestou antes de ser retirado pela segurança do local.

Ao site Hell Gate, ele disse que espera que seu comportamento estimule outros engenheiros a se manifestarem. “Não vejo nenhuma maneira de continuar meu trabalho de engenharia sem fazer isso. Considero isso parte do meu trabalho de engenharia e espero que outros engenheiros da Cloud me vejam fazendo isso, e espero que isso os estimule", afirmou.

Após a retirada do engenheiro, Regev retomou o discurso. “Parte do privilégio de trabalhar em uma empresa que representa os valores democráticos é dar espaço para opiniões e comentários diferentes. E meu perdão e sinto muito por você ter que vivenciar isso como parte de nossa complexidade interna no Google, mas isso faz parte da realidade”, disse, se referindo aos convidados da conferência.

Cerca de um minuto depois, ocorreu uma segunda interrupção, dessa vez por uma mulher chamada Ilana, organizadora do grupo israelense anti-sionista Shoresh e do Jewish Voices for Peace. “Google é cúmplice do genocídio!”, gritou. Ilana foi empurrada por outra mulher e também foi retirada pelos seguranças.

“Quero agradecer sua presença e sua audiência, e desculpe pela interrupção”, disse Regev, antes de sair do palco.

As manifestações foram organizadas pela No Tech for Apartheid, uma campanha nacional composta por trabalhadores da tecnologia, na sua maioria empregados pela Google ou pela Amazon. O Projeto Nimbus é um dos principais focos da campanha. Em 2021, um grupo de quase 400 funcionários publicou uma carta aberta expressando sua oposição ao Projeto Nimbus.

Zelda Montes, engenheira de software do YouTube, segurava um banner do lado de fora do prédio da conferência. Cerca de 40 pessoas se reuniram enquanto os dois manifestantes interrompiam o discurso. Ao Hell Gate, ela declarou que a ação tem o objetivo de inspirar os trabalhadores da Google a agir em vez de aceitar o status quo como um dado adquirido. “Não temos de conviver com qualquer tipo de genocídio – isso não é algo que tenhamos de admitir. E definitivamente temos mais poder de trabalho do que acho que as pessoas imaginam”, disse.

Após as interrupções, a jornalista Caroline Haskins foi retirada do local por seguranças. Ela questionou à empresa o motivo para tal ação, mostrando suas credenciais de repórter. Mas não obteve resposta.

Conflito

O conflito na Faixa de Gaza começou em 7 de outubro de 2023, quando integrantes do Hamas invadiram o território israelense, mataram mais de 1200 pessoas e fizeram 253 reféns. Em resposta, Israel lançou semanas depois uma ofensiva pesada sobre o território vizinho, que dura até o momento. Segundo informações do Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao Hamas, há mais de 30 mil mortos.