Quase um ano depois da prisão na Rússia do jornalista americano Evan Gershkovich, acusado de espionagem, os seus pais contam mais do que nunca com o compromisso "muito pessoal" do presidente Joe Biden em levá-lo de volta para casa.

O governo dos Estados Unidos acredita que Gershkovich foi preso "injustamente" enquanto estava em serviço e está em negociações para libertá-lo em uma troca de prisioneiros com Moscou. O jornalista, correspondente do The Wall Street Journal, rejeitou categoricamente as acusações de espionagem. 

Em uma reunião com a sua família em abril do ano passado, Biden "assumiu um compromisso muito pessoal e muito forte de trazer Evan para casa, o que tem sido muito importante para nós", disse esta semana durante uma entrevista à AFP Mikhail Gershkovich, pai do jornalista, na cidade americana de Filadélfia (nordeste). 

Gershkovich, de 32 anos, foi preso em março de 2023 na cidade de Yekaterinburg, na região dos Urais, enquanto fazia uma reportagem.

O presidente Vladimir Putin manifestou a sua vontade de libertá-lo em troca de Vadim Krasikov, um russo condenado à prisão perpétua em 2019 na Alemanha pelo assassinato de um opositor checheno em um parque de Berlim. 

No entanto, os esforços para libertar Gershkovich se estagnaram após a morte na prisão do líder da oposição russa Alexei Navalny que, segundo a sua equipe, estava incluído nas negociações para uma troca de prisioneiros. 

Seus pais, imigrantes judeus da antiga União Soviética, tentam manter a esperança apesar da angústia e da dor. "Não temos alternativa. Temos que ser fortes, fortes por Evan", disse sua mãe, Ella Milman.

- Entre dois mundos -

Ella e Mikhail criaram Evan e sua irmã mais velha, Danielle (34), em um ambiente russo. A família falava russo, comia pratos russos, assistia a desenhos soviéticos e, para evitar o azar, não se podia assobiar dentro de casa. 

"Navegamos entre dois mundos", contou Danielle, entrevistada em seu apartamento na Filadélfia. "É sobre aquela sensação de que quando você vai para a escola você está nos Estados Unidos e quando volta para casa você está em outro lugar".

Ansioso por compreender o país de origem dos seus pais, Evan mudou-se para a Rússia em 2017 para trabalhar no jornal de língua inglesa The Moscow Times.

Na Rússia, Evan cobriu política e também trabalhou em outras questões, como a luta para preservar uma língua indígena em risco de desaparecimento ou a morte em massa de peixes em um rio siberiano. Depois de uma passagem pelo escritório da AFP em Moscou, Evan foi contratado pelo The Wall Street Journal. 

Se condenado, Gershkovich poderá pegar até 20 anos de prisão. Ele é o primeiro jornalista ocidental acusado de espionagem desde o fim da União Soviética. O governo russo não apresentou quaisquer provas contra ele nem marcou uma data para o julgamento.

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