O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, se justificou nesta sexta-feira (23) por ter vazado o número de telefone de uma jornalista do jornal The New York Times, que publicou uma reportagem sobre supostos vínculos de pessoas próximas a ele com narcotraficantes.

López Obrador leu o número, na quinta-feira, durante sua habitual coletiva de imprensa, enquanto revelava um questionário enviado a ele pelo veículo americano para a matéria. O ato motivou uma investigação da entidade encarregada da proteção de dados, assim como críticas do jornal e de organizações de defesa da liberdade de imprensa.

“Não pode haver nenhuma lei acima de um princípio sublime que é a liberdade”, argumentou o presidente nesta sexta, quando lhe perguntaram se a divulgação do número não seria uma violação das normas de proteção de dados pessoais. Em sua opinião, deve prevalecer a transparência.

“O que acontece quando essa jornalista está me caluniando? Está vinculando a mim e minha família [com o crime organizado] sem provas”, defendeu-se López Obrador, confrontado por um setor da imprensa que ele acusa de servir a interesses privados.

The New York Times afirmou, na quinta, que o vazamento representa uma “tática preocupante e inaceitável [...] em um momento em que as ameaças contra os jornalistas são crescentes”.

Nesta sexta, organizações defensoras da liberdade de expressão criticaram o fato de que o presidente mexicano não pediu desculpas.

López Obrador “disse explicitamente hoje que as leis no país não se aplicam a ele, que a violação delas por parte dele é intencional e que não se importa com as consequências para o exercício dos direitos fundamentais”, escreveu no X (antigo Twitter) Jan-Albert Hootsen, representante no México do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

O presidente “deveria se desculpar com a jornalista”, declarou na televisão Milenio Balbina Flores, porta-voz do Repórter Sem Fronteiras (RSF), depois de ter classificado o episódio na quinta como uma “represália”.

De acordo com The New York Times, uma pesquisa de funcionários americanos "descobriu informações que apontavam possíveis vínculos entre poderosos operadores dos cartéis e funcionários e assessores próximos" a López Obrador antes de ele se tornar presidente e já no poder.

No entanto, destacou que "os Estados Unidos nunca abriram uma investigação formal sobre o governante mexicano, e os funcionários que estavam conduzindo a investigação acabaram a arquivando".

jg/axm/llu/ic/mvv