A Polícia Federal (PF) realizou buscas nesta quinta-feira (25) em endereços ligados ao ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo de Jair Bolsonaro, como parte de uma investigação sobre espionagem ilegal em favor do ex-presidente e de seu círculo íntimo.

A PF informou que executou ordens de busca e apreensão contra 12 suspeitos, entre eles o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, que agora é deputado federal pelo Partido Liberal de Bolsonaro.

As buscas foram autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, que seria um dos alvos da espionagem. 

"A Polícia Federal identificou a existência de uma organização criminosa com intuito de monitorar ilegalmente pessoas e autoridades públicas sem autorização judicial", disse o STF em nota.

A PF informou que executou ordens de busca e apreensão em 21 locais em Brasília, Minas Gerais e no Rio de Janeiro, onde Bolsonaro apoia a candidatura de Ramagem à prefeitura nas eleições de outubro.

As diligências "indicam que o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal", acrescentou a PF em nota. 

Segundo os relatórios, os investigadores alegam que a Abin usou o programa de vigilância israelense conhecido como FirstMile, que rastreia dados de geolocalização de dispositivos móveis, para espionar centenas de políticos e personalidades durante o governo Bolsonaro.

Entre os alvos da espionagem estavam, além de Alexandre de Moraes, o ministro do STF Gilmar Mendes, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (PSDB-RJ) e o então governador do Ceará, Camilo Santana (PT-CE), atual ministro da Educação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- 'Pura perseguição' -

Ramagem, 51 anos, disse que a PF levou computadores e telefones celulares de sua residência em Brasília. Ele negou que o FirstMile tivesse sido utilizado indevidamente durante a sua gestão para rastrear o paradeiro de supostos adversários de Bolsonaro e seus filhos. 

"Essa ferramenta é legal dentro da Abin, sua utilização é legal. Foi vendida a diversas instituições no Brasil, inclusive estaduais. Por que não estão sendo apuradas lá?", disse Ramagem em entrevista à GloboNews. 

O líder do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, chamou a investigação de "perseguição" contra Bolsonaro e seu partido. "Isso é pura perseguição e pode acabar elegendo o Ramagem com mais facilidade (como prefeito) no Rio de Janeiro", disse o político em comunicado. 

As operações de espionagem também teriam como objetivo ajudar a preparar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das "rachadinhas".

Ramagem reconheceu que tinha uma relação próxima com Flávio Bolsonaro, mas disse que qualquer atividade da Abin relacionada com os filhos de Bolsonaro se restringia ao papel da agência de proporcionar segurança à família presidencial. 

Sete agentes da PF foram afastados do exercício de seus cargos por suspeita de envolvimento no esquema de espionagem ilegal, detalhou a polícia.

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