O empresário Alex Saab, apontado como "laranja" do presidente Nicolás Maduro, falou nesta quinta-feira (29), em um podcast com o líder venezuelano, sobre as "torturas" e maus-tratos que sofreu durante mais de três anos enquanto esteve detido entre Cabo Verde e os Estados Unidos.

"A tragédia começa na segunda noite (em Cabo Verde): golpes, eu cheguei a ter quase todo o corpo roxo, cortaram meus braços (...) me jogavam álcool, água, colocavam a lâmpada no meu rosto", narrou Saab, libertado na semana passada em uma troca por "presos políticos" entre a Venezuela e os EUA.

"Quebraram três dentes meus (...), me bateram muito forte", continuou Saab, preso em junho de 2020 em Cabo Verde e extraditado para os Estados Unidos em outubro de 2021, para ser julgado por acusações de lavagem de dinheiro.

O empresário era responsável pela importação de alimentos do programa governamental conhecido como CLAP, no qual se alegava existir uma rede de corrupção.

No entanto, o governo venezuelano sempre negou as acusações e, pelo contrário, classificava Saab como um "herói" que trazia alimentos para o país em meio às sanções dos Estados Unidos.

Saab sofreu "torturas" por vários meses, segundo suas declarações, por não contribuir com informações sobre as rotas dos navios que levariam medicamentos e alimentos para a Venezuela.

Os maus-tratos acabaram em outubro de 2020, quando a direção da prisão foi destituída após a visita de um grupo de direitos humanos não identificado, confirmou o empresário.

Ele conta que passou meses em uma cela escura e que os oficiais da prisão pediam para ele utilizar um balde como banheiro.

O que aconteceu na sequência foi uma "pressão psicológica", de acordo com Saab, que também denunciou ter recebido ameaças de morte.

Ele não detalhou sua prisão nos Estados Unidos após a extradição, mas afirmou que dois dias antes de sua libertação, ele foi trancado em uma cela de vidro de "3x3" metros sem receber alimentos ou água.

A cela "tem uma maca no meio, você se deita na maca, a temperatura é terrível, eu acho que -10 graus (Celsius), eu tremia, havia lâmpadas sobre o rosto", disse.

Com mediação do Catar, a libertação de Saab foi resultado de uma negociação "olho no olho" que aconteceu no país árabe, segundo o chefe da delegação do governo venezuelano nas conversas, Jorge Rodríguez.

Sua libertação ocorreu simultaneamente, também, às negociações entre a oposição e o governo venezuelano, onde os Estados Unidos são um fator chave.

Os contatos começaram em maio e, conforme Saab indicou, o acordo para a troca foi assinado cinco dias antes de sua libertação, em 20 de dezembro.

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